A vida exige, enquanto posse,
O que não posso…
Um dia, já sem posse, nada posso
E ela, a vida, exige o improvável
Se ao menos a vida fosse amável
E me deixasse aonde eu possa,
Sem poder,
Ver e ouvir a chuva tão leve e mansa
Quanto breve será o meu respirar…
Chorarei quando sentir que o Sol é ténue
E não me aquece…
Que o vento passa e nada me segreda
Que as nascentes e os rios silenciaram
Que as folhas caem e quando renascem
Eu já cá não estou….
Não me deliciarei a tocá-las, não mais
Escutarei as cigarras nem o canto das aves
A vida vai deixar-me no silêncio dos silêncios
Desenharei no ar um jardim de açucenas,
Nas paredes, imaginarei uma floresta
Com tapete de hortenses desfolhadas
Nas longas noites ouvirei o mar
Vou comer cerejas e babar-me
Inventarei cheiros de framboesas,
Amoras e romãs, rezarei Ave-Marias,
Se a vida fosse amável, deixaria (...)
A vida carregada de idade vai ciciar
No meu ouvido coisas sem sentido
Certamente me dirá que sou uma deusa
Fingida a vida (…)
Que me dirá o que nunca disse
A vida é posse porque é tão só
Um empréstimo….
Ofélia Cabaço
2014-10-05
Sem comentários:
Enviar um comentário