O vento assoprava numa fúria constante
Tocou-me no fundo da alma, saudades
Da cidade onde nasci e de um serão importante
Coloquei na mesa toalha rústica com hortenses,
Candeeiro com chaminé, petróleo e torcida acesa
Lá fora, o vento e a chuva afirmavam-se por fases
Destruindo árvores com açoites na natureza
Lembrei Júlio Dinis nos serões da província
Aquilino, de quando os lobos uivam
Desejei ter vivido com a luz da candeia
Na cidade as etiquetas e tanto, embaraçam
Cozinhei pescada, grelos e batatas
Apaguei as lâmpadas de Edison
Coloquei guardanapos entrançados com fitas
Cá dentro silêncio, lá fora um turbulento som
Bate José à porta e chama por mim
Cansado com sacola ao ombro fica preocupado
Pergunta o porquê de uma escuridão assim
Digo-lhe que vamos viver um serão do passado
Pescada com grelos são delícia para José
A luz fraca do candeeiro e o escuro assim não é
Acha que eu tenho cada ideia………..
Pede para Deus lhe dar paciência;
Desconfortável senta-se à mesa
Paulatinamente recompõe-se, elogia o cardápio
Sorridente por fim, chama-me camponesa
Conto estórias da minha infância sem pio
José relembra a sua aldeia, serões à lareira
Seu pai contando estórias, sua mãe faladeira
A sua escola primária à beira do caminho
A neve linda e fria que cobria seu pezinho
Contei sustos e sismos, numa abafada noite
O mar enfurecido, galgara o cais até ao farol
Juntaram-se grupos na rua, com receios do açoite
Ecos de pedidos e rezas, fé e cântico do rouxinol
Naquele tempo eu lia para minha avó
José procurava ninhos na serra, colhia cerejas
Eu, passava horas a fio, imaginando mágicos
Ele estudava a lição e pensava bem hajas
Eu, sonhava que um dia, as rosas não teriam picos!
Sem comentários:
Enviar um comentário