segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Às vezes não existe ÁGUA!

Quando caminhamos num deserto sem retorno, é porque a água faltou, e a natureza à míngua de uma gota se aflige, e, dolorosamente, sucumbe à beira dos rochedos que se diz serem robustos na deferência do Tempo. Pensando o mundo, as coisas e as pessoas, subjaz a raiz ancestral, que na era moderna é continuamente desprezada; viver o fragor terreno, atravessando florestas, subindo colinas, sentir a solidão e ouvir os gemidos nas noites é sentimento de cada um de nós, existentes; mesmo que os rios sequem, há sempre um riacho onde a nossa alma se espelha e nos configura formas, sombras e sorrisos (...)
Nos bosques, e no silêncio seu, criptomérias e cedros onde só o céu contempla suas copas, conseguimos encontrar nossos irmãos, e aí, apetece-nos adormecer com a brisa serena que as ramagens, suavemente, como pessoas, numa balada etérea nos contempla.
O universo permanece uno e abstrato; no coração dos homens um cortejo fúnebre dilacera matéria para  desmedida riqueza; e, porque nos bosques existem árvores maiores, com grandes golpes se abatem as pequenas, incredulamente! Impedidas de crescer e ocupar espaço é o mote para não se desenvolverem, e repete-se na visão nossa as grandes árvores, as que têm raízes sejam de que condição, as quais, de nada servem ao rigor moderno, mas, florescem em matéria e riqueza (...)
Percorremos uma aldeia de pessoas simples, pessoas de muito trabalho e alguma rudeza, intempéries marcam seus rostos, mas, quando lhe batemos à  porta ouvimos uma voz a responder, porque as nascentes fulguram em cada canto e à beira do poço, se gritares, ouves o teu  eco! Ser bilha de barro, é manter a água fresca, ao invés da bilha d´oiro que serve a vaidade e aumenta a ganância.
Não julguem o meu sentir, porque de todas as riquezas do mundo a que mais desejo são Pessoas.
Ouvir as águas transparentes a transbordar em abundancia, do alto dos monte à pequena esteva, eu anseio.


Ofélia Cabaço

Por púcaro de barro,
Bebe-se a água mais fria,
Quem tem cuidados, não dorme
Vela para ter alegria.

F. Pessoa

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É estranho ver o ânimo destes indivíduos,
Destas grandes almas, supostamente sábias:

Sendo a natureza de tais almas, o amor
Por lugares que lhe granjeiam eminência,
E julgando-se muito superior a nós
Em intelecto (embora nos procurem),
Eles fantasiam o assombro e a estima
Que sentimos ante as coisas que dizem ou fazem, o que os leva
A procurar dilatar ainda mais o nosso espanto:
Coisa que julgam não poder fazer senão
Comunicando-nos os seus altos pensamento.

Daniel, Tragedy of Philotas,






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