segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Hei-de um dia partir,

Contemplei o mar
Quis voar ao mistério e aos céus
Caravela com asas armar
Eu quis…
Contigo em alado, subir além do pensamento,
Hei-de um dia partir…
O mar, planície malva, imensa,
Tão vasta de segredos e deuses
Em noites de ausente claridade
Assaltam-me presságios…
Em igual crueldade, naufrágios!
E o mar assiste aos  meus tombos, 
Em uníssono som que me enlouquece,
Me entontece!
Fala-me como se falar fosse barulho,
Nada me diz, nada se me espelha,
Apenas as lágrimas que choro,
Somente sinto a Natureza que adoro
Hei-de um dia partir…
Falou-me há anos muitos o mar,
Esquecida de mim, nada recordo,
Talvez sejam apenas mitos…
Só sei que minh´alma está descrente
De tudo o que fui crente…

Ofélia Cabaço
2015-08-07



terça-feira, 1 de novembro de 2016

Minha avó

Um dia minh´avó me contou,
que em tempos sofrera de estranha moléstia
e só bebendo o orvalho da videira,
que de noite, Nossa Senhora abençoou,
conseguiu cura verdadeira;

Donzela e bela à parte sua modéstia
dali por diante saúde irradiou
Tinha cabelos da cor do trigo, mudou
da noite para o dia a cor para branco
nesse ponto, ficou igual a Petra, sua tia,

Branca e pálida sempre fora a sua tez
mais alvacenta ficara daquela vez
Seus olhos, então, da cor dos prados
tingidos foram sem qualquer brado
castanhos e suaves, iguais ao coração das margaridas
se tornaram, repletos de adoráveis matizes...

Tempos com tragédias idas
Minh´avó pálida e de castanhos olhos
Cabelos da cor do algodão, de grande coração,
Grande, como o mais alto milheiral
altiva e arrebitada, a cada hora conselhos!
Foi à beira d´água um robusto mural.


Ofélia Cabaço
2016-02-06

Obs: Hoje, dia de finados, ofereço à minha avó, aquela que foi meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha casa, e, que me amou como ninguém. Paz eterna para sua Alma. Beijo-te em silêncio e com a maior homenagem possível na verdade e no amor.



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Efémero,

Oh!, abelha por quem sois
No meu quintal eu te quisera
Não enfades os girassóis
E suga as flores de cera;

Não deixes que se intrometam os besouros
Ah! pois, eles mordem e são negros...
Borboleta minha amiga, poisada na japoneira
Nesta tarde de outono, és minha companheira.

Ofélia Cabaço

2016-10-31


Sintra Sonhadora

A imensa serra contemplo
neblinas e nuvens densas
vestida de névoa violácea
mística, inspiração e templo
altar dum passado áureo;

Sintra e os seus amantes
d´oiro foram suas mentes
quantas estórias da História,
emerge do fantástico, aporia...
Sonhos desfeitos, ninhos feitos
amores perfeitos para os de peito...

Contudo a meus pés há um vaso,
é de barro a sua forma por acaso
criou a terra nele contida, uma só orquídea,
enlaçada por frágeis violetas,
animação minha e das borboletas
tão belas são para os poetas;

Sintra e seus amantes
vestida de névoa violácea

arco íris, amores e ilusões
poesia em cada canto, quimeras,
famosas e ardentes primaveras
onde o amor se insinua em nossos corações;


Ofélia Cabaço
2016-01-05



segunda-feira, 24 de outubro de 2016

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Sentir Poesia...

É ter sentimento, alma e deslumbre
aquele, que em momentos se torna etéreo,
é erva que nasce e floresce no rude campo
é como relâmpago fugidio, a poesia,
que o artista sente em cada instante...
a vida não se segura na mão, a fantasia
permanece enquanto vida...

Poeta é ser terra, jardim e flor,
é fazer do monte áspero suave brisa
é erguer seu contentamento, realização
sua sem qualquer instrumentalização,

A arte em si, é contemplação,
não existem vendilhões no templo da sua edificação,
arte é sentimento, êxtase, beleza, fealdade, harmonia,
momento artístico é único, não volta!
como a água corrente não torna à nascente,

Poema sem alma é surdo e mudo,
comparável ao cacho que perdeu suas uvas,
é vazio, obsoleto...
não é poeta quem quer,
não é anelo, nem representação, nem comédia...
É Ser-se desde que se nasce, Poeta!

Ofélia Cabaço
2017-10-14


...Oh, quem nunca o seu pão em dor comeu,
Quem as horas da noite não passou
Em lágrimas à espera da manhã,
Potencias celestiais não vos conhece.”

GHOETE



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Chuva de Outono...

Mal acredito que ouvi a chuva
Espreitei lá fora a frescura das rosas
Vi os botões enfeitados com pérolas
A desprenderem-se dos ramos, na curva,

A buganvília chorava o adeus, generosas
Alfazemas aromatizavam os canteiros
Beleza e sentimento verdadeiros,
E a terra molhada evolando essência...

Como um coração palpitante, descoroada
De louros e apego, descansa obediência,
A Terra...,
Até que as ervas, as daninhas, a desperte
Ruidosamente para um novo combate...

E a Serra, da minha janela a vejo,
Bucólica, enfeitiçada por um diadema de prata
Metamorfose exterior que evoca mistério e ensejo;

Como um sepulcro de efémera ilusão, desata
Numa voz invencível – aqui jaz um coração -
E a chuva para, para que eu oiça esta oração.


Ofélia Cabaço
2016-10-12




terça-feira, 11 de outubro de 2016

Eu Era Feliz,

Quando brincava nos campos
Correndo e colhendo lírios
O meu coração felicidade era,
Nuvens desfilavam airosas num tempo glorioso,
De repente, cavalos com cabelos brancos
Galopavam num firmamento harmonioso;

Sentada num tronco pendido
À beira rio perdido,
Eu arquitetava o corredor dos meus sonhos
Diziam-me que as árvores e as flores não falam
E que nem os pássaros me conheciam,
Não era verdade!
Murmuravam de mim se não fora piedade
E me chamaram camarada,
Naquilo que os outros pensavam ser tarada (…)
Sou como as nuvens ondulantes
Sonhando como seria o mundo antes
Meus cabelos, inda não eram brancos,
Sem susto, encaro a geada e a minha imagem,
Como os campos e as plantas datam linhagem;

Águas correm das fontes,
Nos jardins brotam belas flores
No firmamento brilham os astros
Fico só, no corredor dos meus sonhos, outros
São os campos e as plantas...,
Que me cantam sem regras e sem pautas.


Ofélia Cabaço
2016-09-11



domingo, 9 de outubro de 2016

Não Se Colhem Uvas Das Silvas...

Não foi a colher flores
e guardá-las para grinalda
Não foi volição nem amor
escondido numa toca,
Nem sorrisos em rosada boca
que desci ao caminho terreno
Fui, por toda a vida, incómodo;

A maçã é odorífica
Eva pecou dentando uma,
É ideia que fica...

Sei que me vestiram de melancolia
Obrigaram-me a temer o passo...
Em mim, e em dias como este,
Memórias de ontem, e de hoje,
são recordações funéreas...
Dilaceram minh´alma, e sustentam dor...

Ofélia Cabaço
2016-10-09


terça-feira, 27 de setembro de 2016

Amigo

Aos meus amigos. Zé Vieira e Felicíssimo com um forte abraço


Oh! ter um amigo
Sem que olhe seu umbigo
Que arrase o inimigo
Sendo pobre não importa
É  riqueza que nos bate à porta;

Oh! ter um amigo,
Entre nós inteira vida
Homem honradiço, digo
Nas horas do Tempo antigo
E no presente sempre sigo;

Ofélia Cabaço

2016-09-26



A Pastorinha,

O vale enriquecido naquele dia
Manta verde pintalgada, rosmaninho,
Amoras e abrunhos, misto com deslumbre visto
A pastorinha e sua melodia...
Que o vento trazia para aquém de mansinho;

Nas margens do rio cantava a pastorinha
Ternura e esperança sobre aquele azuláceo manto
Era um pequenino queixume, inibido pranto
D´alguém que procura ventura na idade;

O oiro que dura e não aquele que é vaidade
A pastorinha canta e chama
O fulgor e a nobreza da Humanidade,
Assim, devagar, para que não se extinga a chama;

Em vales e colinas é a pastorinha alcaide
E mais o seu rebanho vive em abastança
Sua vida é a nevoenta realidade;

Canta a pastorinha seus ais...
Vive em harmonia com o que não conhece
Não conhecendo, vive em jubilosa paz;


Ofélia Cabaço
2016-09-27





sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Tristeza Cansa...

Ser feliz cansa,
A tristeza ainda mais,
Alcançar alegrias é não ter descanso
Os cuidados são demais...
E não ter cuidados é não velar;

Tristeza
Prenúncio que nos obriga a devorar desilusões
Retém-nos as lágrimas, alaga nossos corações
É não querer, é não ter nada a não ser dor...
Que nos esconde, só olhamos p´lo postigo,
Lá fora é sempre escuro, constelações
Desmaiam num infinito obscuro, antigo
É o meu desejo de amor...,
Com a naturalidade e a ternura duma flor.

Ofélia Cabaço

2016-09-24


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

De Tudo Harmonia...

Quero plantar em meu coração uma flor
Que tenha Forma e seja Amor
Olhar à minha volta e viver jardim
Dentre flores e arbustos, o ser de mim
Violeta;

Ser Vento,
Correr mundo e vedações saltar
Pintar bosques e roubar pomares
Searas em revolto e papoilas caídas,
É ser vento e não ter medo...

Ser Nuvem
Enfeitar-me com diadema e brincos,
Colar de pérolas e sapatos brancos,
E no azul do céu sorrir contentamento,

Ser Brisa eu quero,
Afago ser e bocas beijar
Serenar contendas e afetos soprar
Sorver as noites e os rios namorar


Ofélia Cabaço
2016-09-21


sábado, 17 de setembro de 2016

Poema Sensitivo

Com as mãos
remexi a terra
e nela semeei,
Com as mãos
erva daninha afugentei
Com as mãos
colhi flores na serra

Com os olhos
O Universo contemplei
Aprendi com os olhos 
coisas aos molhos...
Com o coração amei,

O meu coração sentido,
chora e canta,
Surdos são meus ouvidos
ao trivial mundano, enquanto
os meus olhos minha face molham,
Guardei num abraço belos sonhos,
desejei ser eu a abraçada…,
Rubras são as rosas, análogas
ao sorriso dos meus amores,
Quando meu coração chora o adeus!

Sou ente animado, ás vezes desanimado,
Vislumbro a luz que ao meio dia
doira serras e colinas,
Sinto o correr das águas nos regatos
e o pio das aves pequeninas;
Oiço as cigarras e o seu canto ao meio dia,
mágico altar, atapetado
de  folhas e pequenos troncos,
Odores da brisa fresca,
ao nascer das madrugadas,
eu bebo, fascinada...

Ofélia Cabaço
2016-09-17



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Bendita Chuva

E o fogo escaldante
secou rostos e rosas,
No ar paira a fuligem, grotescamente!

O mal dissolve-se, coisa que não perdura,
a rodos cai chuva e brotam águas de cura,
viçosas, florescem as videiras,
despontam sobre pérgulas passíveis
em abraços entrelaçados por fios sensíveis, 

Contemplação e fascínio, encanto aos olhos,
dos telhados caem com gracejo véus de avenca,
reconciliando as primaveras com os invernos,
porque o  mal que não perdura,
se esconde a encoberto por nuvens
alvas com braços de algodão,
cabeleira matizada, olhos e ilusão,
a chuva bendita refresca emoções,
atenua o cinzento, bate com leveza,
e os botões se abrem às rosas.


Ofélia Cabaço
2016-09-15









quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mudança

Mudaram as cores,
O Sol emudeceu...
Foge a manhã doirada e os ardores
Somem-se no suave azul do céu,
Oh! Luz suprema, esperança minha
Não me deixe aqui sozinha...

Como a água corrente
Não volta à nascente,
E a flor que da árvore se liberta
Não torna a seu berço...
Não consigo encontrar abrigo
Nem pedúnculo que me acolha, 

Ficarei aqui com rosto dalgum, velha,
Esperando a viagem, adiaforismo
Eu sinto,mas renego o abismo...
Ilumina minha vida, oh! Luz radiosa!

Ofélia Cabaço
2016-09-14






domingo, 11 de setembro de 2016

Não Sei porque Odeio, mas Odeio...

Percebemos o que leva determinadas pessoas a terem emoções que produzem sentimentos de ódio, sem que tenham a mínima apetência para racionalizar atitudes e pensar soluções; não pode dar, aquele que não recebeu, i.e., amor, fraternidade, partilha ou o que quer que seja daquilo que nos ensinaram acerca destes conceitos, daí percebermos numa análise singular o porquê, muitas vezes de tanta revolta; o povo na sua genuína sabedoria diz que até para se nascer é preciso sorte. Tudo isso compreendemos, e, aqui, a emoção é de compaixão.

Todos nós, sem exceção, temos vivências, que podem proporcionar um odiozinho de estimação, mas, pensamos a causa, e sabemos o que causou a celeuma. Na memória persiste uma narrativa, uma espécie de filme, que, de quando em vez, se desenrola e apresenta algumas emoções prestativas ao desenvolvimento, quiçá, da violência, da tristeza, da angústia, da dor, da humilhação, e, só por pequenos instantes pensamos harmonia; na nossa mente, algo nos diz que situações como estas, são para eliminar, deixando todos aqueles lugares vazios e expectáveis a valores maiores, mas, sabemos o que, na realidade, suscitou esta angustiante inquietação, pois não passa de um caso, entre tantos casos por este mundo afora, sem que se chegue a vias de má-fé. É assim que deve ser, sem qualquer facciosidade.

Mas, o que é de intrigar e abismar, é quando se odeia sem se saber porquê; ouvimos sucessivamente que sem tolerância não existe paz, sabemos isso muito bem, e sabendo também, que nem sempre correspondemos ao conceito, mas, não é novidade nenhuma que também sabemos, que somos seres imperfeitos, por mais que ajustemos condições para agir em conformidade. O que pensarão mentes que odeiam sem justificação? Se tudo tem uma causa, qual a coisa tão absurda, que insiste numa condição sem causa?

As falhas de caráter podem produzir muitas veleidades, mas, tem de haver conjuminância entre uma coisa e outra, i.e., por exemplo, entre verdade e mentira, para a consumação de justiça ou injustiça..., mas, odiar sem causa, deixa-me em ESPANTO...

Espinosa: Um afecto não pode ser controlado ou neutralizado excepto por um afecto contrário mais forte do que o afecto que necessita de ser controlado”.

Mesmo usando emoções positivas, sobre as negativas, com raciocínio e esforço intelectual, como pensava Espinosa, não resulta em quem odeia por odiar...

Ofélia Cabaço

2016-09-12




quarta-feira, 7 de setembro de 2016

"FLORENCE"

Fui ver o filme “Florence”; belo filme no ponto de vista do amor, e da forma, nem sempre veemente em fazer-se alguém feliz. Atualíssimo, nas amizades interesseiras, desde um conceituado professor de música até ao vendedor de jornais. Fez-me pensar, esta história, em uma opinião, que eu própria tive acerca de um acontecimento, no que diz respeito à terceira idade, segue:

-Vi na televisão, um pequeno documentário, em que num centro de idosos do país,orientados por alguém responsável, foram personagens dum pequeno festival, representado com certa euforia pelos personagens. A ideia, para mim, naquela altura, foi a de que estavam a expor os velhinhos ao ridículo coisificado; nem sequer pensei, que porventura, eles, provavelmente estariam muito felizes. Arrepiou-me, os sorrisos, numa exposição de desdentados e alguns com dentes visivelmente estragados. Achei que a narrativa televisiva não era honrosa e as cenas péssimas. Não me alegrou em nada, e fiquei melancólica em relação à velhice e a toda a sua trajetória. Pareceu-me que alguém para se identificar na sua profissão, de forma especulativa, tinha proporcionado toda aquela representação. Hoje, coloco dúvidas e penso: estariam felizes os velhinhos? Se sim, oh! Então valeu a pena.

Em “Florence”, a hipocrisia é uma constante. O interesse da roda do mundo, a globalização violenta na ofensa e no escárnio pelo outro, é coisa que tem piorado e com toda a tristeza que sentimos, vai crescer avassaladoramente. Do cidadão comum, há uma corista que apesar da sua rebeldia, é humana e tem sentimentos, o que nos leva a acreditar que no meio de tanto interesse existe gente boa. Do filme, consolou-me um amor enorme, e uma dignidade imensa, o marido. Condenado e/ou suspeito por deixar sua mulher expor-se ao ridículo. Ninguém tinha mais respeito por Florence que o seu marido, embora algumas perspetivas fossem perturbadoras para ele que a amava. Ela, de uma bondade enorme e uma mulher de fortes afetos, em especial, pela música.

Durante o decorrer da sessão pensei numa história, que li em tempos, de Óscar Wilde: A Tia Jane, não foi parecida, mas tratou-se de algo que muito a faria feliz, e, aqui, não se concretizou...

Belo filme, fez-me pensar que fazer as pessoas felizes é um dom, e não nos cabe julgar.
Aprendi, e como todos os dias aprendo, fiquei muito contente.

Ofélia Cabaço

2016-09-07



sábado, 27 de agosto de 2016

Irredutível Dor,

Sinto o que penso
E ao pensar o que sinto
Torna-se irredutível a minha dor
Como posso negar solidão?
Como? Se não sinto solução (…)
Ao Espírito dos espíritos faço evocação
À beira do abismo grito e não oiço eco
O Silêncio que me desespera
Responde-me..., com boca calada!
Balbucia o meu infortúnio, tétrico,
A par d´uma angústia alargada,

O brio do que fui,
Esfuma-se a cada instante,
E nos que se seguem, deixo-me levar
Por cima de mim mesma...
A minha mão segura o impensável
Subo, agarro, a fundo respiro,
E, brandamente suspiro...
Dentre tumultos e desespero tantos
Abomino de quem não se sabe, impropério...
Quem me dera ser planta ou erva
Viver em absoluta liberdade,
Não ter o riso amargo da serva
E sentir que não é vã a minha existência...

Ofélia Cabaço
2016-08-27




segunda-feira, 8 de agosto de 2016

"Dá-te por contente"

Dá-te por contente”

Não me dou por contente
Se contente não estou,
Serei sempre insatisfeita, ente
No meio de mil, descontente;

Dá-te por contente”

Diz o vulgo, ante
Espanto que me desencantou
E a franca retidão é só ilusão,
Em nada satisfaz favorecedores

E porque são estupores,
Massacram razão e coração
Prazer..., só da minha fantasia

Dá-te por contente”

Imaginar é minha teimosia
A vida em si, não é desilusão,
É Dor que gera dores...

Dá-te por contente”

Ofélia Cabaço
2016-08-08





sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Quando o Espírito é Estreito,

O sol disse-me na despedida
que terei um bom dia, ávida,
Respondi:
Se ninguém mo roubar...

Roubam a paciência,
A saúde e a alegria, distraída,
Deixa-se roubar a consciência,
Mas, não é por mal,
Até os astros se confundem
Conforme as noites e os dias,

Quando dizemos que o ar é para todos
Somos tolos,
Desde que se nasce, vive-se em asfixia
Como uma roda que range e chia...

O frio é para ti,
O vento que te leve finalmente
A chuva que te alague,
E a neve? Enterra-te certamente;

Não esquecer:
Com todas as possíveis intempéries
Todos os dias o Sol nasce, e renasce
No coração da melhor intenção (...)

Ofélia Cabaço
2016-08-05


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Às vezes não existe ÁGUA!

Quando caminhamos num deserto sem retorno, é porque a água faltou, e a natureza à míngua de uma gota se aflige, e, dolorosamente, sucumbe à beira dos rochedos que se diz serem robustos na deferência do Tempo. Pensando o mundo, as coisas e as pessoas, subjaz a raiz ancestral, que na era moderna é continuamente desprezada; viver o fragor terreno, atravessando florestas, subindo colinas, sentir a solidão e ouvir os gemidos nas noites é sentimento de cada um de nós, existentes; mesmo que os rios sequem, há sempre um riacho onde a nossa alma se espelha e nos configura formas, sombras e sorrisos (...)
Nos bosques, e no silêncio seu, criptomérias e cedros onde só o céu contempla suas copas, conseguimos encontrar nossos irmãos, e aí, apetece-nos adormecer com a brisa serena que as ramagens, suavemente, como pessoas, numa balada etérea nos contempla.
O universo permanece uno e abstrato; no coração dos homens um cortejo fúnebre dilacera matéria para  desmedida riqueza; e, porque nos bosques existem árvores maiores, com grandes golpes se abatem as pequenas, incredulamente! Impedidas de crescer e ocupar espaço é o mote para não se desenvolverem, e repete-se na visão nossa as grandes árvores, as que têm raízes sejam de que condição, as quais, de nada servem ao rigor moderno, mas, florescem em matéria e riqueza (...)
Percorremos uma aldeia de pessoas simples, pessoas de muito trabalho e alguma rudeza, intempéries marcam seus rostos, mas, quando lhe batemos à  porta ouvimos uma voz a responder, porque as nascentes fulguram em cada canto e à beira do poço, se gritares, ouves o teu  eco! Ser bilha de barro, é manter a água fresca, ao invés da bilha d´oiro que serve a vaidade e aumenta a ganância.
Não julguem o meu sentir, porque de todas as riquezas do mundo a que mais desejo são Pessoas.
Ouvir as águas transparentes a transbordar em abundancia, do alto dos monte à pequena esteva, eu anseio.


Ofélia Cabaço

Por púcaro de barro,
Bebe-se a água mais fria,
Quem tem cuidados, não dorme
Vela para ter alegria.

F. Pessoa

........................................................
É estranho ver o ânimo destes indivíduos,
Destas grandes almas, supostamente sábias:

Sendo a natureza de tais almas, o amor
Por lugares que lhe granjeiam eminência,
E julgando-se muito superior a nós
Em intelecto (embora nos procurem),
Eles fantasiam o assombro e a estima
Que sentimos ante as coisas que dizem ou fazem, o que os leva
A procurar dilatar ainda mais o nosso espanto:
Coisa que julgam não poder fazer senão
Comunicando-nos os seus altos pensamento.

Daniel, Tragedy of Philotas,






Não-ser,

O medo que me aperta,
Num susto que me torna incerta,
Momento brumoso, vácuo renovado
De tristeza e lágrimas, choro cansado...

Impiedoso, assim de repente,
Conduz a razão e minha mente
O medo, tenebroso e absurdo e escuro...
Que me obriga encontrar o que não procuro,

Dentre as coisas no tempo e no espaço
Receio, e não quero o teu abraço...
Pensar o quanto desejei abraços!
Mas o teu Não, e, às vezes Sim, e, agora, Talvez...

Porque o que vem de ti não é de vez,
É para Ti glorioso roubar Existência
Tu, que sempre atormentaste minh´essência,

E morri, e vivi, e morro e ressuscito e volto a morrer(...)
Nesta dor, pensando o abismo, contínua luta,
Que me cansa e minha consciência disputa;

Não-ser,
Não quero o teu aceno, viver em pleno,
Ás vezes Sim, e, agora, Talvez,
Meu coração esteja sereno (...)

Ofélia cabaço
2016-08-01






segunda-feira, 25 de julho de 2016

Papel e Tinta

Uma folha vazia de letras

Sem qualquer sentido…
Como quem espera uma disputa
Jaz moribunda de cansaço,
O tinteiro azul de aparência
Secou a sede da sua essência
A escrita viajou, sem piedade
Deixou silêncio e inspiração
Tudo permanece sobre a mesa,
O vento folhas leva, sôfrego!
Gemem as árvores despidas
Uivos de esfomeados lobos
Ecoam da floresta a casa,
Aonde houvera flores e amores
Apenas sombras vagueiam
O vazio, e a folha, e o tinteiro
A solidão, inspiradora, lúcida,
O amor, a poesia e os anseios
Suores, humidade e frio
Os medos (…)
A mesa despida de esperanças
E a vida que dorme, imune,
Aos caminhos da injustiça
Às intempéries dos Invernos
Até que acorde numa manhã
Radiosa com risadas compostas;

 

Ofélia Cabaço,  2013-10-17

 


domingo, 24 de julho de 2016

Desde Que Sou, Amo as Casas...

Porta,
Entro e lá dentro tenho asas
Pão, flores e um alpendre é a minha casa;
A mesa e uma jarra, toalha branca
Cheiro de alfazema, livros no chão,
É d´gente o coração;

Janela,
Contemplo a paisagem
Vislumbro os poentes
Sinto encantamento e Beleza
No que mais gosto na Natureza,

Caminho,
Aquele que me leva aos rios
Calado e sinuoso,
Sem que me veja o rosto
E lamente o meu desgosto...

Pensamento,
Prossigam meus delírios
À descoberta do Majestoso,
Que os leve o vento na asa
D´ave que não tem ninho, casa
Eu tenho e um silêncio miraculoso;

Ofélia Cabaço
2016-06-24