Querida tia
Dinorah,
Escrevo através
do computador porque tenho letra de boticário e assim evito terem de se
esforçar para descobrirem as minhas palavras.
Estou muito, mas
muito agradecida p´los livros que recebi e fiquei orgulhosa da Maria João que
foi para mim sempre uma menina muito especial. Vocês foram uns pais
maravilhosos e o resultado foi a satisfação no acompanhamento da evolução
cultural das vossas filhas. É realmente um orgulho, quando percebemos que
criamos seres fantásticos, creio que é uma bênção de Deus, independentemente
dos defeitos que possam ter, uma vez que somos seres humanos, e, todos os dias
das nossas vidas, erramos nesta ou naquela atitude que eventualmente, tomamos.
Falo por mim e p´lo meu filho, que admiramo-nos mutuamente, orgulhamo-nos um do
outro, e no entanto, temos algumas desavenças relativamente às questões do
quotidiano.
Tia Dinorah,
muitos parabéns e ao Sr. João Vieira também pela conduta de suas filhas nesta
vida. A avó Gilda, claro que teve grande influência, ainda bem que as pequenas
ouviram os seus conselhos e como bem sabemos o tempo é o testemunho da
realidade benfazeja de quem nos rodeou e aconselhou. Da minha parte nunca tive
ninguém visível que me aconselhasse, mas Deus e a Virgem Maria têm sido os
melhores pais do mundo. Daí eu perceber que quando partilhava as minhas
alegrias com certas pessoas o feedback era silencioso, invasivo, para não dizer
mudo. Até nisso, nós apendemos como lidar com as pessoas. Nunca devemos
endeusar ninguém muito especialmente quem não nos merece! Mas as vossas filhas
sempre vos tiveram como proteção infinita, bem-haja por tudo isso, são uns
grandes pais! Daí os frutos do vosso pomar! Deus vos abençoe.
Tia Dinorah,
existem pessoas tão ridiculamente pobres de espirito, que não sentem nem
orgulho, nem satisfação por ninguém, e nisso vocês são um exemplo de partilha e
admiração por quem merece. O exemplo disso é a amizade que sempre dedicaram à
Glória que é considerada e muito bem, um membro da vossa família e
fundamentalmente a preocupação da tia Dinorah, em pensar no futuro dela, quando
um dia lhe faltar. Isso é de uma grandeza sem limites. Admiro-a muito e não
digo com ânimo leve, porque já a conheço o suficiente para afirmar o que digo,
e o que é justo.
Acrescento, que
não conhecia quase nada desta personalidade José Silvestre Ribeiro e estou
encantada por ler mais uma vivência frondosa de um ser que deixou a Portugal
raízes que se estenderam para lá do Atlântico. A Maria João é uma artista com
alma e coração, Deus a proteja, assim como a todas as outras.
Fiquei tão comovida que, recebendo ainda há
pouco os livros, já estou a responder para vos transmitir tudo o que me vai na
alma neste momento. Gosto muito de vós. Deus deu-me o dom de poder perceber e
diferenciar o trigo do joio. Muitas vezes na minha vida, tentei enaltecer
pessoas que eu amo, mesmo percebendo “o avesso” das mesmas, mas chega uma
altura em que não mais, vale a pena continuar e isso, tia Dinorah é de um
desgosto profundo, quem me manda a mim ser lírica?
Tudo para
especificar que as vossas filhas sempre vos tiveram e sempre se orientaram pela
sua família, ou seja, os seus pais e avós. Como eu as admiro! Como eu vos
considero! Como eu gostaria de ter encontrado na vida, pessoas que gostassem de
mim, VERDADEIRAMENTE!
Se chegar um dia
a ser velhinha, contarei aos meus netos, estórias de exemplos de pessoas que
mais admiro, aí sim, ensiná-los-ei a serem cautelosos, porque não o fiz com o
meu filho, apenas porque tinha 17 anos quando ele nasceu e, eu, nem sequer com
aquela idade, me tinha encontrado a mim própria. Mesmo assim foi criado com a
minha força e todo o amor que um ser pode albergar. Fui, tia Dinorah, uma
sobrevivente lutadora, mas não é por isso, que não admiro e venero a
inteligência no ser humano. No meu coração não mora, nem nunca morou a inveja,
penso que Deus me ajuda a não ter sentimentos destruidores e incapazes de
diferenciar a verdade da mentira, a razão e o razoável dos assuntos, a moral e
a dimensão das suas vertentes. Passei na minha prova escrita de filosofia com
14, fui a segunda nota mais alta e tenho já 60 anos. Não recebi parabéns de
quase ninguém. Por isso a veracidade desta minha escrita em relação a vocês é
imensurável! OBRIGADA!
Mais uma vez
muito obrigada, fiquei muito feliz.
Um abraço para
Sr. João, Glória e para si um apertado abraço de amizade profunda!
Ofélia Cabaço