quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Casebre

No casebre, o vulto do poeta espera
Junto à vidraça da escondida janelinha
Está um gato atrevido, com olhar de fera,
É Janeiro, está frio e não aparece a gatinha,

A estante velha, descaída e saudosa
Transmite histórias de outros tempos,
O vulto espera pela sombra ditosa
Os livros desvanecidos, sacodem o pó

O silêncio é quebrado com assobios,
É o vento que entra e sai, espalhando cotão
Remexendo num passado sem lábios
Está tudo parado, morreram vidas de então

Um jornal que não tem notícias, esvoaça
De um lado ao outro do velho casebre
Quer muito anunciar novas sem mordaça
Partir mentiras com espadas de cobre

A toalha que veste a mesa, tem buracos
O tinteiro secou, as violetas murcharam
O importante livro escondeu abraços
As palavras traídas, de dor morreram

Um vistoso cachimbo espreita no cesto
Namora todos os dias a caixinha de rapé
Que linda e cheirosa, nasceu dum xisto
E, rejeita o cachimbo por ter um só pé

O vulto do poeta anseia pela Liberdade
Chegará num veleiro com bandeiras brancas
Depois, os gritos da alegria não terão idade
As mulheres soberanas, voltaram a ter ancas.

 Ofélia Cabaço 2013-01-22

Sem comentários:

Enviar um comentário