terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Rosa

O Poeta

Num silêncio nauseabundo
passeava o poeta na floresta
a chuva dançava na ponta das árvores
e as aves em acorde moribundo,

Afastavam o seu ritual, funesta
cantiga, ornamento suspenso na agonia,
e a Natureza sua mãe, jubilosa
com voz melodiosa
que lhe impele ser agora
LUZ  a cada hora;

A erva tingida de verde luminoso,
tom suave e verdadeiro,
que o Sol pinta a prazer
do que só ele sabe fazer;

O Sol elevou-se cada vez mais
transformando o céu em ondas azuis,
oferecendo ao  poeta  um  novo dia.

Ofélia Cabaço
2021 Dezembro










 


quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Taça

Rutilante num assomo de promessa
É Taça de mil cores, enganadora,
Bolas de água se esvaem no ar
Encantamento feito de mil efeitos
No caminho, com frémito prazer, devassa
Fingindo ser mais alta é ela geradora
Dos abismos…

Olhos cheios de porosa névoa e o futuro…
Densas lágrimas, num dia pouco longe,
E todos em procissão espectral, obscuro
Desígnio, face aos presságios dum triste monge,
Em silêncio, aguardo o entreluzir d´aurora
Timidamente, escondida em altas ramagens…
Cabeleiras farfalhudas sobre ocas cabeças
E a Taça persistente, como quem não mente
Num esperado instante, ela
Se desfaz em tons de aguarela…


Ofélia Cabaço
2015-09-12


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O Mar, a Pedra e Eu,

As Tardes

 

Esquecer-se de si,  

na reminiscência das mimosas,

anunciação, tempo festivo,

andorinhas no ar, vívidas,

constroem ninhos com folhas da romãzeira

frescas, renovadas a seu tempo

bicos de artesãos!

 

E as sestas sob o alpendre

axadrezado de troncos e flores,

Ó como são serenas as tardes!

há uma íntima alegria na renovação

 

das coisas, do que é Ser o Belo!

uma andorinha não é “coisa…”

natureza, exaltação e testemunho etéreo

que nos faz beber o canto nas tardes;

 

Um som ao longe,

Os sinos às Trindades, o murmúrio dos ciprestes

E o caminho solitário…

Ó como são serenas as tardes!

 

Ofélia Cabaço

2023-Janeiro-10

 

 

 

 

 

 

 




Sonhos meus...

Dos sonhos meus,
estendal de renda frágil,
outrora diamantes brocados
d´oiro fulgente, eram os sonhos meus...,
abundantes como as romãs no outono,
ao que o inverno gélido, astuto e ágil
enfatizou em noites de dor,
na tua ausência e no teu perpétuo sono,
não consigo o que um dia senti fervorosamente!
sonhos meus..., trocados pelo vazio das “coisas”
não vislumbro as cores que pintei ardentemente
aos olhos dum amor inquietante,
sonhos meus, filhos órfãos,
levados pelo triste canto das aves
ensombrados por um luar encoberto,
como as areis no deserto
anseio águas e bosques e aves
e, contigo, divagar ao luar desperto.

Ofélia Cabaço
setembro 2019











quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Razão ou Sentimento?

Ao que são emoções
aquando sumida a razão,
entontecido coração,
atormentado corpo que resiste em vão,
quem não ouve fados meus,
não sente males seus…


Se no deserto há uma árvore,
no jardim uma flor,
no beiral da casa uma andorinha, 
no mar uma onda,
se em cada dia o orvalho persiste
nos corações o amor subsiste

aos adornos somenos importância
quanto vazia é a vida,
sentimentos ou razão? árdua escolha!

em razão, cumprir o que é dever,
sentimento..., ponte que enaltece vida
e ao amor se eleva.

Ofélia Cabaço
2019 outubro









terça-feira, 8 de outubro de 2019

Meu Mundo

Fui conversar com o mar…
bandos de gaivotas voavam, voavam em périplo
sobre um azul tonalizado de verde floresta
senti plena liberdade, em duplo
voo com meu pensamento.
a minha vida, que não esta...,

é viver em paga desigual,
a minha capacidade de não ser igual
a todos os que ousam a minha alma macular…
e o mar, como manto enrugado, veio até mim!



Ofélia Cabaço
2019-outubro

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Antigamente

Tanto me enfeitiçou
a imaginação, tocou
a minha mente com alvura,
saboreei figos e mel, perdura
a dança tão leve como uma folha;

ò sonhos! quimeras que ondulam
como feno nos campos,
concertos de outros tempos,
o sussurrar dos pássaros e o sino da igreja,
e a avó tão presente, que me beija
e me afaga e me abraça,
era tão pequenina, em minh´alma 
uma constante luz baça,
e aquele ardor que hoje me embaraça;

o sentir inflamado,
assalta-me enganosamente,
-o Sol brilha e o céu está limpo,
contudo, ao meio-dia não existe claridade-,

mui sofrida coisa,
quão débil está minha alma!


Ofélia Cabaço

2019 - outubro