Estava eu, como
habitualmente, a tomar um café pelas onze da manhã, quando do outro lado
do balcão reparei que um sujeito, mal vestido e sujo, pedia qualquer
coisa que, de longe, não consegui discernir, mas apressada, como quase sempre,
no meu raciocínio, julguei que era comida. E, reparando que a funcionária fazia
um gesto negativo com a cabeça, fiz sinal e propus-me pagar o que o
mendigo estava a pedir. Cada vez mais, sinto uma enorme angústia e uma profunda tristeza, quando deparo com alguém que tem fome. Depois disseram-me, que
ele queria uma cerveja, obviamente, que não estou de acordo que se
alimentem vícios, mas não fui capaz de negar tal pedido, uma vez que no rosto
do mendigo havia uma ansiedade, uma insegurança que me fez lembrar uma
criança separada do seu brinquedo mais querido.
Aquela expressão
quixotesca, sem o seu Sancho pança, e sem vislumbre da sua Dulcineia, fez-me
pensar que não havia mal nenhum em satisfazer aquele desejo, que por si só, não
ia aumentar nem diminuir o seu companheiro vicio. Afinal, penso que, por
momentos, o mendigo ficou mais calmo, mais feliz a viver o seu mundo, para ele especial
e talvez melhor que todos os outros mundos.
O mendigo percebeu a
situação e reconhecidamente disse-me : é uma santa - Eu disse-lhe: - olhe
que não, sou muito má e acho que se está doente não deveria beber cerveja, não
obstante, ele estendeu-me a mão para cumprimentar-me, ao de leve toquei-lhe na
sua mão, (achei que a mão estava muito
suja e, ainda não tinha terminado o meu café).
Afinal, às vezes apregoo
que não devemos ser elitistas, eu creio que não sou, mas não deixei de recusar
o cumprimento, que possivelmente, seria importante para o mendigo.
O cheiro também me
incomodava, pensei na Madre Teresa e noutras personalidades que independentemente
dos cheiros, dos vícios, das misérias, crenças e marginalidades, fizeram e
fazem, o bem pelo ser humano, especialmente escutando-os e ajudando-os sem se
preocuparem com os tais cheiros, com as tais sujidades. Nós nunca somos totalmente
o que pensamos que somos, pelo menos no que respeita à partilha, ao sacrifício
e até ao amor!
Vivemos numa selva, é o
que penso muitas vezes… mas, de repente, sou uma das personagens ativas nesse
teatro e quase nem dou por isso.
Quando vejo aqueles
grupos de refugiados, (Líbia, Tunísia, e outros), fico chocadíssima e
impotente. Penso: mas será que qualquer um de nós não pode fazer mesmo nada? A
comunidade europeia de ajuda é de uma hipocrisia danada, nem sequer reparam nos
países que, com problemas internos, têm ajudado no que podem aos ditos
refugiados. E, porque não ajudar aqueles países com mais afinco e organização?
Eles fogem dos seus países, porque têm medos, receios, perderam entes queridos
nas guerras, porque são rejeitados e ainda sonham com melhor situação de vida e
trabalho. O receio à entrada de criminosos na europa é uma demagogia, porque a
comunidade internacional pode e deve trabalhar, aonde estas situações sejam
resolvidas sem o sacrifício dos que apenas e somente querem viver!
Ficamos com a história
dos colonos em África, no Congo e até nos países da América Latina; os
conquistadores (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e outros), achavam
que iam civilizar aqueles povos, quando eles próprios, não eram civilizados, e ainda,
foram autores das maiores atrocidades. Viviam embebidos na ganância, do poder e
na ação perversa do chicote. É fácil atuar com os mais fracos, quando o autor é
ainda mais fraco!
Tudo isto para dizer que
em pleno século XXI ainda se vivem tempos turbulentos e até quando, o
mundo vai ser governado por pessoas que, pouco ou nada fazem, para colmatar
essas rixas, pensando no outro, utilizando conceitos objetivos, justos, determinantes
e fundamentalmente Humanos.
Não creio que isso seja
lirismo, mas sim um desejo justo e justamente reconhecido.
(Nada disso tem que ver
com lições de moral ( como alguns pensam), mas sim com a realidade deste mundo
em que vivemos, e que, TODO o SER HUMANO tem DIREITO a ele.
Ofélia
Cabaço
25 de Maio de 2011
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