terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Tumultos

No meio dos tumultos de minh´alma,
Inquieta, anseio… e penso…,
Viver apenas simplicidade e Verdade
Desfolhar afetos como pétalas de rosas
Vermelhas ou brancas, preciosidade,
Tanto faz,
Preciso que alguém viva dentro de mim
Para sentir o que me diz o que eu digo,
E perceba aquela minha voz pressurosa

Não me importa o pico das rosas
Nem o desmaio do carmesim …
Apenas desejo cor, Amor e Verdade
Quero regado o meu espírito exaltado
Exaltado infinitamente, à mercê da lealdade!
Não, eu não quero anseios conturbados
Nem ser poeta pateta…
Antes, esvoaçante borboleta!

Quero ter em mim, Amor doce como o luar
E uma ternura capaz de minha dor apaziguar
Desejo o simples do mais Simples…
Gorjear como as aves no verde vergel,
Eu quero…
Ser fausta, eu anseio!



Ofélia Cabaço
2014-12-30






segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Queria!

Queria ser erva verdejante

Namorar com lírios do campo

Babar-me de viço pujante

E nas noites, ser um pirilampo

Ofélia Cabaço


À Beira do Caminho,

Denso foi o nevoeiro que fez das montanhas catedrais

Lá longe, muito longe, espreita a claridade

Poisa palidamente, transforma as vidraças em cristais,

Surge a Esperança resplandecente e sem idade,

Respingou gotas de orvalho na minha triste saudade

Ela, que não se cansa de me enganar (…)

Um dia conversei com o Fado e despedi-me com desolação

Mas a vida deu-me abraços de fingida consolação

Sentei-me à beira do caminho e refleti impossíveis,

O vento deu-me beijos, afagos e ilusões aprazíveis

A Lua presenteou-me com sonhos e quimeras,

Enfim, simbolizei os afetos com coroa de heras.

 

Ofélia Cabaço


 2013-10-09



Personagem da “Bruxa de Córdova” descrita como eu a imagino.

Camilo inventou a bruxa:

Córdova com subtis primaveras

Atapetada de carqueja e alecrim

Inda bruxas não houvera (…)

Apenas monges e sacripantas

 

À beira de pedras e moinhos

Serpenteavam terras de cominhos

E a mulher donzela amante

De tão formosa foi adiante

 

Vagueava ela pelas ruas, nua da razão

Amou um cavaleiro fervorosamente

Sepultado em seu coração, mas,

Vivo na sua mente (…) douda de ilusão

A bruxa (…)

 

Trancaram-se as portas à sua passagem

Janelinhas com olhos curiosos, receios

Silêncio e medo na penumbra das noites

Na serra, uma rocha seu abrigo era

Cama de giestas e o firmamento protetor

Segurança que a mais não lembra

Pergaminho enrugado, um passado

Abafado no baú dum convento

Nada que levasse o vento…

O Amor!

A bruxa (…)

Ao alvor a mulher chorava,

Nos seus braços um bebé embalava …

Na loucura uma verdade lembrava

A bruxa (…)

A mulher que amou e encantou

Um herói da Pátria esfumado

Uma arma, o seu amor matou

Na mão de um cruel agitado

Os monges, seu menino levaram

Louca, a mulher e a sua essência cristalizada

A sua fraqueza desprezada,

Na ilusão de um Amor Inteiro, inexistente,

No existente da sua mente…


Ofélia Cabaço

domingo, 21 de dezembro de 2014

SER ARTISTA É

 Não é artista, aquele que ignora o trabalho do outro
O trabalho do outro, não deve ser alopático ao artista verdadeiro
Um artista de coração, e de sensibilidade exímia, não é invejoso
Ser artista, não serve para fim instrumental, é tão simplesmente SER ARTISTA.

Ofélia Cabaço


Natal de 2014






quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Miragem

O destino malfadado
Sem que eu pedisse me foi dado,
Em mim, abundam noites ansiosas
Que nem minhas ilusões consentem
Oh, Ventura porque foge dos que sentem?

Passeiam viajantes d´alma gelada
Vestidos de brocado e cetim
Aparências falseadas de mim
Escarnecem meus sonhos e quimeras
E, também sonham loucos amores!
Anseiam flor que dê fruto, primaveras,
Outonos generosos, com sabores e odores

Olhares com desdém – dor igual,-
Sentir atormentado tal e qual
Porque a pureza do sentir não é querer
E crer, é ser-se com o dom que se nasce

Com petróleo a candeia ilumina
Minha alma poesia germina,
Querendo, vou para muitos sítios…
Serei viajante buscando outro caminho,
Calcorrear montanhas, eu vou,
Coroa de margaridas e vestido de arminho
Serão apenas minha indumentária
Viverei numa nuvem prismática, nobilíssima,
De onde apenas avistarei casinhas
Que mal se lobrigam de tão pequenas…

Voarei e sobrevoarei até perder o tino…



Ofélia Cabaço
2014-12-18
















domingo, 14 de dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


Quem estiver interessado em comprar esta linda história de amor para as crianças, pode contactar-me através de mensagem no facebook - ofelia T T Cabaco. Envio pelo correio.
Obrigada
FELIZ NATAL
Apesar dos avessos que foram inevitáveis
E com ensejo de afastar lembranças detestáveis
Desejo-vos uma noite serena, abençoada
Com os calores da família e boa consoada

Termina um danado ano
Com afeções, tormentos e dano…
Que os vossos corações consigam amar
Rejeitando os amuos e tréguas proclamar
São os votos sinceros desta vossa amiga
Ofélia Cabaço

Sintra, 11 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Horas Duvidosas

Sonhos inacabados

São instantes levados…

 Porque sonhar ocupa lugar


Num lugar que não tem espaço,

 Os sonhos com asas transparentes


Personificam desejos de vã fecundidade

Realidades perfidamente descrentes

 Que fazem doer as almas dos mortais


Como quando o véu da noite desce

Denso e lento dos astros imortais

E lubricamente se alastra e cresce…


 Os sonhos poisam de leve nos poetas

Inexoráveis, deixam apenas borbotões

Ficção que nos mente eternamente

E nos afasta tristemente das ilusões

 Ofélia Cabaço


2014-12-08




domingo, 7 de dezembro de 2014

Depois de ver o telejornal aonde observei tanta vontade de ajuda aos mais necessitados, não senti nenhuma onde de assentimento aquando de tantos louvores às entidades que esforçadamente fazem beneficência. NINGUÉM , mais do que eu, deseja uma sociedade onde todas as pessoas possam viver sem fome e sem submissões deste ou daquele. E depois, ainda vão surgir na quadra festiva,  outras entidades, que irão demonstrar os seus atos de beneficência, com presença ao vivo e a cores, do beneficiado a agradecer e a divulgar a sua triste vida a todo o mundo. Salazar gostava disso, e as senhoras da beneficência ainda mais, que davam massa e arroz aos pobrezinhos para poderem comer lagosta. Por tudo isto pergunto: se se junta tanta gente para ajudar aos pobrezinhos, porque não se juntarem para uma melhor SOCIEDADE aonde TODOS teremos os mesmos DIREITOS?  Estou desolada por tanta BONDADE aparente e apenas por alguns dias. E podem crer que não há um só Natal que não me lembre, com mágoa no coração, a FOME MUNDIAL. Não devo satisfações a ninguém sobre o meu sentir, na medida em que não ofendo ninguém em especial, mas para os mais desacreditados, quero realçar que este meu SENTIR não tem que ver com politiquice alguma, mas sim, no mais amplo sentimento HUMANO.
Ofélia Cabaço
2014-12-07

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Estrela

Uma Estrela há muito esperada
No firmamento surgiu luminosa
A Terra inteira a contemplou esperançada
Sob aquele fulgor radioso,

Nascera uma criança em Belém
Num casebre frio e escuro…
Uma grande calma e quietude
Envolveram os homens para além;

Pois Aquele que ali nascera, veio para ficar,
Para ser Homem entre os homens
Em qualquer canto da Terra, Homem!
E iluminados foram os lugares escuros,
Jesus nasceu para amar e magnificar
Humildemente… sem berço de ouro (…)
                                       
 Era tanta a Luz que delineou o Mundo
Com visibilidade de alabastro…
A Estrela pairava no firmamento
Olhos postos, refletiram a radiânçia do astro,
Riachos, rios e mares entoaram vozes
Numa combinação de flautas e tambores
Alegremente,  o vento levava a Boa Nova…
Jesus nascera e os homens renasceram,
Humildemente me curvo, oh meu Jesus!

Ofélia Cabaço

2014-12-03








Flor na Charneca

Era grande a poetisa, fugiu-lhe a fama

Viveu angústias, medos e ânsias

Chorou, conversou a charneca e sua Alma

Poetizou as noites, o desassossego dos dias

 

Foi por inteiro Alma, Florbela D´Alma

Amou sem saber quanto, viveu e sofreu

Apeles, afago de seus prantos

Apaziguou suas dores e tormentos

O amor!

 

Planícies de restolho, poejos, aves e cantos

Foram águas vivas na sua imensa sede,

O sussurro dos seus desejos, lamentos!

Espanca, seus caminhos e desalentos (..)

 

Hoje, gloriosa e importante,

Ontem, esquecida e distante

O Tejo!

Rio de Lisboa, sepultura de Apeles

O firmamento, amigo e confidente

Onde estará? Talvez sentado nas nuvens

Ciciava : - porque, meu irmão, não vens?

Amor irreverente, afetos, joia deles!

No ar,

Asas platinadas, destroçaram corações,

Levou-os a morte numa onda de emoções

Deu-se o reencontro, brancas borboletas,

Nos céus poesias, águas soltas!

Um choro!

A charneca órfã ……e a flor, morreu!

 

Ofélia Cabaço -   2013-08-25

A Avó


A minha alma não está feliz
Os meus pensamentos não são flor lis
Fazem-me vaguear incessantemente
Pelas ruas da minha infância dolente
Naquelas ruas sinto-me desprotegida
Tenho receios, medos e angústias
Não quero que me roubem as tias
Volto no caminhado sem qualquer ida
Quero muito chegar a casa, abraçar a avó
Quero sentar-me no seu colo, fechar os olhos
Adormecer por instantes no tempo e na idade
Imaginar mundos habitados por velhos……
São momentos de sonho e delícia
São uma gigantesca sombra no deserto
Apaziguadores, deixam-me perceber o certo
Enternecidamente, rio do que não ria
É uma paz que me encoraja
Nos momentos de sossego e bem-haja
É um amor tão estreito e tão largo
Como a nascente a correr para o lago
Aconchegada naquele doce abraço
Sinto respirar a pradaria de girassóis
A afugentar os medos por quem sois
Num empurrão tão forte como o aço
Depois, a avó oferece, papa de maisena
Como uma, mais uma, e outra colher de papa
A avó é tão forte como o touro na arena,
Cuida de uma menina que não tem o seu papá
O Mundo sem avós, não seria rico
Ficaria incompleto como as aves sem bico
Como as violas sem cordas,
Os violinos sem som,
O imenso mar sem ondas
A primavera sem rebentos.
Ofélia Cabaço 2012-12-28


sábado, 22 de novembro de 2014

Natal

Menino Jesus nas palhas com frio
Estábulo escuro que se tornou luminoso
Neste mundo de ilustres só Tu és Famoso
Menino Jesus,
Nasce… traz-me um brinquedo (…)
Olhei as estrelas da minha janela
Procurei-Te com fé e amor
Pensei conversar Contigo e com Ela
Tua Mãe,
Que a minha não tenho (...)
Mãos postas, trémula e credo
Pedi-Te o brinquedo com carinho
Fiquei Contigo e o poema,
Menino Jesus traz-me calor…

Ofélia Cabaço
2014-11-22


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Amizade

Amizade! Chávena de chá

Fervilhante na selva do frio,

Aconchego num abraço etéreo

Na alma, a amizade sem pio (…)

Floresce a cada hora fraternidade,

Vago lugar para a cumplicidade

Onde estás? Diz-me Tu!

Luz venturosa nas aflitivas noites

Esperança nos corações descrentes

Um beijo na face… afago nos cabelos,

Uma chávena de chá com sabor a jasmim

Enlevo no sentir, esquecimento de mim

D´outrora, águas sumidas se consomem

Hoje os presságios dormem

Onde estás? Diz-me tu!

Amizade com cheiros a almíscar

Soma de algarismos ímpares, buscar

Gigantes em si própria, flores férteis

Pombas brancas em corações fiéis

Da amizade só sabe quem sente!

Onde estás? Diz-me tu!

 

Ofélia Cabaço


 2013- 05-22




Partícula

Afugentei de ti o frio

Beijei teu olhar sombrio

Ensinei-te baixinho o amor

Pintei teu sorriso de cor

Ah quem me dera outra vez

Crescer a teu lado talvez

Com tuas mãos traçar o futuro

Apenas quero...

Ser partícula do teu amor!

 

Ofélia Cabaço

  2013-06-17

 

 



Regresso

Na minha porta ouvi bater

Breve alegria, escutei!

Senti alvoroço no meu coração,

Pois sorte havia de ter

Instantes demorados, estranhei

Quem é? Perguntei curiosa

Respondeu-ma uma voz penosa

Sou eu, - a tua alma!

Quão viajada esta minha alma

P´la vida tão austera

Abri a porta, balbuciei:

Alma minha sê Primavera…

Baixinho ao seu ouvido poetei!

 

Ofélia Cabaço  

2013-10-22

 


 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Hino ao Amor

Habita em minha alma uma floresta,
Que a toda a hora estremece,
Não oiço eco, nem vozes, nem vislumbro ventura
Apenas um excesso de anseios e folhas caídas…

Não sei se existo… de tanto querer
Só sinto querer viver um modo de crer
Não sou capaz de compor…
Um hino ao amor, escreverei um dia…
As minhas mãos tremem, as palavras rimam
As almas mais que mil,
Virão unir-se à minha alma com ternas juras d`amor,
Cantaremos em coro poemas sem dor
Em redor apenas quero a voz da Natureza
A embalar-nos no fio da ilusão…
Juntas, subiremos ao céu de encontro à alvorada
Numa bênção perpétua…

Ofélia Cabaço
2014-11-19


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Um novo partido?
Quanto mais se dividirem, quanto mais a reação agradece! Para mim, tudo em busca do poder, pensamento de si para si, e o POVO que se lixe. Já não existem convicções para a melhoria das sociedades..... porque o povo é o que menos importa. Mas tudo  é explícito (ação) sem qualquer inibição, ou receio - com a maior cara de pau -  Depois prometem acordos e leis que à primeira vista nos parecem fantásticos, mas depois nada se realiza...... Por amor à santa! Este pobre país está tão fragilizado, tão vulnerável e estes pseudo-pensadores tudo o que fazem é NÃO PENSAR. (Quero realçar que simpatizo com a Ana Drago, mas com franqueza!!!!). O povo já tem medo que chegue para tomar decisões, porque ( perder o emprego, passar fome e ser ameaçado por cruéis patrões) tão convenientes para o governo, não é tarefa fácil. Tudo o que precisamos é de decisões concretas, objetivas e sobretudo a bem dos povos, não para contentar o ego de cada um!!!! Estamos desacreditados e assistimos (não de camarote) mas à beira do caminho a toda esta calamidade. PENSAR FAZ BEM, em especial, a quem por voto nosso, consiga implantar motivação e não medos!!!!!!


Por trás dos versos fáceis e bonitos
Com que ora engano o Poeta que me habita
E em que penduro imagens a luzir,
Há versos que eu não faço...e que são gritos
-Os gritos que em minh´alma um Hamlet grita,
Mas que eu não sei rimar nem sei medir...

José Régio
Colheita da Tarde, vol.II, Edição Fevereiro 2001

domingo, 16 de novembro de 2014

A CERVEJA

Estava eu, como habitualmente, a tomar um café pelas onze da manhã, quando do outro lado do balcão reparei que um sujeito,  mal vestido e sujo, pedia qualquer coisa que, de longe, não consegui discernir, mas apressada, como quase sempre, no meu raciocínio, julguei que era comida. E, reparando que a funcionária fazia um gesto negativo com a cabeça, fiz sinal e propus-me  pagar o que o  mendigo estava a pedir. Cada vez mais, sinto uma enorme angústia e  uma profunda tristeza, quando deparo com  alguém que tem fome. Depois disseram-me, que ele queria uma cerveja, obviamente, que não estou de acordo que se alimentem vícios, mas não fui capaz de negar tal pedido, uma vez que no rosto do mendigo havia uma ansiedade, uma insegurança que me fez lembrar uma criança separada do seu brinquedo mais querido.
Aquela expressão quixotesca, sem o seu Sancho pança, e sem vislumbre da sua Dulcineia, fez-me pensar que não havia mal nenhum em satisfazer aquele desejo, que por si só, não ia aumentar nem diminuir o seu companheiro vicio. Afinal, penso que, por momentos, o mendigo ficou mais calmo, mais feliz a viver o seu mundo, para ele especial e talvez melhor que todos os outros mundos.
O mendigo percebeu a situação e reconhecidamente disse-me : é uma santa -  Eu disse-lhe: - olhe que não, sou muito má e acho que se está doente não deveria beber cerveja, não obstante, ele estendeu-me a mão para cumprimentar-me, ao de leve toquei-lhe na sua mão, (achei que  a mão estava muito suja e, ainda não tinha terminado o meu café).
Afinal, às vezes apregoo que não devemos ser elitistas, eu creio que não sou, mas não deixei de recusar o cumprimento, que possivelmente, seria importante para o mendigo.
O cheiro também me incomodava, pensei na Madre Teresa e noutras personalidades que independentemente dos cheiros, dos vícios, das misérias, crenças e marginalidades, fizeram e fazem, o bem pelo ser humano, especialmente escutando-os e ajudando-os sem se preocuparem com os tais cheiros, com as tais sujidades. Nós nunca somos totalmente o que pensamos que somos, pelo menos no que respeita à partilha, ao sacrifício e até ao amor!
Vivemos numa selva, é o que penso muitas vezes… mas, de repente, sou uma das personagens ativas nesse teatro e quase nem dou por isso.
Quando vejo aqueles grupos de refugiados, (Líbia, Tunísia, e outros), fico chocadíssima e impotente. Penso: mas será que qualquer um de nós não pode fazer mesmo nada? A comunidade europeia de ajuda é de uma hipocrisia danada, nem sequer reparam nos países que, com problemas internos, têm ajudado no que podem aos ditos refugiados. E, porque não ajudar aqueles países com mais afinco e organização?  Eles fogem dos seus países, porque têm medos, receios, perderam entes queridos nas guerras, porque são rejeitados e ainda sonham com melhor situação de vida e trabalho. O receio à entrada de criminosos na europa é uma demagogia, porque a comunidade internacional pode e deve trabalhar, aonde estas situações sejam resolvidas sem o sacrifício dos que apenas e somente querem viver!
Ficamos com a história dos colonos em África, no Congo e até nos países da América Latina; os conquistadores  (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e outros), achavam que iam civilizar aqueles povos, quando eles próprios, não eram civilizados, e ainda, foram autores das maiores atrocidades. Viviam embebidos na ganância, do poder e na ação perversa do chicote. É fácil atuar com os mais fracos, quando o autor é ainda mais fraco!
Tudo isto para dizer que em pleno século XXI  ainda se vivem tempos turbulentos e até quando, o mundo vai ser governado por pessoas que, pouco ou nada fazem, para colmatar essas rixas, pensando no outro, utilizando conceitos objetivos, justos, determinantes e fundamentalmente Humanos.
Não creio que isso seja lirismo, mas sim um desejo justo e justamente reconhecido.
(Nada disso tem que ver com lições de moral ( como alguns pensam), mas sim com a realidade deste mundo em que vivemos, e que, TODO o SER HUMANO tem DIREITO a ele.

Ofélia Cabaço
 25 de Maio de 2011


sábado, 15 de novembro de 2014

Há dias.....


As Cerejas

Um homem e seu filho, num dia quente de Verão, desceram a serra onde nasceram e viviam, a fim de irem até à Vila, mais propriamente, à feira semanal. Levantaram-se ao nascer da madrugada, calçaram botas, prepararam os seus magros farnéis e lá foram, calcorreando ambos, caminhos e atalhos tortuosos.

Pelo fresco da manhã, e ainda espevitados, puderam admirar a beleza da paisagem no seu esplendor majestoso. Enquanto havia barulhos de nascentes a correr à beira dos caminhos foram saciando a sede, e desta feita, tomaram alento para a longa caminhada.

Quase chegando à Vila, encontraram no chão uma ferradura, o pai já cansado, pediu ao filho para a apanhar, ao que o filho respondeu não valer a pena baixar-se, porque era tão só, e apenas, uma ferradura. O pai sem qualquer reprimenda, apanhou a ferradura e colocou-a no bolso do casaco.

Na feira, o Sol no seu apogeu estava abrasador, mas o intento do velho pai em realizar os seus afazeres não levou muito a sério aquele calor imenso, percorreu a feira realizando as suas compras.

Antes de voltar para a sua aldeia na serra, foi a um ferrador e vendeu a ferradura. Com os tostões obtidos, foi ao mercado e comprou cerejas.

No regresso a casa, a caminhada parecia interminável; a determinada altura, o velho aldeão, decidiu comer algumas cerejas; o filho preguiçoso, estava perplexo, e como a sede era gigantesca não se conteve e pediu ao pai para lhe dar cerejas.

O Pai reagiu da seguinte forma: foi deixando cair paulatinamente as cerejas para o chão, uma a uma, o rapaz foi obrigado a baixar-se tantas vezes quantas cerejas comeu.

Já aborrecido, o filho perguntou ao pai porque deixava cair as cerejas, ao invés de lhe dar as mesmas na mão? O pai disse-lhe: Já viste meu filho, que para não te baixares uma só vez a apanhar a ferradura, quantas vezes tiveste de fazê-lo por consequência da tua preguiça?

Esta estória foi-me contada e eu achei tão rica, que resolvi escrever a meu modo, sobretudo porque eu abomino pessoas preguiçosas. Acontece que os preguiçosos não se esforçam por nada, não se sacrificam por nada, não têm motivações para nada, não conseguem construir nada e depois têm INVEJA dos que lutam e trabalham, dos que conseguem a sua independência através do seu trabalho e da sua organização de vida. E ainda, como se não bastasse, desfazem no trabalho de cada um! Criticam a criação de cada um! A inveja é um dos grandes males dos povos!

Como eu amo trabalhar!

Sempre me ensinaram….segue e faz, se hoje não fizeres muito bom, tenta amanhã, senão amanhã, tenta no outro dia…porque, se quiseres, consegues o muito bom.

 

 

Ofélia Cabaço    

 2013-07-08

 

 

 


 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Consciência

Que me libertas de pesares

E me empurras p´ra claridade

Oh consciência! fala-me sem teus ares,

Eu e tu somos cumplicidade

 

Adormeço com tua companhia

Sempre atenta e com alegria,

Ontem não deixaste que falasse Jesus

Conversaste e comigo fizeste jus,

 

Minha confidente, conselheira pertinaz

Jugo das minhas decisões

Às vezes ácida como ananás

Oh consciência,

 Não mates as minhas ilusões!

 

Elas são ímpeto de ânsia e justiça

Faz brilhar a minha transparência

Sem o menor receio de falência,

Ajuda minha essência nunca postiça!

 

 

Ofélia Cabaço

 2013-06-10

 

 


 

Este meu terceiro livro é dedicado à minha neta.


Comunico aos meus amigos e convidados que a data vai ser alterada; considerem esta data sem efeito; oportunamente comunicarei nova data.
Obrigada




quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Memórias Açorianas



Graça era o nome de uma querida amiga e colega da escola. Vivíamos em S. Miguel Açores, mais propriamente na Fajã de Cima, éramos muito unidas.
Graça, naquele Verão tinha namoriscado um rapaz que viva na ilha Terceira, mas, tinha vindo passar as férias grandes (como nós chamávamos às férias de Verão), em S. Miguel. Era um bonito rapaz e muito conversador. Sem se dar conta, Graça encantou-se por ele, e, com toda a inocência dos treze anos, passou a sonhar platonicamente com um amor salpicado de borboletas trémulas que a impressionava vivamente.
Fomos algumas vezes aos arraiais do Senhor Espirito Santo, festividade sempre encantadora para nós, jovens, que gostávamos de conviver, dançar e passear à noite ao som das várias bandas de música que se fixavam nos coretos das respetivas Vilas ou Freguesias.
Nos bancos dos átrios das igrejas e nos jardins, com cadeiras pequeninas de abrir e fechar, vigiavam-nos os adultos. Nós tínhamos que, de meia em meia hora, passar pelos familiares e dizer “olá”, a fim de saberem como estávamos, aonde estávamos e o que fazíamos. Não custava nada fazer isso, só que desta feita, não podíamos ir para muito longe do arraial.
Víamos a procissão durante a tarde, íamos jantar e à noite voltávamos para gozar o arraial, as roqueiras, (foguetes), algodão doce, (se nos dessem dinheiro) e conviver um pouco, mas tudo dentro de um doentio secretismo.
Qualquer desconfiança era um resquício de paragem obrigatória e de irmos para casa dormir. Era fim de cena. Era doloroso para nós!
Mas, como eu ia contar, a minha amiga Graça, apaixonada encantada, com insaciável vontade de namoriscar (o que era tão próprio da nossa idade!) vivia aquele Verão com sublime alegria; as festas eram um misto de sonhos e confetes, balões, roqueiras, algodão doce, carrocéis e pouco mais. Devo realçar que apesar das dificuldades tão arreigadas, num tempo tão carente de quase tudo, nós sempre vestíamos vestidos novos com modelos muito bem arquitetados pelas costureiras, das quais, para mim, eram a minha avó e a tia Margarida que faziam os meus vestidos com desenhos a gosto meu, de feitios um pouco estranhos para os demais, que eu inventava, e elas, “às vezes” concordavam.
Essa coisa dos vestidos novos era outra euforia, combinávamos muitas vezes, cores e feitios de vestidos semelhantes.
Acabado o Verão, surgia o início das aulas e as despedidas; nós açorianos, sofremos imenso com despedidas, não fora somente a nostalgia das ilhas, nem tão só a sua limitação, mas sobretudo os afetos e o carinho que criávamos com todas as criaturas. Somos um povo de gigantes afetos. Afetos para a vida e para além da morte.
Um dia, na escola, Graça pediu-me para ajudar a redigir uma carta para o tal rapazinho, pois ele tinha-lhe escrito e ela tinha uma vontade imensa de lhe dizer o quanto estava apaixonada, assunto que ele nem sequer desconfiava. Combinamos naquela tarde, em casa, escrever-lhe e ditar tão nobres sentimentos. A pretexto de estudarmos, reunimo-nos em casa dela e antes de qualquer outra coisa, a prioridade era responder à dita carta. Claro que eu, dando largas à minha imaginação, comecei por explicar um sentimento excelso, que às vezes, sonhadoramente, eu conseguia idealizar. A Graça tinha-me contado, que a irmã mais velha tinha aberto a carta dele, e, tinha proibido aquela correspondência, pois tinha percebido toda aquela fantasia e até uma determinada nostalgia na sua irmã mais nova; aliás, no nosso tempo, tudo era proibido, até uma amizade simples e genuína com qualquer rapaz era considerada “maldade”, mas, aquele tipo de maldade estava na cabeça dos adultos e em especial nas mais frustradas mentes; pensando assim e dizendo o que sentia a respeito, levei muitas “taponas”.
Com o que a minha amiga me contara, resolvi explicar ao rapaz na carta, o acontecimento, a seguir a outras coisas, envoltas de uma imagem evocativa e romântica; ia eu na frase “…. quando a minha irmã abriu a carta fiquei petrificada de terror,….), naquele instante, por mera coincidência, a irmã da minha amiga entra na sala, percebe que estou a escrever uma carta, e  sabendo de antemão o tipo de imaginação que me ofereceu a natureza, arranca-me a carta da mão, lê e diz: o que é essa merda de petrificada de terror?
Assustada, apenas pequei nas minhas coisas, e pirei-me! Lá se foi um momento poderoso de explanar um quadro tão romântico quanto eu era capaz de momumentar.

Ofélia Cabaço

Sintra, 05-11-2014




terça-feira, 4 de novembro de 2014

Caminho

.e,  os sentimentos são como as brasas
Que debaixo das cinzas passivamente esperam
As brasas na perspetiva de um dia reacenderem
Não morrem… resistem à espera prolongada,
Atentas ao mundo confuso e onírico;

Viver pictoricamente é como caminhar
Por campos floridos…
Com receio de pisar margaridas e marcelas!
É viver sem aura, é não sentir a brisa
É não ser-se capaz de joeirar
É o céu que não ouve os clamores
São os deuses que ficam mudos
E os poetas que não cantam …

Mas, o Espírito com força de Títan
Brota vontades, floresce e ilumina,
Assim como o Sol pinta as searas,
E a natureza oferece primaveras e,
Roseirais viçosos abotoam frescas rosas,

Deus oferece-nos um caminho….

Ofélia cabaço
2014-11-04







quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ESPELHO

Quando me obrigam a ser uma outra coisa
Que não aquela outra, que é mesmo outra,
O sentimento duma intuição espontânea
(Escondida na sombra da outra que é nada…)
Que deixa de ser para a aparência da outra

Fica quieta,
Cala a tua voz, dizem-me,
Não podes falar…

De que vale a verdade
Ao desassossego da cruel realidade,
Não valho nada
Nem pedra e sal eu valho!
Sou apenas a Verdade…
Sei que o firmamento é inteiramente meu
E ainda…
Nas noites claras estrelas posso contar…
Não ergas o dedo, conta calada, dizem-me!
Serenamente, conto uma e mais uma e estrela outra,

À minha beira, sábios palradores, existências únicas!
Importantes figuras enquanto duram (…)
Neste mundo que se perde com gente dessa
Donde a Verdade não interessa!

De onde eu vim, antes de nascer, ouvi:
 -Que a fecundidade seria como uma cheia
A transbordar dum rio fulgente,
Que os homens seriam justos
Que a felicidade dos outros…,
                               Seria a sua felicidade plena!
Que o Amor seria tanto, como bagas de groselhas
Teria a Terra inteira!
Mas, a cheia tornou-se espantosamente perigosa
As groselhas não têm bagas,
A pureza das consciências .... são como as nuvens!

Ofélia Cabaço
2014-10-29


domingo, 12 de outubro de 2014

O Bolo de Arroz

De mãos dadas subiam a Rua da Arquinha
Avó e neta
A rua da padaria com cheiros a limão e canela
Bolos de arroz …
A avó oferecia um, quentinho, apetitoso
A neta agradecida aquecia sua alma
De doce e  d´amor…era tão bom!

Sim, como era bom, o bolo de arroz
Da padaria da Rua da Arquinha…

Manhã houve em que a menina estremunhada
Acordou com o “tom” das conversas na cozinha
Escutou: “não tenho dinheiro p´ra comprar o livro”,
Qual livro? Pensava a neta…
Só podia ser “ Mon Ami Pierrot”, paciência!
É novo, ninguém tem, não pode ser emprestado…

De novo subiram a Rua da Arquinha…a padaria,
Os bolos de arroz, os cheiros a limão e canela
A boca húmida, vontade e apetite….
Um nó na garganta a segurar uma lágrima,

Entraram na padaria e a neta disse:
Não, não me apetece, dói-me a barriga,
Não quero, mamã… o bolo de arroz!

E, como era bom, o bolo de arroz
Da padaria da Rua da Arquinha…


Ofélia Cabaço
2014-10-12

Obs: a neta chamava a avó de “mamã”




segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Templo

Sei que não sabeis quem sou,
Escutai:

Sou um lago no templo que havia em mim
Nadar nas suas águas é um mistério, só consigo
Balbuciar a minha dor às ninfas
Oiço sons e baladas dolorosas (…)
Debruço-me sobre aquele altar, queixoso,
Oiço a tua voz…
Hinos de tristeza e de ardor, ocultos
Na sepultura dum templo ido (…)
Pálida imagem onde me revejo, divago,
Nas lembranças dum reinado desfeito
Figuras adornadas de rosas e catos
Vagueiam nas águas do lago que sou,
Consumida, embriagada de ilusões,
Grito o teu nome….
Eco perdido… nas águas correndo,
Infortúnio é um condão que me assalta
E não se afasta,
Não sei o que há em mim, somente sei,
Que a tristeza me toma em seus braços
 Fiel, não me abandona….

É assim que eu sou, não levais a mal
O meu tormento…
Talvez eu seja uma douda que vive 
Um mundo errado,
Tão errado, quanto eu penso o Amor!

Ofélia Cabaço


2014-10-06

domingo, 5 de outubro de 2014

Como é a Vida?

A vida exige, enquanto posse,
O que não posso…
Um dia, já sem posse, nada posso
E ela, a vida, exige o improvável
Se ao menos a vida fosse amável
E me deixasse aonde eu possa,
Sem poder,
Ver e ouvir a chuva tão leve e mansa
Quanto breve será o meu respirar…
Chorarei quando sentir que o Sol é ténue
E não me aquece…
Que o vento passa e nada me segreda
Que as nascentes e os rios silenciaram
Que as folhas caem e quando renascem
Eu já cá não estou….
Não me deliciarei a tocá-las, não mais
Escutarei as cigarras nem o canto das aves
A vida vai deixar-me no silêncio dos silêncios
Desenharei no ar um jardim de açucenas,
Nas paredes, imaginarei uma floresta
Com tapete de hortenses desfolhadas

Nas longas noites ouvirei o mar
Vou comer cerejas e babar-me
Inventarei cheiros de framboesas,
Amoras e romãs, rezarei Ave-Marias,

Se a vida fosse amável, deixaria (...)

A vida carregada de idade vai ciciar
No meu ouvido coisas sem sentido
Certamente me dirá que sou uma deusa
Fingida a vida (…)
Que me dirá o que nunca disse
A vida é posse porque é tão só
Um empréstimo….


Ofélia Cabaço

2014-10-05