domingo, 30 de junho de 2013

Nuvenzinha

Muito leve uma nuvenzinha
Vai beber águas mansas do lago
Flutua cândida sobre a vinha
Num sussurro de gotas e bagos

Distante do álveo, a nuvenzinha
Suspira campos de magnólias
Ao entardecer no ar se some
Num adeus aos homens se consome
Esconde-se no firmamento, entrelinhas

Outras gotas, encontra a nuvenzinha
Numa cena de mistérios e castelos
Cabeças de cavalos e muros derrubados
São o místico azuláceo de vassalos
Corrupio de mortos abandonados

E, os vivos? Rumorejar descontente
Toque de liras gementes,
Sob chuva ácida dos polos
Na escuridão de ralhos amorfos
Impante de falsos egos, tolos

Brilha e sobe, e desce e sobe nuvenzinha
Rega meu jardim de açucenas
Diz “viva” aquela minha florzinha
Suas pétalas sequiosas de águas plenas!

 

Ofélia Cabaço   2013-07-01

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Borboleta Branca

Borboleta branca que me rodeia
Na desenvoltura de suas asinhas
Assalta-me com voos e ideias
Que elevam pensamentos e pedrinhas

Branca é sempre aquela borboleta
Num rodopio talentoso me fascina
Traz-me mensagens d´além, poeta
Aquieta meus tormentos de menina

Brincalhona a borboleta branca
Saltita de flor em flor em alegre dança
Orquestra melodia no meu ouvido
Subtilmente poisa na minha anca

Assim quieta, repousa em olvido
Na quietude das eiras, poetiza a bonança
Cicio resposta na sua asa
Levada a cabo até ao firmamento
“Diz-lhe borboleta branca,que estou em casa”
Que honro saudosa, seus ensinamentos

Oiço risinhos de contentamento
No ar aromas de tais flores
Cenas de amores, aninhamentos
Saudados na alvura da borboleta
Tão igual à espuma dos mares
“Diz borboleta ao poeta!
Que vivo momentos avessos!”

Assim quietas, na harmonia da natureza
Conversamos os vivos e os mortos
Ébrias de sonhos e voos na beleza
Saudamos o universo com  risos e saltos

Borboleta branca fica comigo, de menina
Até ao tecido seco descolorido, fica!
Fêmea criadora de luz divina
Com sepultura no meu livro de pelica.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-26

Atlântico

O mar que é imenso,
Soberbo de bosques encantados
Orlados de bons incensos
Que nunca viram a luz do dia
Flutua, desprovido de rochedos
Ondas flamejadas d´oiro, tardias
Metamorfoseando as águas profundas
Numa rima infinita de cores prateadas
O mar doce onde poisam gigantes!
Nos horizontes de tintas rosáceas
Para além dos portões rangentes
Este mar atlântico que prefiro
Povoado de cavalos- marinhos,
O mar azul, vestido de verde
Em noites de prodígio, um suspiro
Entre algas, medusas e cravinhos
Carregado de preguiça, o mar perde
O fundo povoado de escarlate, sangue
Dos que navegaram e ficaram
Sussurro na divagação das ilhas
Esmeraldas em colcha de lentilhas
O mar que eu amo e não sei,
Com vagas de anseio e dor
São as águas de minha vida
Vozes das poesias que deitei
Passado de caravelas idas
O mar que me acordava agitado
Com invenções de sonhos a desoras
Nas manhãs frias com honras,
Ensinou-me as suas caminhadas!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-26

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sua Criança

Revelador de ternura
Num olhar afeiçoado
Cumplicidade e doçura
Com reflexos abençoados
A Mãe e sua criança
Bem - querer e esperança
Sorrisos e leves ralhos
Marcam saudades no beiral
Recordações idas, baralhos!
E a casa um espiral
Criança voa alto
Na evolução de suas asas
Nunca para, descansa no planalto
A Mãe vislumbra uma estrela
Que ilumina o que é dela
Asas derrubadas as suas,
Jazem aflitas no vazio
A bruma esconde estufas
Como o mar engole búzios
O sorriso e a ternura
São visitas assíduas
O Coração e a saudade
Aclamam generosidade
O enlevo que perdura
Na Alma das duas
Mãe e criança!
Num olhar afeiçoado
Com abraços suados,
Ah quem me dera
Trepar muros de heras
Ser criança outra vez
E ser feliz de vez!

 Ofélia Cabaço  2013-06-21


quinta-feira, 20 de junho de 2013

A Viagem

Na rua estreita
Vi passar em tempos,
Casais de mãos deitas
Sorrisos e cabelos grisalhos
Muito leves e sem agasalhos
O tempo ablativo, vertiginoso
Embalado voluptuosamente
E,
Curvados passam  em silêncio
Na minha rua, observo com assombro
Espectros reverenciados, vagos, a idade
E eu, com prenúncios (…)
Recorro ao espelho que denúncia
Prata fluída nos meus caracóis
Pensamentos e cismas em abundância
Foi o tempo que matou meus girassóis
Campos semidesertos, idades cumpridoras
Despertam a razão conservadora
Pitósporos que plantei,
Dançam no rodopio de murmúrios
Sacodem sem maldade as memórias
Na minha rua,
Passam os velhinhos, lentos
Carregam nas costas angústias recentes
Sucedâneo de sofrimentos
Apenas querem combinar a morte
Na agitação das suas mentes
O receio e anseio! Sem norte,
Surgem as noites sem luz
Rangem as portas ao truz-truz
Na parede um escuro ponto
Interlocutor dos medos, um conto:

Morte rabina

Que me deixou menina
Um dia, credora
Levar-me-á na neblina!

 Ofélia Cabaço  2013-06-20


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sapo

O sapo que fora príncipe
No seu lamento noturno
Exclamava um dia ter sido Filipe
Olhar florentino, oiro de Saturno
Amara ferverosamente sua Bela
Esbelta, fulgurosa, como só ela
O sapo!
Dentro d´água sua pele humedecia
P´ra consolo de quem padecia
O sapo que fora príncipe
Em castelos, cristais e acepipes
Viajara no vento e no amor
Aquecera lençóis e quebrara encantos
No mundo fora Altar-Mor
Percorrera bosques e recantos
Amou, abraçou Bela sua donzela
Trágica noite montada de gazelas
Uma treva, um sapo no charco
Vácuo com castelos desfeitos
Pedaços de amor e papel desbotado
Bela que amara um imperfeito
Príncipe desnaturado!
Sombras intemporais,
Sabores a lágrimas e corais.

 

Ofélia Cabaço   2013-06-29

 

terça-feira, 18 de junho de 2013

INSPIRAÇÃO


Inspiração não me atormentes
Fingindo abandonar-me nos dias
Sabedora que és e não mentes
Que minha vida sem ti é vazia
Tu, inspiração que me acordas de repente
E me levas exultante e transparente
Contigo as colinas abraçam a primazia
Da minha essência volátil
És a junção dum sonho subtil e,
Minha confidente nos voos mais altos
À beira de castelos pintados
Me embalas dolorosamente
Roçando meus trapos vaporosamente,
Inspiração não me atormentes, tenho frio!
Não me faças recear a tua perda
Serei uma louca criadora contigo
Poetizarei às flores nas colinas
Sorverei a beleza das ninfas
Tocarei a teu lado o colorido
Do elevado Sol candente
Pintarei do cinzento ao garrido
Avistarei a saudade de ti
Não, não me deixes oh inspiração!
Não tornes os meus dias em aflição!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-18


 

A Folha

Nasceu a folha num galho
Sussurra crescimento viçoso
Num voluptuário esgalho
Estende-se num abraço cioso
Adormece na ternura do anoitecer
Acorda na airosidade do amanhecer
Exala verdura e feitiço
E porque nasceu e cresceu
Tornou-se afago e ruboresceu
Entre alvores de festas afrodísias
Exala perfumes e fantasia
Num retorno turbilhonante
De brincadeiras impassíveis
Na visão dos sonhos impossíveis
Uma cadeira no baloiço,
Olhos fechados, um desejo reboliço
Êxtase de aromas, fervilhar da mente
Mechas de vento delirante
Assombros na sombra das asas
Folhas, rumores da minha casa
Árvores que me afagaram ao nascer
Àvé natureza, esplendor do meu viver!

 


Ofélia Cabaço  2013-06-18


 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Texto primeiro – 17 de Junho de 2013

Antero de Quental nasceu em Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel em 18 de Abril de 1842, foi batizado na igreja de  S. Sebastião de Ponta Delgada. Fez a instrução primária na mesma cidade e aprende aos quatro anos francês e com sete anos tem lições de inglês com um professor de seu nome Mr. Rendall. Com dez anos vem para Lisboa estudar no Colégio do Pórtico, na altura dirigido p´lo  poeta  Dr. António Feliciano Castilho, situado na Rua dos Navegantes.
Um ano depois o colégio é encerrado e Antero regressa à sua ilha. Dois anos depois faz o exame da instrução primária. Volta para Lisboa e vai estudar para o Colégio Escola Académica. É nessa altura que começa a escrever versos.
Com dezasseis anos matricula-se no 1º.ano de Direito na Universidade de Direito, onde é admitido.
A partir daí escreve em vários jornais e revistas, é um acérrimo crítico da política de então, e relaciona-se com os maiores intelectuais da sua época.
Era considerado como um génio de beleza insondável e uma inteligência proeminente. Engrandecido pelo seu carater e alma transparente. Tinha um olhar azul profundo envolto de uma candura inexistente em qualquer moldura terrestre.
Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, Eça, Manuel de Arriaga,Visconde de Faria e Maia e muitas outras personalidades de uma época de oiro, com mentes brilhantes na cultura portuguesa, foram seus admiradores e amigos.
Antero. Não foi o estudo do Direito que o interessou particularmente, se bem que na Universidade de Coimbra se tornou bacharel formado em Direito. A sua absorvência foi total, na revolução intelectual e moral daquela época.
Viveu confrontos de vária ordem durante a sua estadia em Coimbra. Passou por momentos de incertezas e retórica persuasiva em relação aos ensinamentos religiosos que recebera da sua família, pertencente a uma aristocracia, com descendência nas mais antigas famílias de colonizadores.
Acrescentemos a sua imaginação prodigiosa na mais completa  ardência, em que foi privilegiado pela natureza.
Começou aos dezoito anos a penetrar teimosamente no pensamento das coisas, na fabulosa poesia que escreveu, e que nos deixou como herança para além do tempo.
Foi um espirito moderno, avançado com todos os detalhes a ele vinculados, numa perspetiva de acompanhamento na evolução de uma sociedade Lisboeta sem características de coisa nenhuma. Chamavam O Cenáculo a uma pequena reunião de amigos em sua casa, em Lisboa, que acontecia sistematicamente durante o dia com uns, e à noite com outros.
Antero era o cérebro enciclopédico dos mais profundos conhecimentos daquele meio intelectual desde a física, a química, a fisiologia, o direito, a linguística e a história.
Eram as bases para um estudo geral com fim a um sólido conhecimento nas várias vertentes da filosofia portuguesa.

 

Continuação nos dias que se seguem.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-17

 

Queria

Queria ser erva verdejante
Namorar com lírios do campo
Babar-me de viço pujante
E nas noites, ser um pirilampo

 

Ofélia Cabaço 2013-06-17

Partícula

Afugentei de ti o frio
Beijei teu olhar sombrio
Ensinei-te baixinho o amor
E, pintei teu sorriso de cor

Ah quem me dera outra vez
Crescer a teu lado talvez
Com tuas mãos traçar o futuro
E,
Ser partícula do teu amor imaturo.

 


Ofélia Cabaço  2013-06-17

A Seus Pés

Pastos de ervas ondulantes
Muros e pedras abundantes
Caminhos solitários
Águas mansas dos rios

Torrente abrasadora
Paisagem devastadora
Ovelhas mansas àquela hora
D´tardes incendiárias

Pastora cismada de ideias
Fumegantes de sonhos e quimeras
Passam por ela, Primaveras
Num aflito refúgio doutras eras

Os muros gemem solidão
Pedras transformadas em cão
Morreram as ervas,
Renasceram as novas!

Nos pastos mais de cem
Pedras caídas intumescem
E os pastos verdejantes
Transformam-se,
Perfidamente em Invernos.

 

Ofélia Cabaço  2013-06-17

sábado, 15 de junho de 2013

Um Dia

Soube quem eras um dia
Receosa, escondi-me num botão
Pequenina, trémula,  contive  a respiração
Na minha mente de criança, confusão
Flores de cheiro e bondade
Recolheram minha oração

 


Ofélia Cabaço  2013-06-13


 


 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

13 de Junho

Neste dia de Santo António
Nasceu o poeta Pessoa
Festas, casamentos e património
São o que Deus abençoa

Pessoa arrevesso ao casamento
Amou Ofélinha em pensamento
Santo António com astúcia, apadrinhou
Na escrita, o poeta sonhou

No berço, Fernando resmungou
Foram os sinos do Chiado, acordou
Na cómoda Santo António sorriu
Seu menino bochechudo mentiu

Fernando António não casará,
Escreverá para além dos sentidos
Livros e confusões deixará
Em todo o mundo discutidos.~

Não subirá aos altares clérigos
Voará antes, na utopia dos sonhos
Pessoa, escreverá desapegos
Na imaginação fingida dos ninhos.

Santo António e Pessoa vultos nas noites
Ambos felizes, saudaram com vinho
Pessoa alegre, ébrio de inspiração,
Santo António com cheiro a manjericão

 Ofélia Cabaço  2013-06-13

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Buzio

O teu olhar caiu no meu colo
Com sabor a consolo
Nossas almas outrora afinadas
Em silêncio ouviram os toques,
Choviam beijos
Num harpejo de desejos
Doidos, na vaga da fantasia
Vivemos quimeras em demasia
Incendiamos a loucura e os delírios
Eu e tu, apenas num olhar,
A água transparente corre nos rios
O nosso amor embalado na torrente
Desapareceu no tufão do mar!
Num búzio escondido oiço a tua voz
E o mar, a atormentar tua mente….
Sussurro o meu amor por ti!
No búzio, um abraço senti.

 

Ofélia Cabaço 2013-06-

terça-feira, 11 de junho de 2013

Madrugada

Todos os dia o mar
Tingido de tons e cores
Poentes de oiro
Poentes de cinza
Nuvens pintoras, vestidas de branco
Pinceladas rosáceas metamorfoseando
Azuis, roxos e os doirados (…)
Cinzentos tendenciosos,
No céu os tons são sonhos
Que enrolam meus sonhos na cisma
Agonias! Não quero morrer!
Manhã pontual, exangue,
Um arco-íris a jorrar sangue
Verdes desvanecidos escorrem
Lágrimas em constante fluxo,
Minha alma, nua de alegria
Naquele silêncio matinal
Madrugada molhada
Envolvência mística, sumarenta
Despedida do Inverno
Sinfonia de dorida música
Folhas caídas no beco viciado
O Sol tímido a espreitar!
A luz ténue do candeeiro cansado
O livro da sabedoria amarrotado
Um cigarro apagado,
Ao longe o mar balbucia saudade
O mar da minha ilha, da minha cidade!
O mesmo mar azul dos pintores,
Que vive dentro de mim!
 
Ofélia Cabaço 2013-06-11

 

Dez de Junho

Dez de Junho, Feriado Nacional dum poeta que foi dos maiores na cultura portuguesa. Ainda assim e porque nunca foi homenageado em vida e a prova disso é que morreu paupérrimo, os discursos hipócritas foram alvo na festividade de um dia tão especial. Não generalizo, mas falo de um que veementemente foi o mais fingido.
Como é que alguém pode falar de Agricultura e na ajuda para tal área, se o próprio, a troco de dinheiro mandou que os portugueses abandonassem as vinhas, as pescas, os lacticínios, o gado, as fábricas e afins.
Será que nós temos mente curta? Será que sofremos de amnésia?
Recordo que nos Açores tiveram que enterrar carne de vaca, porque não poderíamos exportar! A produção do tomate naquela altura foi desperdiçada única e simplesmente para obedecermos a ordens europeias. Os lacticínios a mesma coisa. A agricultura foi abandonada obrigatoriamente, e a prova disso foi a de que os espanhóis e não só, compraram quintas, onde o progresso daquelas pessoas empreendedoras é avultado.
O Marquês em tempos memoráveis empenhou-se exaustivamente na plantação de vinhas, especialmente as do Douro, para que não fossem parar às mãos dos ingleses e pudéssemos obter boas castas. E hoje, qual a preservação do que é nosso?
Agora fala-se mansamente na agricultura? Então porque vender o que é nosso atualmente?
Salazar, que não foi bom para ninguém, preservou as nossas conquistas, se bem que aprisionadas, para não terem a evolução que o nosso país precisava e ambicionava. Daí o acontecimento tão desejado, o 25 de Abril, alguém viu por aí passar o 25 de Abril?
Não, está preso e morre lentamente!
Como se pode dizer que as crianças não devem ser alvo para fins determinados, quando a maioria das mesmas passa fome!
Ah! Já percebi, não são dessas crianças que se fala!
Não é boa altura para mudanças governamentais e então? qual a posição da mesma pessoa, em relação ao governo Sócrates? Também não percebo!
Enfim ……………………

 


Ofélia Cabaço  2013-06-11

 


 

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Consciência

Que me libertas de pesares
E me empurras p´ra claridade
Oh consciência! fala-me sem teus ares
Eu e tu somos cumplicidade

Adormeço com tua companhia
Sempre atenta e com alegria,
Ontem não deixaste que falasse com Jesus
Conversaste e a mim fizeste jus

Minha confidente, conselheira pertinaz
Jugo das minhas decisões
À vezes ácida como ananás
Oh consciência, não derrubes minhas ilusões!

Elas são ímpeto de ânsia e justiça
Faz brilhar a minha transparência
Sem o menor receio de falência,
Ajuda minha mente, nunca ser postiça!

Ofélia Cabaço 2013-06-10
Eu já cantei, e agora vou chorando
O tempo que cantei tão confiado:
Parece que no canto já passado
Se estavam minhas lágrimas criando

Cantei; mas se me alguém pergunta quando?
Não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado,
Que o passado por ledo estou  julgando.

Fizeram-me cantar manhosamente
Contentamentos não, mas confianças:
Cantava, mas já era ao som e ferros.
De quem me queixarei, se tudo mente?

Porém que culpas ponho às esperanças,
Onde a fortuna injusta é mais que os erros?

 

Luís de Camões

 

(Morreu a 10 de Junho de 1580
 “ morreu pobre")

domingo, 9 de junho de 2013

Gatsby

Fui ao cinema. Vi Gatsby. É um belo filme. Depois daquelas cenas de muita atribulação com festas e mais festa, com loucuras exasperantes; desconfianças misteriosas através daqueles telefonemas constantes, percebemos como grande foi o amor de Gatsby por Daysi. A maior lição foi a de que por mais que partilhemos com os "supostos" amigos, aqueles que participam nas alegrias e nos eventos que proporcionamos, na hora derradeira, nem sequer aparecem as suas sombras. Gatsby não era elitista, nem seria, porque o que ambicionava mesmo, era rever Daysi, mas, dando oportunidade de divertimento a todas as pessoas, até de estato social bem diferentes, ele Gatsby, só teve a seu lado o único amigo que teve verdadeiramente, e, convém salientar, que era uma amizade bem recente, uma daquelas amizades verdadeiras que estimam, respeitam e admiram, sem fingimentos. As longas amizades foram pérfidas e oportunistas. Este filme surgiu de um romance de F. Acott Fitsgerald em 1929, portanto é intemporal.
Toda a vida será assim. Quando damos a todos os níveis, as pessoas recebem, mas na hora e/ou quando estamos em baixo as amizades esfumem-se para o inferno, talvez!
Eu penso e sinto, que as amizades são regadas com pequenos gestos, não se pode ignorar a felicidade ou a tristeza de uma amigo, só porque não nos apetece e temos mais que fazer!!! Isso não é amizade! Inteligente é o Ser que faz de conta que não percebe estas atitudes, mas dá para compreender quem é quem! Estes, conseguem viver com certa serenidade, excluindo pessoas desta natureza das suas vidas.
É uma desolação! Mas enfim, cada um tem a educação que recebeu, disso ninguém pode fugir, da falta da educação que recebeu! Até conseguem, se forem grandes e diferentes, mas para se ser grande ou diferente, É-se mesmo, sem tendência para atitudes desprezíveis.
O mundo está a desmoronar-se, cada dia que passa é um desconsolo total.
Com tudo isto aconselho-vos a verem o filme, é magnífico!
Ofélia Cabaço 2013-06-09

sexta-feira, 7 de junho de 2013

TELEJORNAL 06-06-2013

Ontem no telejornal, tive ocasião de sustentar com mais enfase o sentimento que nutro na desmitificação por pessoas que, por qualquer razão, foram ou conseguiram ocupar um determinado cargo ou relevo apenas e tão só p´la cadeira que ocuparam e, porque o povo, muitas vezes está em forma de sesta, e assim sendo, deixa-se levar por uma brecha descuidada.
Porquanto, analisando os feitos que aquelas pessoas conseguiram foram só e apenas fachada. Sim porque convenhamos há pessoas que nos cargos fazem muitas coisas boas e outras muito desagradáveis, mas, vá lá, fazem coisas!
Depois existem pessoas em forma de figuras que são objeto de uma total descredibilização, que até o povo, aqueles que as mesmas pessoas acham de menos valor e de ainda menos direitos para seja o que for, percebem e não esquecem nunca aquelas atitudes.
Endeusar seja quem for não é a minha tendência; Admirar e orgulhar-me de certos talentos, é para mim felicidade, mas perceber que antes de tudo isto, a pessoa é pessoa é para mim o auge da essência humana. Somos todos pessoas e todos temos os mesmos direitos.
Há quem diga que as pessoas devem ser tratadas conforme as suas possibilidades, por exemplo, um hospital não é um supermercado, portanto, as pessoas devem ser tratadas conforme o dinheiro que têm; Isto em pleno século XXI!
Ainda existem personalidades, que apontam o dedo a quem recorre à greve para melhorar os seus direitos ( eu não sou professora)! E, fazendo o povo de ignorantes, dizem que as crianças não devem ser utilizadas para determinados fins! Perplexa, eu fiquei! Tanta conversa populista para ensombrar a origem resultante na fome de tantas e tantas famílias nos nossos dias, das crianças que vão para a escola com FOME! da falta de motivação dos agricultores aconselhados a deixarem de trabalhar as suas terras, na eliminação dos cursos profissionais que enriqueciam o trabalho dos operários nas fábricas e por sua vez engrandeciam o país na importação e exportação; na hipocrisia da consolação com esmolas dadas aos desprotegidos para serem rostos agradecidos nos órgãos de comunicação! Enfim, o que nunca esperamos foi haver a réplica de que: Está tudo bem assim e não podia ser de outra forma!e, porque só assim pagaremos as nossas dívidas!

Apreciei o título do livro “ a Última Criada de Salazar”. Cumprimento o autor, mas não concordo com a direção da exposição da personagem.
Ainda menos aprecio, a forma ou o frete, como um tal personagem (figura pública), como os media apregoam, fez e FOI EVIDENTE no cumprimento à Senhora.
O que é que esta gente se acha? Tudo isto é resultante da falta de sabedoria! É falta de educação! É falta de civismo! É ser-se snobe e vazio! É ser-se mentiroso descaradamente!
A liberdade que obtivemos à custa de gente com alma e ideais, de gente grande, que morreram no caminho da sua luta, e de ainda outros, que sofreram na pele as mais diversas atrocidades, foram benefício para muitos morgados ocuparem lugares, onde a continuidade da soberania de um país e das suas gentes deveria ser DIGNIDADE, a consumação para uma população feliz. Mas não! É notório e público as ações e os dizeres patéticos que nos tornam nos palhaços pobres de um mundo que não é o de OZ!
Depois, todos sabem tudo, e todos, nada fazem, a fim de não existir desarmonia nos objetivos de cada um.
Não é difícil salvar-se uma criança que se VÊ cair na piscina, e, o sentimento de heroicidade é sustentado e vangloriado sistematicamente, quando todos aqueles e todos nós poderíamos salvar e/ou ajudar milhares de crianças que morrem de sede, fome, doenças e misérias todos os dias das nossas vidas. Disto não se fala, é mais pálido utilizar-se as crianças para entravar um desejo descontente, que até, a ser falaciado de forma assertiva quase toca os corações de quem desejamos domar para mais tarde torturar!

Ofélia Cabaço 2013-06-06

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Devaneio

Nu, ali ao lado,
Só o sabugueiro ondulava
Príncipe encantado
No rio se banhava
Naquela torre ela esperava
Visita de quem amava
Fechada na torre agonizava
A saudade escrupulosa enganava
As noites claras de Agosto
Estampavam o reflexo do desgosto
Nem sombra de esperança ou ideia
Estimularam sua ceia
Seu peito estremecia na ardência
Dos desejos, vozes do divino
Entre preces e carícias de menino
Ao longe, os sinos badalavam
Tão perto, ele e ela estavam
O sabugueiro vestiu-se de branco
O rio tornou-se vale de lágrimas
O príncipe endoidado nas chamas
Nus ficaram os apaixonados!

Ofélia Cabaço 2013-06-05



Mia

Eu amava os livros
Sua prosa e poesia, sentidos!
Na feira encontrei o escritor
Fitei seus olhos azuis, o mar!
Fascinei a alma com ardor
Gravei no coração suas palavras.
Na minha cabeceira, Mia,
Conversas nas imensas lavras
Na varanda Frangipani, goiabas,
Acácias rubras no alpendre
Silêncio! a leoa uiva, confessa!
Rio de sangue, sonhos de esmeralda
Kulumani com seios de mulher
Noites abafadas de cio, sensualidade!
África mágica, com cheiros a canela
De amor intenso………………….
O Lideia tomou Arcanjo e sua amada
Silência morreu, um pedaço de Hanifa!
E, o escritor narra, e poetiza, e cria!
África embevecida abençoa este Ser!

Ofélia Cabaço 2013 05-03

terça-feira, 4 de junho de 2013

Momentos (..)

Momentos do passado foram
Desvanecidos na impiedosa angústia
Mal brilham na boca das lembranças
Tão lentos, assustados como velhas tias,
Moram longe,
Sorrateiramente surgem na manhã de luz
Pálidos, saboreando um consolo,
Tão breves como o tremor do solo
Nas sofridas ilhas, varandas rachadas
Miragens arquitetadas, embalsamadas
Memoráveis escritos com ponta de penas
Astros ocultos na sombra da ilusão
Momentos cor da terra, sinos e hinos
Mocidade, regato de água barulhenta
Baladas e emoções!
Momentos saudados no temor das bocas
Sótão de velharias, silêncios e buscas
Tão breves !
Flores esbatidas no esquecimento
Momentos! Mocidades idas!

Ofélia Cabaço 2013-05-23


Artistas

Os artistas não se entendem, confundem a realidade das coisas com as coisas da realidade, amam o silêncio das vozes e querem o barulho da alma. Choram sem querer, o bem querer anseiam. Conversam com o Sol e poetizam com a Lua. Pintam paisagens cinzentas com cores da esperança. Reivindicam a angústia quando ela foge, amam um só corpo natural, veemente de prazeres e do nada! São felizes na sua tristeza, na felicidade, estranhos!
Sabem dos sons para além do firmamento e voam e voam e voam como pássaros feridos.
No universo escrevem, pintam, moldam, representam o que não são, mas são em toda a parte.
Os artistas vivem bebendo cálices de inspirações sublimes, respiram o que não existe, adormecem de cansaço para além do infinito! Artistas, sombras de sons e dons, possuidores de fantasias na realidade imutável.

Ofélia Cabaço 2013-05-31

Tão Apenas (…)

Fui na asa branca da gaivota
Encontrei corais num mar transparente
Há mil anos vivi amor contente
Arrebatou-me o querer imenso
Rodeia-me a tua alma, devota
Reflexo de oceanos e poentes
Sou parto dum passado denso
Água sou (…) sofreguidão e sede
Não tenhas medo, apenas te amo!
A tua sede, eu sei ! Água pura,
Semente de nascentes com secura
Não tenhas medo apenas te amo!
Olhas-me com teu olhar torvado
Abraças-me no ínfimo tornado
Tens medo de ti, de mim, da morte
Vem na outra asa branca da gaivota
Aperta a minha mão, oferece-me Sorte!
Não tenhas medo, apenas te amo!

Ofélia Cabaço 2013-05-30

Chuva Breve

Pingo de chuva luminoso
Tocou minha face esta manhã
Senti meu amor majestoso
Sua mão, acenou-me sem manha
A alegria libertou meus desejos
Então, doentios e sem ensejos
Um emaranhado de borboletas
Adormecidas no palco do desencontro
Voaram de folha em folha ao encontro
Duma esperança tímida, quase obsoleta
A minha alma tomou frescura d´amor
Arejada, aconchegada de sonhos e cor
Adormeceu no enlevo da letargia dos poetas.



Ofélia Cabaço 2013-06-04

domingo, 2 de junho de 2013

Tédio

Sentir que as pessoas menos boas
São boa casta,
Confundir delicados valores!
Altruísmos de papel desbotado
Bocejar, saborear o Nada!
Deixar que areias intrusas
Embaciem a vivacidade dum olhar,
É sentir tolice, inutilidade
Zumbidos malinos, ensurdecedores
Apatia para contento de muitos,
Desgosto para quem é!
Tédio é ficar triste, garganta seca
Amargos de boca, desprezo na alma
É desconhecimento de ser quem é
E querer morrer (…)
Não ter ideias, pasmar, olhar o vácuo
Tentar descobrir o que não existe
É mármore e ser chacota!

Ofélia Cabaço 2013-06-01