domingo, 6 de janeiro de 2013

Alentejo

As manhãs no Alentejo são timidamente amenas
As tardes exultam cios e afagos de calor
Na obscuridade das noites, gemem as almas suas penas
Nas planícies abrasadoras espreita a seca incolor

As oliveiras escondem suas filhas
Tentando enganar tiranos com  proteção
Rumorejando gritos de longínquas ilhas
Onde um gigante se transforma em papão

 Os barulhos naquelas imensas terras
São vozes sangrentas da humilhação
Ao longe, ouvem-se desabafos e iras
Curvados, os espectros rebuscam condição

 Campos de trigo ondulante, caveiras desatinadas
Corvos grasnando sobre cabeleiras desgrenhadas
Dinossauros que vomitam raiva
Gesticulam agressivos, e calam a Iva

 Renasce a miséria com solares ensombrados
Vigiando palheiros sem guitarras
Azinheiras acenam a longos prados
No escuro da noite cantam as cigarras

 Na quieta melancolia do trabalho,
Interrompe o silêncio, uma voz de chicote
Uma enodoação vocifera sucessivos ralhos
As almas, uma por uma sacham o seu lote

Os sonhos daquela gente eram nevoeiros
Cidades visitadas por fantasmas de oleiros
Barro seco e árido, moldado por carniceiros
Bobos e palácios sem reis

 
Ofélia Cabaço 2013-01-06

 

( todos os poemas e escritos neste blogue são de minha autoria)

 

 

 

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