segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A BONECA


A criança queria uma boneca nova,
Tinha uma de trapos, linda e catita
Vestida com saia rodada de chita,
Simples, sorridente, com ar de boa-nova

 A boneca tinha cabelos loiros de carrapito
Feitos de rafia entrançada aos montões
Os olhos  azuis,  eram dois botões
Meias de renda e sapato apertadito

 Avental bordado com cerejas e joaninhas
Tinha ar de camponesa e duas maminhas
Mas, toda ela era de pano
Não falava, não podia tomar banho,

  A pequenina banheira de zinco
Oferta de aniversário dos primos,
Não podia servir seus préstimos,
Aquela boneca amada, não usava brinco;

 Ela queria uma boneca moderna
Que tivesse vestido de seda verde
Semblante de boneca fraterna
Que falasse sempre verdade,

 O bom mesmo, é que ela andasse,
De mãos dadas, com a menina passeasse,
No caminho para o moinho, do Cervantes
Lá havia papoilas e prados verdejantes,

 À noite a criança olhava o firmamento
Exultante, pedia às brilhantes estrelinhas
Que a ajudassem naquele pensamento
Uma estrelinha sorria entrelinhas

 Piscava cores igual aos pirilampos,
Que aos molhos brincavam na noite
A estrelinha vermelha como sarampo
Saltava, fugindo dum açoite

Aproximava-se o Natal,
A criança só pensava na boneca,
Nada mais era tão especial
Nem sequer a história da caneca

 Que magicamente vivia na floresta,
A criança cismada olhava o pinheiro
Que enfeitado prometia festa
Os pastorinhos observavam o ribeiro

 Colocou a menina os seus sapatinhos
De tão velhinhos, tinham arrepios,
Junto às palhinhas com carinhos
Rezando ao Jesus de todos os presépios

 Pediu para acordar a tempo da consoada
Adormeceu e quando a manhã rompeu,
A boneca chegou, muito consolada
Linda, sofisticada trazia um chapéu

Numa alegria efusiva a menina
Abraçou a sua boneca de louça
Batizou-a com o nome Carmina
De tão contente, parecia louca

 A outra boneca que era amiga
Sentiu-se no canto, abandonada
Estava triste e com dor de barriga
Chorou, ficou com febre e desafortunada

 A menina levou sua boneca moderna
Para a caminha de coberta quentinha
Adormeceu e partiu sua perna
Chorou a menina debaixo da capinha

 Então, lembrou-se da boneca de trapos
Que continuava no canto desgostosa
Correu para ela, eram amigas há tempos
Abraçou-a com força, tornando-a vaidosa

 Ao ouvido, muito baixinho disse-lhe
Que a amava muito,
Que era sua amiga,
Que gostava do seu carrapito,
Que lhe ia oferecer uma figa

 

Ofélia Cabaço 2011 – Maio- 27

 

 

 

 

 

 

 

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