Quando
caminhamos num deserto sem retorno, é porque a água faltou, e a
natureza à míngua de uma gota se aflige, e, dolorosamente, sucumbe
à beira dos rochedos que se diz serem robustos na deferência do
Tempo. Pensando o mundo, as coisas e as pessoas, subjaz a raiz
ancestral, que na era moderna é continuamente desprezada; viver o fragor terreno, atravessando
florestas, subindo colinas, sentir a solidão e ouvir os gemidos nas
noites é sentimento de cada um de nós, existentes; mesmo que
os rios sequem, há sempre um riacho onde a nossa alma se espelha e
nos configura formas, sombras e sorrisos (...)
Nos
bosques, e no silêncio seu, criptomérias e cedros onde só o céu
contempla suas copas, conseguimos encontrar nossos irmãos, e aí,
apetece-nos adormecer com a brisa serena que as ramagens, suavemente, como pessoas, numa balada etérea nos contempla.
O universo permanece uno e abstrato; no coração dos homens um cortejo fúnebre dilacera
matéria para desmedida riqueza; e, porque nos bosques existem árvores maiores,
com grandes golpes se abatem as pequenas, incredulamente! Impedidas
de crescer e ocupar espaço é o mote para não se desenvolverem, e
repete-se na visão nossa as grandes árvores, as que têm raízes sejam de que condição, as quais, de nada servem ao rigor moderno, mas, florescem em matéria e riqueza (...)
Percorremos
uma aldeia de pessoas simples, pessoas de muito trabalho e alguma rudeza, intempéries marcam
seus rostos, mas, quando lhe batemos à porta ouvimos uma voz a responder, porque
as nascentes fulguram em cada canto e à beira do poço, se gritares, ouves o teu eco! Ser bilha de barro, é manter a
água fresca, ao invés da bilha d´oiro que serve a vaidade e
aumenta a ganância.
Não julguem o meu sentir, porque de todas as riquezas
do mundo a que mais desejo são Pessoas.
Ouvir as
águas transparentes a transbordar em abundancia, do alto dos monte à
pequena esteva, eu anseio.
Ofélia Cabaço
Por
púcaro de barro,
Bebe-se
a água mais fria,
Quem
tem cuidados, não dorme
Vela
para ter alegria.
F.
Pessoa
…........................................................
É
estranho ver o ânimo destes indivíduos,
Destas
grandes almas, supostamente sábias:
Sendo
a natureza de tais almas, o amor
Por
lugares que lhe granjeiam eminência,
E
julgando-se muito superior a nós
Em
intelecto (embora nos procurem),
Eles
fantasiam o assombro e a estima
Que
sentimos ante as coisas que dizem ou fazem, o que os leva
A
procurar dilatar ainda mais o nosso espanto:
Coisa
que julgam não poder fazer senão
Comunicando-nos
os seus altos pensamento.
Daniel,
Tragedy of Philotas,