quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Avó


A minha alma não está feliz
Os meus pensamentos não são flor lis
Fazem-me vaguear incessantemente
Pelas ruas da minha infância dolente
Naquelas ruas sinto-me desprotegida
Tenho receios, medos e angústias
Não quero que me roubem as tias
Volto no caminhado sem qualquer ida
Quero muito chegar a casa, abraçar a avó
Quero sentar-me no seu colo, fechar os olhos
Adormecer por instantes no tempo e na idade
Imaginar mundos habitados por velhos……
São momentos de sonho e delícia
São uma gigantesca sombra no deserto
Apaziguadores, deixam-me perceber o certo
Enternecidamente, rio do que não ria
É uma paz que me encoraja
Nos momentos de sossego e bem-haja
É um amor tão estreito e tão largo
Como a nascente a correr para o lago
Aconchegada naquele doce abraço
Sinto respirar a pradaria de girassóis
A afugentar os medos por quem sois
Num empurrão tão forte como o aço
Depois, a avó oferece, papa de maisena
Como uma, mais uma, e outra colher de papa
A avó é tão forte como o touro na arena,
Cuida de uma menina que não tem o seu papá
O Mundo sem avós, não seria rico
Ficaria incompleto como as aves sem bico
Como as violas sem cordas,
Os violinos sem som,
O imenso mar sem ondas
A primavera sem rebentos.
Ofélia Cabaço 2012-12-28


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