A criança queria uma boneca nova,
Tinha uma de trapos, linda e catita
Vestida com saia rodada de chita,
Simples, sorridente, com ar de boa-nova
Feitos de rafia entrançada aos montões
Os olhos azuis, eram dois botões
Meias de renda e sapato apertadito
Tinha ar de camponesa e duas maminhas
Mas, toda ela era de pano
Não falava, não podia tomar banho,
Oferta de aniversário dos primos,
Não podia servir seus préstimos,
Aquela boneca amada, não usava brinco;
Que tivesse vestido de seda verde
Semblante de boneca fraterna
Que falasse sempre verdade,
De mãos dadas, com a menina passeasse,
No caminho para o moinho, do Cervantes
Lá havia papoilas e prados verdejantes,
Exultante, pedia às brilhantes estrelinhas
Que a ajudassem naquele pensamento
Uma estrelinha sorria entrelinhas
Que aos molhos brincavam na noite
A estrelinha vermelha como sarampo
Saltava, fugindo dum açoite
Aproximava-se o Natal,
A criança só pensava na boneca,
Nada mais era tão especial
Nem sequer a história da caneca
A criança cismada olhava o pinheiro
Que enfeitado prometia festa
Os pastorinhos observavam o ribeiro
Colocou a menina os seus sapatinhos
De tão velhinhos, tinham arrepios,
Junto às palhinhas com carinhos
Rezando ao Jesus de todos os presépios
Adormeceu e quando a manhã rompeu,
A boneca chegou, muito consolada
Linda, sofisticada trazia um chapéu
Numa alegria efusiva a menina
Abraçou a sua boneca de louça
Batizou-a com o nome Carmina
De tão contente, parecia louca
Sentiu-se no canto, abandonada
Estava triste e com dor de barriga
Chorou, ficou com febre e desafortunada
Para a caminha de coberta quentinha
Adormeceu e partiu sua perna
Chorou a menina debaixo da capinha
Que continuava no canto desgostosa
Correu para ela, eram amigas há tempos
Abraçou-a com força, tornando-a vaidosa
Que a amava muito,
Que era sua amiga,
Que gostava do seu carrapito,
Que lhe ia oferecer uma figa
Ofélia Cabaço 2011 – Maio- 27
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