quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sina

Se a vida dá e me rejeita
Generosidade que a todos abarca,
Não consinto o que me faz, sinto
O vento que me trouxe envolta
Numa onda quiça maldita, arca
Encourada, abrigo d´segredos, sentimento
Que me faz rolar em mar tumultuoso
E torpece a cada instante meus desejos
Tempo sem braços, olhar desdenhoso...
Sina que à minh´vida injustiça,
Mendiga há mais de mil anos,eu sou
A que não pediu existência, apertos
E serpentes famintas me perseguem...
A dor, mágoa e ilusão, seguem
Os dias e as noites tornando minh´vida
Um só dia, e uma só noite assaz padecida...

Se a vida dá e me rejeita,
É o que sinto e não consinto...

Ofélia Cabaço

2016-06-29


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Opostos

Inverno

A ausência do verão, do frio que passei
De ti, nem figura nem gente (...)
Dias gélidos, noites negras suportei
Árvores trémulas, folhas esvoaçantes
No seio de mim como dantes,
O vazio que preenche meu pensamento
Tolda visão e atrofia andamento;

Primavera

Senti amor despertar em meu peito
Cheiros d´aloendro e madressilva, espreito
A quietude que de repente vejo
Figura e gente almejo...
Ir e ir contigo p´lo mundo além
No que será o rouxinol em noites de lua cheia
Alar-se em delicias sobre folha de videira, eia
Olor e Amor na imensidade,
Ir e Ir contigo no alcance da liberdade (...)

Ofélia Cabaço

2016-06-27



domingo, 26 de junho de 2016

Benditas Tecnologias...

Hoje em dia não há nada que as novas tecnologias não resolvam; o avanço tecnológico é, e tem sido, nos muitos diversos assuntos, uma mais valia. Pensar que, há trinta anos escrevíamos numa máquina, que, por muito sofisticada que fosse, surgiam muitas vezes, consequências sobremaneira irritantes. No entanto, éramos agradecidos porque tínhamos o fax, a fotocopiadora e o telex . Nas empresas progressivas não faltavam estes utensílios de maior importância para quem trabalhava, e deles necessitava todo o tempo. Tempo, em que nas empresas, e não só, havia afetividade no ponto de vista humano e profissional. Conseguíamos, embora o tempo fosse escasso, visitar um amigo quando doente, ou com qualquer outro problema. Devo citar antes de mais, que não se trata de saudosismo, nem sequer elevar qualquer sentimento de resiliência, não é isso, trata-se tão só, e apenas, de uma pequena descrição em nada análoga aos tempos de hoje..., porque hoje, quase tudo, sem generalizar, tem a importância que tem no que diz respeito a um fim em que o lucro e a situação de conforto não sejam de algum modo, beliscadas com a “mediocridade” do “sentir o outro”.
Ora, como explanado de inicio, não há nada que as benditas tecnologias não resolvam; Uma amiga ou um amigo estão doentes ou têm assunto problemático a consumi-los, então, vamos telefonar, afinal é uma atenção inesquecível. Não obstante a boa vontade na ligação realizada, faz-se um relatório de doenças, passadas e presentes, do avô, da mãe, da vizinha e do primo, porque estimular e dar força ao “outro” coitadinho, é fundamental.
Quase sempre no final da conversa tecnológica surge a frase base que é de importância vital, digamos, (verdadeira e sentida!!!) : se precisar de alguma coisa, diga.! Ah! como a tecnologia resolve em poucos minutos, tantas coisas ao mesmo tempo, e nós, pensamos, que podemos tranquilamente, tomar o nosso banho na praia, ou ler um bom livro no aconchego da nossa casa, já de consciência tranquila. Benditas tecnologias...
Com tanta amizade e atenções até chegamos a desejar sermos robots, carregaríamos num botão, e no lado de lá, outro maravilhoso robot atenderia com aquela “afetividade” já de antemão utilizada, apenas de modo diferente, para que, de nada possamos estranhar. Perfeito! Artificialidade sem rosto e sem ambiguidade. Aí, nesse espaço e tempo, teremos uma certeza única e verdadeira: Não existirá hipocrisia, porque tudo é o que é, tal como se apresenta, sem qualquer eufemismo ou insinuação, sob pena de sermos pedra, sem que a pedra seja o que não deve ser...
Ainda há outro conceito, do Conceito Amizade, utilizado à exaustão, em que não falamos durante o ano inteiro com supostas amigas, mas, “não é que não nos lembremos delas todos os dias”, mas o facto, é a falta de tempo, e afirmamos alto e a bom som que somos amigas, até porque no dia do aniversário telefonamos a dar os parabéns, esta é a grande prova da nossa gigante amizade...e, então, se vivermos longe umas das outras a lembrança se enaltece, especialmente, se precisarmos de ir passar uns dias a sua casa; recordamos velhos tempos passados, onde em sua casa vivemos dias de muita satisfação e conforto, ah!- a saudade é imensa, mas ao menos no dia do seu nascimento telefonamos e contamos as nossas tragédias, mais do que as alegrias,porque achamos que ela é muito boa pessoa..., e quem sabe até pode ajudar-nos, tão boa pessoa...
Se nós tivermos os pés com encaracolados, i.e. Joanetes, não admitimos que se fale desse triste acidente natural, porque não é isso que faz as pessoas, mas sim a sua integridade; mesmo que reconheçamos os sapatos em qualquer lugar do mundo, todos desenhados de altos e baixos como se caracóis se enroscassem para sempre neles (sapatos), não convém qualquer advertência à questão, porque não se deve ferir suscetibilidades e segundo o povo “ o que não temos hoje pode surgir-nos amanhã”; acontece é que amanhã se depararmos com um pequenito joanete no pé do “outro”, para nosso consolo, e para que não sejamos sozinhos em tudo o que é negativo, porque o positivo deve ser só nosso, e de mais ninguém..., dizemos de imediato: ah tens joanetes, como eu!
Mesmo que a outra pense, (como se o meu joanetezinho se comparasse aos fósseis da Era da pedra, que ela tristemente tem sobre os seus tortuosos dedinhos). Assim visto na presença, e sem as benditas tecnologias, também conseguimos ajudar e ser amigo/a...


Ofélia Cabaço
2016-06-26



continua...



quarta-feira, 22 de junho de 2016

Verão

Quente e luminoso eis o verão
No tempo do seu Tempo, em vão
Teimosa a chuva persistente, tente
Alvas nuvens e o firmamento brilhante,
Sumptuoso o verão, vestiu-se d´oiro...

O Sol abriu botões e as rosas emergem
No orvalho das manhãs dormem, consolo
Que esquece picos, sede e dolo .…

Os pomares d´abundância florescem
Cerejas e alperces em viva prece ruborescem
E o desenvolto natural reina nos demais,

O silêncio invade montanhas e vales
Uma quietude...
Como o suspiro da leoa saciada, pindárica ode,
Contemplação divina sobre matéria impura, miragem
Que nos roça à vertigem...

Instante dizível do quanto vales …
Cordão umbilical que abraça o Universo
Enquanto o verão aventureiro filosofa em verso,

Sumptuoso, o verão vestiu-se d´oiro...

Ofélia Cabaço
2016-06-22






segunda-feira, 20 de junho de 2016

Queria Tocar-te

Sento-me,
Sob a grande tília odorante
Sinto o silêncio, o das verdes florestas
Aonde muitas vezes deambulo hesitante;

Hoje, sento-me e em ti penso!
Teu corpo apolíneo na árvore apenso,

Queria tocar-te,
Não consigo lá chegar, força hercúlea
Dum reflexo etéreo me impede, oiço
O vazio dos jardins,
De folhas e ramagens, nosso berço
Esquecido, sem uma única orquídea;

Queria tocar-te,
Beijar a tua boca e abraçar-te,
Uma névoa densa, neblina
Que faz chorar meu sonho
Surge como vaga cristalina
Embaciando meu desejo, ninho
Desfeito de ventura e Amor...

Resta-me o gorjeio das aves, trinado
que rompe a escuridão e alumia o ser amado.


Ofélia Cabaço
2016-06-20







domingo, 19 de junho de 2016

Melancolia

Não é a melancolia que me toma
Sou eu que a procuro, retoma
A languidez, a dor que me abate
Como gota teimosa que na pedra bate

Poetizo a forma que o pensamento
Obriga, remendar o tormento até
Que a dor da Dor me leve a descansar
Para um lugar que desconheço, pensar

Que sou água, terra e abismo
Há séculos que sou um inalterável sismo
Olvido corpo que mal conheço...

Mistério existe, esfumado e indizível
Que me aborda, subtil e inflexível,
A Voz que me ordena desde o começo
É um clarim exausto, rouco da Dor...

Em nada reparador,
Oh! realidade intrépida, mentira
Que para além de tudo, tudo me tira (…)

Ofélia Cabaço
2016-06-19



sexta-feira, 17 de junho de 2016

Imagem de Ti

Tinha valido a pena
Depois de uma troca pequena,
Entre livros e pensamentos,
Incorporar nosso desejo no ensejo
De vivermos luminosamente...

Tocar teus cabelos desalinhados
Contemplar a Alegria em teus olhos
Libertos de tormentos amontoados,
Vácuo negro que me sobressalta
E minh´alma assalta...

Oh! Meu coração quente e palpitante
Da tua imagem se conforta, instante
Efémero que se apagou, sem que exista
O grito que faz vibrar meu Desejo (…)

Tinha valido a pena
Depois de uma troca pequena
Dizer-te...
Contemplando teu rosto com dizer fulgente,
Sempre amarei teu sorriso, de ti sou crente!”

Ofélia Cabaço
2016-06-17






quarta-feira, 15 de junho de 2016

Como Viver?

Quando se muda de um País para outro, ou de uma cidade para outra, há tendência para as pessoas tentarem conhecer outras pessoas, e, naturalmente, criarem amizades.
Nem sempre acontece neste ponto de vista resultados positivos, sabendo nós, que existem amizades disfarçadas de interesse, ou talvez, de curiosidade acerca do outro.
Para quem, já de si, é de afetos verdadeiros sem qualquer fim instrumental, não é difícil acreditar na máscara bem retocada. Mas, existe um fator que é decisivo no conhecimento acerca do outro; se pensamos, e fomos habituados a não fazer exclusão de ninguém acerca da convivência no nosso dia a dia, acontece porém, ser um dever nosso, perceber até que ponto a outra pessoa é capaz de nos entender e apreciar as nossas qualidade ou defeitos; se tem capacidade para entender o que é a Amizade em si, e para os que a ela se dedicam com verdade e franqueza.
Claramente, e sem qualquer rodeio, nem sempre assim acontece quando temos o hábito de pensar, influenciados pelo sensível, sem qualquer consulta à razão sob pena de a sensibilidade de cada um se tornar banal e usada.
Sabemos, e aprendemos nas escolas que frequentamos, e nos livros que lemos, e até, nos parcos exemplos dos mais velhos, quando ainda somos de tenra idade, que elitismo entre classes é muito mau nas sociedades. Ora, as pessoas são todas diferentes, cada pessoa é uma pessoa, e, se alguém pertencente a uma classe social débil, e em muitas das suas referências tiver qualidades e bom senso, não podemos nem devemos descurar o objeto do seu intento, em querer integrar-se na aprendizagem e modelar a sua personalidade em termos de um conhecimento viável e pertinente; as apetências de cada um para “coisificar” o que se estuda é sobremaneira prazenteiro e útil ao género. Mas é preciso que o outro tenha essa vontade ou desejo, ao invés de opinar constantemente do que não sabe, ou não quer saber. Opinar erradamente, mas ouvir o “certo”, e fazer alusão ao conhecimento da coisa é evocar a Cultura e é elementar.
Mas, será que podemos conviver com toda a gente? Devemos, como foi exposto neste manuscrito anteriormente? O facto consiste em sentirmos que queremos acompanhar e perceber aquelas coisas que no concreto não são objeto de venda e compra, o que, para muita gente, não tem qualquer valor não se tratando de dinheiro ou largas vantagens; o mais desagradável de tudo isto, é que algumas pessoas rejeitam a conversação de quem
pretende aprender e discutir o que lhe atrai de mais significativo na sua escolha. Já é de si muito complicado ouvir constantemente gente que só fala de si, sobretudo, das suas queixas, sem a mínima preocupação com o outro, colocando de parte e em absoluto que sair do seu conforto para dar a mão ao outro é impensável. Temos o dever e a obrigação de ouvir, embora do outro lado não interesse a nossa apetência, naquele momento, de ouvir queixas banais e sem qualquer fundamento, quando o mundo está a desmoronar-se e pessoas morrem como lixo.
Quando se pensa nestes fenomonozinhos de trazer por casa, mas que são tão perturbadores para quem se esforça, em dar abertura e ouvidos, a todos quantos se acham nesse direito e que em troca oferecem dentadas, relembro OSCAR WILDE numa história que escreveu, cujo título é o seguinte:

A VERDADEIRA HISTÓRIADE ANDRÓCLES E DO LEÃO

“ … Um dia, no limiar de um vasto deserto, Andrócles encontrou um leão que parecia padecer de uma dor intensa. Segundo parecia, o leão tinha sido suficientemente tolo para tentar comer a carne dura de um anglo-saxão que viera colonizar aquela parte de África. Em consequência, o pobre animal selvagem tinha partido todos os dentes. (é sabido que o escravo Andrócles era um dentista notável, naquela época).

Quando Andrócles ouviu os seus gemidos, apiedou-se do leão e decidiu oferecer-lhe um conjunto de dentes de ouro absolutamente grátis.
Quando Andrócles acabou de realizar o seu delicado trabalho, o leão agradeceu-lhe profusamente e correu para o deserto.
Ora, alguns anos mais tarde, durante a época da primeira perseguição, Andrócles, que era bom cristão, foi denunciado e levado para o coliseu de Roma. Aí, juntamente com os seus amigos crentes, foi atirado a um grupo de leões famintos, diante de toda a nobreza de Roma e do seu antigo amo , o imperador. Quando Andrócles alcançou o meio da arena, um leão saiu da sua jaula dourada e dirigiu-se diretamente para ele de boca aberta.
Ora, quando Andrócles olhou para a boca do leão reconheceu os dentes de ouro que ali implantara tantos anos antes, e o grito de medo que começara a sair da sua boca, transformou-se num grito de alegria. E o leão, percebendo que se tratava do seu velho amigo dentista, deitou-se mansamente e começou a lamber-lhe os pés.
Enquanto lambia os pés de Andrócles, o leão ia pensando na melhor forma de mostrar a sua gratidão para com o homem que uma vez o tratara de graça. Então, passado um pouco, o leão pensou numa forma maravilhosa de dar ao dentista uma grande publicidade, na frente do imperador de toda a nobreza romana. E então, erguendo-se nas patas traseiras e soltando um rugido bem alto, devorou Andrócles em poucas dentadas, de forma a demonstrar a excelência dos dentes de ouro que o dentista lhe fizera.”

Eu, aqui no aquém, acredito profusamente no Humano, embora com determinadas experiências pouco alegres e segundo Aristóteles : “ Uma andorinha não faz a primavera”
eis a questão!

Ofélia Cabaço

2016-06-15


terça-feira, 14 de junho de 2016

Ti Augusto

Ti Augusto vivia numa bonita vila a norte do seu país. Era um sitio tranquilo, onde as pessoas nasciam, cresciam e viviam sem pressas nem agruras; a vida e a morte decorriam de forma natural. Era uma homem sozinho numa multidão de amigos que o visitavam frequentemente para um ou outro deguste realizado na sua quinta. A quinta estava sempre muito arranjada em termos agrícolas e não só. Havia sempre lugar na sua mesa para quem chegasse de onde viesse e para onde fosse. Ti Augusto, quando recebia, empenhava-se ao rubro. No verão, os convidados faziam parte na preparação comensal, proporcionando, naturalmente, um ambiente festivo com muita alegria. No inverno, Ti Augusto fazia as refeições na garagem, aonde belíssimos barris de bom tinto, espreitavam os convivas. Havia uma lareira onde o lume crepitava, sucessivamente, aquecendo a garagem e o coração de Ti Augusto.
Tinha uma boa casa, sólida e muito confortável, o que, para qualquer mortal era um sítio encantador,onde podiam ser felizes sem qualquer entrave. Sua irmã senhora D. Bibi, tratava dos arranjos na casa e ajudava o mano na lavoura e mais os criados, conforme as estações do ano permitiam. Era uma quinta esplêndida de se ver e viver, porque o labor era intenso e muito organizado, método que Ti Augusto disponha desde o tempo de seus pais. Não obstante o trabalho que tinham desde o alvor até ao escurecer da noite, eram muito felizes e bondosos; gostavam de reunir muitos amigos e à mesa farta passavam belas tardes de confraternização e amizade. Não havia amigo que negasse um convite de Ti Augusto. Todos os dias, depois do almoço faziam a sua sesta, e, pela tardinha, voltavam ao campo para regarem as frondosas árvores de frutos e as as outras plantações; o milho era uma cereal muito cultivado nas suas terras de solo fecundo. Ti Augusto era um homem de tez morena e grandes olhos azuis, tinha sempre um sorriso radioso, espalhando confiança e bem estar aos demais.
Os anos foram passando, a convivência com os amigos continuava, a sua dedicação imensurável no ponto de vista dos afetos enraizara com a idade, e, Ti Augusto, sentia que a vida vale a pena ser vivida.
A determinada altura, a sua irmã morre, pois já tinha muita idade, e Ti Augusto sentiu este acontecimento como o maior avesso da sua vida. Ficou muito abalado e sem forças para qualquer ato ou desejo de continuar fosse o que fosse. Os amigos tentaram animá-lo, mas a assiduidade ao amigo foi perdendo aos poucos, passos e vontades, e, ele, Ti Augusto, passou a viver o presente pensando nos mortos.
Era verão, um verão intenso, daqueles, em que os fins de tardes são calidamente abafados, e, Ti Augusto, abatido com as insónias, passava parte das noites sentado no alpendre da sua casa. A nostalgia que sentia levou-o a evocar o passado. Na noite, os ruídos pareciam-lhe mais agressivos, mas a brisa perfumada pelas glicínias, suavizava o seu temor. Neste abatimento tivera uma ideia, iria convidar seus amigos para a apanha do milho que estava maduro e precisava urgentemente ser cortado. Mandou mensageiro a todos eles, com dia marcado para o efeito. Começou a ter mais energia e os seus desejos começaram a ter vida, voltara a apreciar o balancear das árvores e ouvir as lagartixas na sua correria noturna, eram para si, o devir.
Na véspera do dia marcado Ti Augusto preparou as ferramentas e todos os utensílios necessários para o labor. Dormiu tranquilo numa expetativa de recomeço às lides, sonhador, bondoso, imaginou a eira cheia de milho para os criados malharem as massarocas e depois o moinho transformar em milho. Acordou muito cedo e esperou no local combinado pela imensidão de amigos que acompanhou a vida inteira.
Passaram as oito horas, depois as nove, a seguir as dez, as onze, o meio-dia, e todas as outra horas que a vida nos faz passar, do caminho para a outra vida, um dia, sozinho como sempre esteve e nem se dera conta...
Nesse dia, nem os sinos da igreja ouviu. Adormeceu para sempre.


Ofélia Cabaço
2016-06-14


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Companheira Fiel

Assim como as nuvens brancas escurecem
e a chuva cai em torrente
E se esconde o Sol dolente
Corresponde assim minh´alma ante
Anseios e desejos...
Agonia ancestral, grito estridente
Da voz fiel que em mim mora,
Dor minha, revestida de cor perla
Estilizada em figura que me entristece
E em todo o Tempo se enaltece,
Ora aqui, ali ora...
Ah! sei que a dor em mim existe
Antes mesmo da minha existência
Triunfante, em minh´alma persiste
Oh Paciência...


Ofélia Cabaço

2016-06-02

Quero Estar na Tua Vida.

Quero estar na tua vida!
Nesta e na Outra também
Quero chamar-te,
E entre flores encontrar-te
Em Natureza e em toda a parte
Serás amor do Amor Intenso, enquanto
As flores rebentam em cada canto
Quero estar na tua vida!

O vento passará revolto, destruirá
Searas e papoilas e tu, irás
Comigo, mãos dadas, avança
Na idade amor, Amor que vença
Males e enganos,
Perfusão (…) que deixou danos;
Quero estar na tua vida!
Enfrentar as trevas contigo, eu quero!
Quero, contigo, a noite receber,
De madrugadas álgicas, não quero saber,
Quero ouvir Poetas e honrar Homero
Outros, escutarão a casca dos nossos ais...
Quero estar na tua vida!

Ofélia Cabaço
2016-06-01