Junto à vidraça da escondida janelinha
Está um gato atrevido, com olhar de fera,
É Janeiro, está frio e não aparece a gatinha,
A estante velha, descaída e saudosa
Transmite histórias de outros tempos,O vulto espera pela sombra ditosa
Os livros desvanecidos, sacodem o pó
O silêncio é quebrado com assobios,
É o vento que entra e sai, espalhando cotãoRemexendo num passado sem lábios
Está tudo parado, morreram vidas de então
Um jornal que não tem notícias, esvoaça
De um lado ao outro do velho casebreQuer muito anunciar novas sem mordaça
Partir mentiras com espadas de cobre
A toalha que veste a mesa, tem buracos
O tinteiro secou, as violetas murcharamO importante livro escondeu abraços
As palavras traídas, de dor morreram
Um vistoso cachimbo espreita no cesto
Namora todos os dias a caixinha de rapéQue linda e cheirosa, nasceu dum xisto
E, rejeita o cachimbo por ter um só pé
O vulto do poeta anseia pela Liberdade
Chegará num veleiro com bandeiras brancasDepois, os gritos da alegria não terão idade
As mulheres soberanas, voltaram a ter ancas.
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