domingo, 3 de novembro de 2013

Silhuetas

O céu dos Açores é azul
Casas brancas com janelinhas
Pespontam o mar da minha Terra
Barcas flutuam no mar azul
Sobrevoam gaivotas vestidas de tule
Tons brancos e cinzentos e as nuvens,
Asas e danças dali ao infinito
Silhuetas, sei lá de quem, vagueiam
O mar,
Ondas agitadas cegam olhares
As promessas incertas navegam
Decerto ficam a morar no firmamento
Envergonhadas como almas devedoras!
Nos vales dos céus, eu vivi um dia
Era imenso o espaço com açucenas e Paz
Havia um manto azul que me cobria
Também harmonia e o Deus capaz,
À porta do céu estava uma barca, alva,
Trazia mil silhuetas, sei lá quem eram,
Chuva de açucenas e asas imensas
Aromas e cânticos, seus prantos calaram.

Ofélia Cabaço


2013-11-01


 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A tua Voz

Queria tanto ser artista
Pisar o palco para ti
Contar emoções que senti
Nos sonhos em que foste altruísta

Fala meu amor, tu existes,
No meu palco nunca te ouvi
Oiço cânticos nas noites tristes
É a cotovia que me desperta

E o vento que me faz bater o coração
Sussurra, como quem me enlouquece!
Num retumbante de ilusões e quimeras
Aperto os lábios trémulos, recordação,

Minha alma desinquieta, a cismar
Oro à deusa dos rios e do mar
Peço-lhe cascatas das suas águas
Num turbilhão de sons e música

Canções cristalinas e lembranças tuas,
E a tua ausência que me torna tísica,
Passa por mim e a minha dor transporta
À noite dorme na soleira da tua porta

Como uma douda insiste na minha doudeira
As cortinas descem, no silêncio costumeiro
A tua voz balbucia palavras dissolúveis
Sozinha no palco como um romeiro,
Vislumbro caminhos voláteis.



Ofélia Cabaço


2013-11-02


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ironia

Três pedrinhas muito juntas,
Na beira dum penhasco viviam
Havia um caminho vão, vinham e iam
As três uma união, forças muitas,

Arrastada por intempéries
Juntou-se outra pedra, negra e barbárie
Fortes vendavais,
Tumultos que levais

Conflitos e tormentas,
Gerou a pedra com suas ventas,
Alterou bonança para discórdia
Junto ao penhasco a alegria não medrara
Os pássaros roucos pararam a melodia
Rebolou-se atrevida nas pedras, a pedra

Com um olhar sem cor, fitava
Observava e desafiava, na beira do penhasco!
Silêncio, pedras mil, naquele ermo sem fim
Um rebanho, no silêncio, fazia tlim-tlim
Apanhou a pedra o pastor atirou-a para longe
Não fora sequer carrasco, antes, distraído
A pedra à beira do mar, ânimo traído
O mar imenso com branco babete
Vomitou espuma com ginete
Levou a pedra para o fundo, muito fundo,
Daquele mar com ondas p´ra contar!

 

Ofélia Cabaço

2013-10-28


 


 


 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Imensa é a Planície

Planície perdida, quem sóis?
Em ti moram girassóis
Chorosos, olhos negros e coração
Cabeleira doirada, um condão
Suas pétalas sedentas, o calor!
Ao sereno, caem preguiçosamente,
Uma a uma, discretamente,
Quietude, sossego da alma
Como água serena das fontes
Ouvem-se de muito longe, as vozes
Todas as noites, e de dia, às vezes,
Uma quietude embaraçosa, fugidia,
Trémula, esquecida da luz  do dia
A planície, vestida de viúva
Ébria de húmidos aromas
Agoniza, sensual como as damas
Chamas que se somem na ardura
Dum sonho incerto que perdura
Quem és planície?
Sou enfim, o abraço d´agonia,
Responde o poeta ressuscitado!

 

Ofélia Cabaço
2013-10-25

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dantes

A joaninha vermelha
Aquela que não tinha pinta
Resoluta, saiu da telha
Trabalhou na horta verdejante
Cuidou plantas, evitou pragas
Floresceram nabos, cravos e bagas
Vigiou, acarinhou, a lealdade
Não a tornou uma beldade
 E, a horta? -  tão abundante!
Pujança e riqueza de Dante
Dedicada foi a joaninha,
Confraternizou com formiguinhas
Reflexo de imagem briosa
Acordava nas manhãs  manhosas
Num despertar mansinho
O  Sol, brilhava no caminho
Lá ia a joaninha sonhadora
Passo aqui, ajuda ali, a hora
Premiada foi p´la natureza
Não fora coroa nem louro,
A dedicação com certeza,
Envolta de Paz, eterno ouro!

 Ofélia Cabaço -2013-10-

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Regresso

Na minha porta ouvi bater
Breve alegria, escutei!
Senti alvoroço no meu coração,
Pois sorte havia de ter

Instantes demorados, estranhei
Quem é? Perguntei curiosa
Respondeu-ma uma voz penosa
Sou eu, - a tua alma!

Quão viajada esta minha alma
P´la vida tão austera
Abri a porta, balbuciei
Alma minha, sê Primavera!

Planta alegrias no meu jardim
Malmequeres brancos, desfolhei
A meus pés, pétalas e jasmim
Serenatas ao luar, escutei.

 

Ofélia Cabaço  

2013-10-22

 

 

domingo, 20 de outubro de 2013

Vago

Deixou-me aqui o vento
Esquecida neste canto, vislumbro
Montanhas e florestas, entretanto,
Falo-te de afetos com assombro

Neste silêncio a tua voz é calma
Vagueia como destino nevoento
Oiço expectante o meu pensamento
Que me aconselha sossegar a alma

És um judeu errante, peregrino,
Aquele que sabe e não tem tino
Sei que o vento te sussurra
Que o meu sorriso é teu, sou terra,

Dela nasci, e o nosso amor também,
Sinto que nesta colina, sou ouvida
À noite as nuvens descansam, amém,
P´la madrugada, clareiam a minha vida

Tu que és impassível e me estimas
Não saltas, não sorris, não me animas
Eu, muda, soturna, desejo-te!
Meus cabelos branqueiam,

Tu és as minha rugas,
Nossas vidas húmidas de calor
Lagos a fluir águas e ardor
Chamas que amansam nossas brigas.

 

Ofélia Cabaço   2013-10-20

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Papel e Tinta

Uma folha vazia de letras
Sem qualquer sentido….
Como quem espera uma disputa
Jaz moribunda de cansaço,
O tinteiro azul de aparência
Secou a sede da sua essência
A escrita viajou, sem piedade
Deixou silêncio e inspiração
Tudo permanece sobre a mesa,
O vento folhas leva, sôfrego!
Gemem as árvores despidas
Uivos de esfomeados lobos
Ecoam da floresta a casa,
Aonde houvera flores e amores
Apenas sombras vagueiam
O vazio, e a folha, e o tinteiro
A solidão, inspiradora, lúcida,
O amor, a poesia e os anseios
Suores, humidade e frio
Os medos (…)
A mesa despida de esperanças
E a vida que dorme, imune,
Aos caminhos da injustiça
Às intempéries dos Invernos
Até que acorde numa manhã
Radiosa com risadas compostas;

 

Ofélia Cabaço,  2013-10-17

 


 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Inspiração

Inspiração não me atormentes
Fingindo abandonar-me nos dias
Sabedora que és e não mentes
Que minha vida sem ti é vazia

Tu, inspiração que me acordas de repente

E me levas exultante e transparente
Contigo as colinas abraçam a primazia
Da minha essência volátil

És a junção dum sonho subtil e,

Minha confidente nos voos mais altos
À beira de castelos pintados
Me embalas dolorosamente

Roçando meus trapos vaporosamente,
Inspiração não me atormentes, tenho frio!
Não me faças recear a tua perda
Serei uma louca criadora contigo

Poetizarei às flores nas colinas

Sorverei a beleza das ninfas
Tocarei a teu lado o colorido
Do elevado Sol candente

Pintarei do cinzento ao garrido

Avistarei a saudade de ti
Não, não me deixes oh inspiração!
Não tornes os meus dias em aflição!

 Ofélia Cabaço  2013-06-18


 


 

À Beira do Caminho,

Denso foi o nevoeiro que fez das montanhas catedrais
Lá longe, muito longe, timidamente, espreita a claridade
Poisa palidamente, transforma as vidraças em cristais,
Surge a esperança, lastimosa, já sem idade,
Respingou gotas de orvalho na minha triste saudade
A esperança, que não se cansa de me enganar (..)
Um dia conversei com a vida, despedi-me com desolação
Mas a vida deu-me abraços de fingida consolação
Sentei-me à beira do caminho e refleti impossíveis,
O vento deu-me beijos, afagos, e amizades aprazíveis
A Lua presenteou-me com sonhos e quimeras,
Acordei na calçada, e nada tinha do que eras!

 
Ofélia Cabaço  2013-10-09

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Vaivém

Entre as ramagens da magnólia
Espreita o Sol à despedida,
Todo santo dia aqueceu à medida
Com generosidade iluminou à revelia

Devagar, devagarinho, ele vai
Com promessa de voltar, é honrado!
Vou dizer um segredo, escutai:
Quem dera que o Sol fosse namorado,

Que se despedisse e voltasse,
Que voltasse e se despedisse!
Com a certeza que me amava
Eu esperaria enquanto dava

Oh! Sol, majestoso e encantador
Traz-nos novas dos teus deuses,
Vem doirar a Terra com ardor
Abandonar-nos não ouses,

Sol, mistério doutras eras
Pintor de amendoeiras,
Adormece papoilas nas searas
Alegra os ninhos nas eiras.

 

Ofélia Cabaço  2013-10-04

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Altar

Procurei no mar um diamante
Buscas profundas eu fiz,
Encontrei estrelas trementes
Ao lado do que eu desfiz,

Abracei algas, bebi magia
Em cálices que se partiram
Flutuei como quem fugia,
Duma ilusão entorpecida.

 

Ofélia Cabaço 2013-10-01

 


 


 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Não fora Visão

Nada dum amor tinha sobrado
Daquele dia cinzento e orvalhado
Depois, irónico, surge outro dia cinzento
Sublime, ele sobressai no movimento

O coração palpita ainda dorido
Tenta juntar o que fora partido
O oiro na mina não renasce
Aquela bofetada, manchou a face

Duma pálida primavera,
Construí sonhos, não quiseras!
Não restaram cravos nem rosas
Recolheram-se lágrimas penosas

Ficaram apenas, asas de anjos
Que embalaram o desarranjo.

 
Ofélia Cabaço – 2013-09-30

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cansada

Que canseira de pensar
No passado sem retorno
Bailam as origens com pesar
Beijar a mão da tia, não torno

O sabor do feijão à mesa, tão longe!
As gargalhadas das amigas, saudade,
Os sinos da igreja, o convento e o monge
O véu branquinho sobre os cabelos sem idade

Pinheiro de Natal, aroma da criptoméria
O presépio e os pastores vigilantes
Na gruta de pedra, Jesus, José e Maria
Azáfama de limpezas e bolos, dantes!

Pensamentos e saudade, unidos
O sótão com janelinha, a minha cama
Claridade da Lua abençoando quem ama
Um abraço apertado, ternura, tempos idos,

O horizonte tentador, para além do mar
A avenida  e o mar na manhã sossegada
Meus passos somente, liberdade desejada
O desassossego de quem deseja amar

Desenhos líricos no traço do destino
Cores vibrantes pintadas a óleo cristalino
Lagos, flores e uma casinha na serra
Uma camponesa e searas ao vento
Caminhos sem fim na procura da Terra.

 

Ofélia Cabaço
2013-08-06

Domingo

Uma reunião de amigos que percebem o que pensamos, o que fazemos e o que gostamos na realidade. Hoje aconteceu durante um magnífico aconchego com troca de opiniões, receios passados, medos do hoje, desesperança no futuro, recordações de regras e ensinamentos que nos fizeram ser as pessoas que somos. Para mim foi um sucedâneo de emoções e recordações que em tempos foram de um rigor exagerado, mas, que contribuíram para um ponto mais ou menos pérola.
Senti que a minha Pátria é o meu berço temporário aqui na Terra, sei que se chama Portugal uma vez que, a Pátria que me espera existe na eternidade. Tento fazer coisas que tenham alguma utilidade para o “outro”, começando obviamente por mim, p´la minha mente, por deveres que, não são razão, mas sim essência.
Não gosto de imposições e certamente não é por ser arrogante, é somente porque não tenho a mínima paciência para fazer o que a maioria “acha bem”, quando esta mesma maioria, não concebe o “acha” e o “bem”. Muitas pessoas não precisam sequer falar para que eu perceba que o meu sentir e a minha retórica, não lhes interessa para nada. Não obstante, eu, que sou uma “chata”, tenho que ouvir as mais banais e repetidas conversas acerca do “esperto” que resolve tudo com uma indiferença tão calculista e fria que chega a arrepiar. Por tudo isto tenho a boa disposição de partilhar a minha satisfação no convívio desta tarde com gente que fala, escuta e avalia.
Tal como o moinho do milho que torna os grãos em farinha, muitas vezes a minha alma mói pertinazmente o que a faz ensombrar manifestamente para a infelicidade.
Esta tarde, a minha mente foi arejada de coisas boas, de conselhos, algumas reprimendas, e ainda de doses suaves de reconhecimento. Que bom!
No começo da noite percebi que os manjericos do meu jardim orgulhavam a mão que os trata e mima, fizeram as hortenses azuis chorarem confetes, que se espalharam coloridamente em torno de nós. Encheram o ar de cheiros e contentamentos. As estrelas piscavam na abóboda elevada ao povoado, numa envolvência luminosa de harmonia e paz espiritual. Agradeci a Deus a capacidade que me deu para apreciar as várias metamorfoses que a natureza produz imutavelmente, assim como o sentimento de me deixar conduzir pela beleza das pequenas coisas.
Pensei em África, falamos sobre o feitiço que África proporciona com as suas cores e sons a cada Ser que lá nasce.
Depois, no que poderíamos fazer para ajudar aqueles povos a viverem e usufruírem, p´lo menos, com a riqueza que aquelas terras oferecem a nível natural e não só.
Foi uma tarde enriquecedora. Amei.
Vou ler o meu livro “ Os Dabney”, estou encantada por entrar no século dezanove e perceber o que acontecia nas ilhas naquela época. Descobri que Mark Twain na sua grande viagem p´lo mundo, parou na ilha do Faial, e como sabemos ele escreveu muito durante toda aquela viagem; A sua descrição foi a de que, os ilhéus eram moles, preguiçosos e pouco ambiciosos para além de desconfiados. Mark Twain escreveu a pior opinião que alguém pode ter acerca dum povo. Não gostei muito, sinceramente, mas, mais adiante, percebi que aquele pensamento não era muito credível na medida em que outros personagens com craveira intelectual, politica e médica disseram exatamente o contrário. Durante a guerra Liberal/Absolutista as ilhas foram de uma força e capacidade de querer e resolver do mais épico possível.
Vou continuar a ler e babar-me com toda aquela azáfama de uma família americana a viver na pequenina, verdejante e sossegada ilha do Faial pespontada com um mar por vezes enfurecido ao ponto de os barcos ficarem ao largo da baía durante vários dias à espera que o temporal amainasse. Não me importaria nada de ser um farol naquelas paragens.

Ofélia Cabaço 2013-08-05

 

domingo, 14 de julho de 2013

Cesário

Verde foi o poeta Cesário
Levou-o a morte tão cedo
Ávida de vidas e credos
Saltou para além do casario
Pradarias de flores e poesia
Lisboa magra de fantasias

 Sob os olhares de Marias
Ajoelhou terra e capelas
No campo e na cidade, tudo queria
Nos roseirais contou pétalas

Temperou esperanças de Lisboa a Queijas
Sorveu poesia, escreveu realidades
Observou ruralidades, para que vejas,
Campos de trigo doirados, frémitos braços
Pregões de favas, vendedeiras p´la cidade

Bebeu Primaveras, abraçou Verões
Folhas caídas, nos passeios da cidade
Nos campos, o restolho monótono
Outonos vermelhos com liberdade
Finalmente o Inverno e os serões

Lisboa envolvida de fumos cinzentos
Castanhas assadas, frio e argumentos
Janelas fechadas com vidros quebrados
Rostos com sorrisos enfezados,

Cesário escreveu e observou
Campo e cidade amou,
Não fora a pressa da morte
E escritos teria a Corte

 
Ofélia Cabaço   2013-07-14

CINZAS

Mulheres com alma mansa
Existem!
Descem os degraus
Aqueles que subiram
E odeiam
E amam
E escutam
E esperam………….
Não são ervas, são gente!
O tempo avassalador
Sepultura de grandezas
Sentimentos, desapontamentos
À beira dos jardins pisados
Silêncio (..)
Dedos nos lábios, silenciando
Os pios,
Alma apagada varrida d´alegrias
E os ventos percorrem colinas
Montanhas e bosques,
No tempo vertiginoso,
Ironizam grisalhos,
O tempo com asas invisíveis
Transforma idades em areias movediças
Depois o deserto…….
Um dia foi árvore resistente
Ao rigor das estações,
Pronta a abraçar primaveras
Ouvindo o canto das aves, outras eras,
Recebendo inebriada o alvor,
Em cada manhã de um novo dia
E o vento que não chega
“Oh vento estremece as almas
Leva as cinzas para longe e,
Traz, oh vento, ramos da oliveira”

Ofélia Cabaço
2013-07-13

Noite

Não há amiga maior que a noite serena,
Entrega-se transpirando aconchego
Espero-a, sentada sob o plátano da arena
Inquieta, despedi-me do sol há que tempo,
Já os grilos entoavam música e ecos
E a noite quente, liberta de ralhos
Vem até mim, acolhedora, complacente
Que beleza e paz duradoira
Em silêncio, ouvimos o restolhar das folhas
Pirilampos iluminam as estevas engomadas
Numa despedida ambígua, condescendente
De choros compulsivos dos parentes
Arrastam-se lentos bichinhos-de-contas
Junto aos meus pés sem mais fitas
E ela, a noite, placidamente sensual
Aconchega-me num cálido instante
Fecho os olhos e deixo-me embalar por tal,
Momentos e desejos dos livros da minha estante
O mundo onde sou feliz e amada!
Natureza minha mãe sagrada
Alberga-me até que venha a geada.

 Ofélia Cabaço


2013-07-13

sábado, 6 de julho de 2013

Ofélia, Seculo XXI

Sou apenas um ser
Que nada é, a haver
Apenas sente (…)
E ama, num repente
Deseja justiça e anseia
Sou um ser que pensa
Que transmite ideias
Espirito de benigna ofensa
Sou irreverente, justiceira
Angustia-me quem não tem beira
Abomino a arrogância, a fome
Sou aquela que se consome!
Sou talvez, a indesejável
A que fala e grita, contestável

Ofélia Cabaço  2013-07-06



Sem ti

A tua vida é uma folha inconstante
Equinócio dum passado recente
Em cada linha a poesia marca hora
As lembranças vivem e vão embora

Marcam anos, no dia desgostoso
Exaltam beijos, no tempo maravilhoso
Brincam com o vento até ti
Recordam paixão e gestos que cometi

A tua e minha vida são fôlego
Respirar ansioso dos egos
Sem ti nada sou,
Sem ti não vou

A minha alma já não chorou
A magnólia do jardim, secou!
As noites são mansas
O meu coração descansa!
O Mundo parou no hemisfério
Num retumbante de mistérios.

 

Ofélia Cabaço 2013-07-06

terça-feira, 2 de julho de 2013

Parabéns Maria João

 Querida tia Dinorah,

Escrevo através do computador porque tenho letra de boticário e assim evito terem de se esforçar para descobrirem as minhas palavras.

Estou muito, mas muito agradecida p´los livros que recebi e fiquei orgulhosa da Maria João que foi para mim sempre uma menina muito especial. Vocês foram uns pais maravilhosos e o resultado foi a satisfação no acompanhamento da evolução cultural das vossas filhas. É realmente um orgulho, quando percebemos que criamos seres fantásticos, creio que é uma bênção de Deus, independentemente dos defeitos que possam ter, uma vez que somos seres humanos, e, todos os dias das nossas vidas, erramos nesta ou naquela atitude que eventualmente, tomamos. Falo por mim e p´lo meu filho, que admiramo-nos mutuamente, orgulhamo-nos um do outro, e no entanto, temos algumas desavenças relativamente às questões do quotidiano.
Tia Dinorah, muitos parabéns e ao Sr. João Vieira também pela conduta de suas filhas nesta vida. A avó Gilda, claro que teve grande influência, ainda bem que as pequenas ouviram os seus conselhos e como bem sabemos o tempo é o testemunho da realidade benfazeja de quem nos rodeou e aconselhou. Da minha parte nunca tive ninguém visível que me aconselhasse, mas Deus e a Virgem Maria têm sido os melhores pais do mundo. Daí eu perceber que quando partilhava as minhas alegrias com certas pessoas o feedback era silencioso, invasivo, para não dizer mudo. Até nisso, nós apendemos como lidar com as pessoas. Nunca devemos endeusar ninguém muito especialmente quem não nos merece! Mas as vossas filhas sempre vos tiveram como proteção infinita, bem-haja por tudo isso, são uns grandes pais! Daí os frutos do vosso pomar! Deus vos abençoe.
Tia Dinorah, existem pessoas tão ridiculamente pobres de espirito, que não sentem nem orgulho, nem satisfação por ninguém, e nisso vocês são um exemplo de partilha e admiração por quem merece. O exemplo disso é a amizade que sempre dedicaram à Glória que é considerada e muito bem, um membro da vossa família e fundamentalmente a preocupação da tia Dinorah, em pensar no futuro dela, quando um dia lhe faltar. Isso é de uma grandeza sem limites. Admiro-a muito e não digo com ânimo leve, porque já a conheço o suficiente para afirmar o que digo, e o que é justo.
Acrescento, que não conhecia quase nada desta personalidade José Silvestre Ribeiro e estou encantada por ler mais uma vivência frondosa de um ser que deixou a Portugal raízes que se estenderam para lá do Atlântico. A Maria João é uma artista com alma e coração, Deus a proteja, assim como a todas as outras.
Fiquei tão comovida que, recebendo ainda há pouco os livros, já estou a responder para vos transmitir tudo o que me vai na alma neste momento. Gosto muito de vós. Deus deu-me o dom de poder perceber e diferenciar o trigo do joio. Muitas vezes na minha vida, tentei enaltecer pessoas que eu amo, mesmo percebendo “o avesso” das mesmas, mas chega uma altura em que não mais, vale a pena continuar e isso, tia Dinorah é de um desgosto profundo, quem me manda a mim ser lírica?
Tudo para especificar que as vossas filhas sempre vos tiveram e sempre se orientaram pela sua família, ou seja, os seus pais e avós. Como eu as admiro! Como eu vos considero! Como eu gostaria de ter encontrado na vida, pessoas que gostassem de mim, VERDADEIRAMENTE!
Se chegar um dia a ser velhinha, contarei aos meus netos, estórias de exemplos de pessoas que mais admiro, aí sim, ensiná-los-ei a serem cautelosos, porque não o fiz com o meu filho, apenas porque tinha 17 anos quando ele nasceu e, eu, nem sequer com aquela idade, me tinha encontrado a mim própria. Mesmo assim foi criado com a minha força e todo o amor que um ser pode albergar. Fui, tia Dinorah, uma sobrevivente lutadora, mas não é por isso, que não admiro e venero a inteligência no ser humano. No meu coração não mora, nem nunca morou a inveja, penso que Deus me ajuda a não ter sentimentos destruidores e incapazes de diferenciar a verdade da mentira, a razão e o razoável dos assuntos, a moral e a dimensão das suas vertentes. Passei na minha prova escrita de filosofia com 14, fui a segunda nota mais alta e tenho já 60 anos. Não recebi parabéns de quase ninguém. Por isso a veracidade desta minha escrita em relação a vocês é imensurável! OBRIGADA!
Mais uma vez muito obrigada, fiquei muito feliz.
Um abraço para Sr. João, Glória e para si um apertado abraço de amizade profunda!


 



Ofélia Cabaço

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Grande Poeta

Camões com fome morreu
Gáudio dos bobos, fome compacta
Foi Grande o Poeta, mundos percorreu
Nação às costas, Povo e Língua
Honrou Portugal em terras e águas
E Gigantes, e, ondas promissoras
Castigo dos deuses, sem olho ficou
Pobre morreu com fome e febres
Exultou a voz ao som dos mares
Deixou poesia, salvou saberes
Cadáver homenageado com louros
Faces acabrunhadas esconderam os ouros
Nação de bravos famintos
Outrora pobretanas, mitos!
Os sabichões inventaram moradia
Á mesa redonda opinião morgadia
Mentiras e soberbas, arquétipos
Poeta imortal, deixou herança e Tempos!

 

Ofélia Cabaço  2013-07-01

domingo, 30 de junho de 2013

Nuvenzinha

Muito leve uma nuvenzinha
Vai beber águas mansas do lago
Flutua cândida sobre a vinha
Num sussurro de gotas e bagos

Distante do álveo, a nuvenzinha
Suspira campos de magnólias
Ao entardecer no ar se some
Num adeus aos homens se consome
Esconde-se no firmamento, entrelinhas

Outras gotas, encontra a nuvenzinha
Numa cena de mistérios e castelos
Cabeças de cavalos e muros derrubados
São o místico azuláceo de vassalos
Corrupio de mortos abandonados

E, os vivos? Rumorejar descontente
Toque de liras gementes,
Sob chuva ácida dos polos
Na escuridão de ralhos amorfos
Impante de falsos egos, tolos

Brilha e sobe, e desce e sobe nuvenzinha
Rega meu jardim de açucenas
Diz “viva” aquela minha florzinha
Suas pétalas sequiosas de águas plenas!

 

Ofélia Cabaço   2013-07-01

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Borboleta Branca

Borboleta branca que me rodeia
Na desenvoltura de suas asinhas
Assalta-me com voos e ideias
Que elevam pensamentos e pedrinhas

Branca é sempre aquela borboleta
Num rodopio talentoso me fascina
Traz-me mensagens d´além, poeta
Aquieta meus tormentos de menina

Brincalhona a borboleta branca
Saltita de flor em flor em alegre dança
Orquestra melodia no meu ouvido
Subtilmente poisa na minha anca

Assim quieta, repousa em olvido
Na quietude das eiras, poetiza a bonança
Cicio resposta na sua asa
Levada a cabo até ao firmamento
“Diz-lhe borboleta branca,que estou em casa”
Que honro saudosa, seus ensinamentos

Oiço risinhos de contentamento
No ar aromas de tais flores
Cenas de amores, aninhamentos
Saudados na alvura da borboleta
Tão igual à espuma dos mares
“Diz borboleta ao poeta!
Que vivo momentos avessos!”

Assim quietas, na harmonia da natureza
Conversamos os vivos e os mortos
Ébrias de sonhos e voos na beleza
Saudamos o universo com  risos e saltos

Borboleta branca fica comigo, de menina
Até ao tecido seco descolorido, fica!
Fêmea criadora de luz divina
Com sepultura no meu livro de pelica.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-26

Atlântico

O mar que é imenso,
Soberbo de bosques encantados
Orlados de bons incensos
Que nunca viram a luz do dia
Flutua, desprovido de rochedos
Ondas flamejadas d´oiro, tardias
Metamorfoseando as águas profundas
Numa rima infinita de cores prateadas
O mar doce onde poisam gigantes!
Nos horizontes de tintas rosáceas
Para além dos portões rangentes
Este mar atlântico que prefiro
Povoado de cavalos- marinhos,
O mar azul, vestido de verde
Em noites de prodígio, um suspiro
Entre algas, medusas e cravinhos
Carregado de preguiça, o mar perde
O fundo povoado de escarlate, sangue
Dos que navegaram e ficaram
Sussurro na divagação das ilhas
Esmeraldas em colcha de lentilhas
O mar que eu amo e não sei,
Com vagas de anseio e dor
São as águas de minha vida
Vozes das poesias que deitei
Passado de caravelas idas
O mar que me acordava agitado
Com invenções de sonhos a desoras
Nas manhãs frias com honras,
Ensinou-me as suas caminhadas!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-26

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sua Criança

Revelador de ternura
Num olhar afeiçoado
Cumplicidade e doçura
Com reflexos abençoados
A Mãe e sua criança
Bem - querer e esperança
Sorrisos e leves ralhos
Marcam saudades no beiral
Recordações idas, baralhos!
E a casa um espiral
Criança voa alto
Na evolução de suas asas
Nunca para, descansa no planalto
A Mãe vislumbra uma estrela
Que ilumina o que é dela
Asas derrubadas as suas,
Jazem aflitas no vazio
A bruma esconde estufas
Como o mar engole búzios
O sorriso e a ternura
São visitas assíduas
O Coração e a saudade
Aclamam generosidade
O enlevo que perdura
Na Alma das duas
Mãe e criança!
Num olhar afeiçoado
Com abraços suados,
Ah quem me dera
Trepar muros de heras
Ser criança outra vez
E ser feliz de vez!

 Ofélia Cabaço  2013-06-21


quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Viagem

Na rua estreita
Vi passar em tempos,
Casais de mãos deitas
Sorrisos e cabelos grisalhos
Muito leves e sem agasalhos
O tempo ablativo, vertiginoso
Embalado voluptuosamente
E,
Curvados passam  em silêncio
Na minha rua, observo com assombro
Espectros reverenciados, vagos, a idade
E eu, com prenúncios (…)
Recorro ao espelho que denúncia
Prata fluída nos meus caracóis
Pensamentos e cismas em abundância
Foi o tempo que matou meus girassóis
Campos semidesertos, idades cumpridoras
Despertam a razão conservadora
Pitósporos que plantei,
Dançam no rodopio de murmúrios
Sacodem sem maldade as memórias
Na minha rua,
Passam os velhinhos, lentos
Carregam nas costas angústias recentes
Sucedâneo de sofrimentos
Apenas querem combinar a morte
Na agitação das suas mentes
O receio e anseio! Sem norte,
Surgem as noites sem luz
Rangem as portas ao truz-truz
Na parede um escuro ponto
Interlocutor dos medos, um conto:

Morte rabina

Que me deixou menina
Um dia, credora
Levar-me-á na neblina!

 Ofélia Cabaço  2013-06-20


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sapo

O sapo que fora príncipe
No seu lamento noturno
Exclamava um dia ter sido Filipe
Olhar florentino, oiro de Saturno
Amara ferverosamente sua Bela
Esbelta, fulgurosa, como só ela
O sapo!
Dentro d´água sua pele humedecia
P´ra consolo de quem padecia
O sapo que fora príncipe
Em castelos, cristais e acepipes
Viajara no vento e no amor
Aquecera lençóis e quebrara encantos
No mundo fora Altar-Mor
Percorrera bosques e recantos
Amou, abraçou Bela sua donzela
Trágica noite montada de gazelas
Uma treva, um sapo no charco
Vácuo com castelos desfeitos
Pedaços de amor e papel desbotado
Bela que amara um imperfeito
Príncipe desnaturado!
Sombras intemporais,
Sabores a lágrimas e corais.

 

Ofélia Cabaço   2013-06-29

 

terça-feira, 18 de junho de 2013

INSPIRAÇÃO


Inspiração não me atormentes
Fingindo abandonar-me nos dias
Sabedora que és e não mentes
Que minha vida sem ti é vazia
Tu, inspiração que me acordas de repente
E me levas exultante e transparente
Contigo as colinas abraçam a primazia
Da minha essência volátil
És a junção dum sonho subtil e,
Minha confidente nos voos mais altos
À beira de castelos pintados
Me embalas dolorosamente
Roçando meus trapos vaporosamente,
Inspiração não me atormentes, tenho frio!
Não me faças recear a tua perda
Serei uma louca criadora contigo
Poetizarei às flores nas colinas
Sorverei a beleza das ninfas
Tocarei a teu lado o colorido
Do elevado Sol candente
Pintarei do cinzento ao garrido
Avistarei a saudade de ti
Não, não me deixes oh inspiração!
Não tornes os meus dias em aflição!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-18


 

A Folha

Nasceu a folha num galho
Sussurra crescimento viçoso
Num voluptuário esgalho
Estende-se num abraço cioso
Adormece na ternura do anoitecer
Acorda na airosidade do amanhecer
Exala verdura e feitiço
E porque nasceu e cresceu
Tornou-se afago e ruboresceu
Entre alvores de festas afrodísias
Exala perfumes e fantasia
Num retorno turbilhonante
De brincadeiras impassíveis
Na visão dos sonhos impossíveis
Uma cadeira no baloiço,
Olhos fechados, um desejo reboliço
Êxtase de aromas, fervilhar da mente
Mechas de vento delirante
Assombros na sombra das asas
Folhas, rumores da minha casa
Árvores que me afagaram ao nascer
Àvé natureza, esplendor do meu viver!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-18


 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Texto primeiro – 17 de Junho de 2013

Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel em 18 de Abril de 1842, foi batizado na igreja de  S. Sebastião de Ponta Delgada. Fez a instrução primária na mesma cidade e aprende aos quatro anos francês e com sete anos tem lições de inglês com um professor de seu nome Mr. Rendall. Com dez anos vem para Lisboa estudar no Colégio do Pórtico, na altura dirigido p´lo  poeta  Dr. António Feliciano Castilho, situado na Rua dos Navegantes.
Um ano depois o colégio é encerrado e Antero regressa à sua ilha. Dois anos depois faz o exame da instrução primária. Volta para Lisboa e vai estudar para o Colégio Escola Académica. É nessa altura que começa a escrever versos.
Com dezasseis anos matricula-se no 1º.ano de Direito na Universidade de Direito, onde é admitido.
A partir daí escreve em vários jornais e revistas, é um acérrimo crítico da política de então, e relaciona-se com os maiores intelectuais da sua época.
Era considerado como um génio de beleza insondável e uma inteligência proeminente. Engrandecido pelo seu carater e alma transparente. Tinha um olhar azul profundo envolto de uma candura inexistente em qualquer moldura terrestre.
Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, Eça, Manuel de Arriaga,Visconde de Faria e Maia e muitas outras personalidades de uma época de oiro, com mentes brilhantes na cultura portuguesa, foram seus admiradores e amigos.
Antero. Não foi o estudo do Direito que o interessou particularmente, se bem que na Universidade de Coimbra se tornou bacharel formado em Direito. A sua absorvência foi total, na revolução intelectual e moral daquela época.
Viveu confrontos de vária ordem durante a sua estadia em Coimbra. Passou por momentos de incertezas e retórica persuasiva em relação aos ensinamentos religiosos que recebera da sua família, pertencente a uma aristocracia, com descendência nas mais antigas famílias de colonizadores.
Acrescentemos a sua imaginação prodigiosa na mais completa  ardência, em que foi privilegiado pela natureza.
Começou aos dezoito anos a penetrar teimosamente no pensamento das coisas, na fabulosa poesia que escreveu, e que nos deixou como herança para além do tempo.
Foi um espirito moderno, avançado com todos os detalhes a ele vinculados, numa perspetiva de acompanhamento na evolução de uma sociedade Lisboeta sem características de coisa nenhuma. Chamavam O Cenáculo a uma pequena reunião de amigos em sua casa, em Lisboa, que acontecia sistematicamente durante o dia com uns, e à noite com outros.
Antero era o cérebro enciclopédico dos mais profundos conhecimentos daquele meio intelectual desde a física, a química, a fisiologia, o direito, a linguística e a história.
Eram as bases para um estudo geral com fim a um sólido conhecimento nas várias vertentes da filosofia portuguesa.

 

Continuação nos dias que se seguem.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-17

 

Queria

Queria ser erva verdejante
Namorar com lírios do campo
Babar-me de viço pujante
E nas noites, ser um pirilampo

 

Ofélia Cabaço 2013-06-17

Partícula

Afugentei de ti o frio
Beijei teu olhar sombrio
Ensinei-te baixinho o amor
E, pintei teu sorriso de cor

Ah quem me dera outra vez
Crescer a teu lado talvez
Com tuas mãos traçar o futuro
E,
Ser partícula do teu amor imaturo.

 


Ofélia Cabaço  2013-06-17

A Seus Pés

Pastos de ervas ondulantes
Muros e pedras abundantes
Caminhos solitários
Águas mansas dos rios

Torrente abrasadora
Paisagem devastadora
Ovelhas mansas àquela hora
D´tardes incendiárias

Pastora cismada de ideias
Fumegantes de sonhos e quimeras
Passam por ela, Primaveras
Num aflito refúgio doutras eras

Os muros gemem solidão
Pedras transformadas em cão
Morreram as ervas,
Renasceram as novas!

Nos pastos mais de cem
Pedras caídas intumescem
E os pastos verdejantes
Transformam-se,
Perfidamente em Invernos.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-17

sábado, 15 de junho de 2013

Um Dia

Soube quem eras um dia
Receosa, escondi-me num botão
Pequenina, trémula,  contive  a respiração
Na minha mente de criança, confusão
Flores de cheiro e bondade
Recolheram minha oração

 


Ofélia Cabaço  2013-06-13


 


 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

13 de Junho

Neste dia de Santo António
Nasceu o poeta Pessoa
Festas, casamentos e património
São o que Deus abençoa

Pessoa arrevesso ao casamento
Amou Ofélinha em pensamento
Santo António com astúcia, apadrinhou
Na escrita, o poeta sonhou

No berço, Fernando resmungou
Foram os sinos do Chiado, acordou
Na cómoda Santo António sorriu
Seu menino bochechudo mentiu

Fernando António não casará,
Escreverá para além dos sentidos
Livros e confusões deixará
Em todo o mundo discutidos.~

Não subirá aos altares clérigos
Voará antes, na utopia dos sonhos
Pessoa, escreverá desapegos
Na imaginação fingida dos ninhos.

Santo António e Pessoa vultos nas noites
Ambos felizes, saudaram com vinho
Pessoa alegre, ébrio de inspiração,
Santo António com cheiro a manjericão

 Ofélia Cabaço  2013-06-13