As manhãs na redação
São de inquieta ambição
Há novidades que tocam
corações
Dizem ao mundo cruéis
ações
Na primeira página,
retrato do ladrão
A seguir um rol de
virtudes
E depois, o morgado
está em casa
É um sacrilégio, nada
esconde na asa
Mais adiante:
O camponês assaltou o
quintal
Da cultura roubou
batatas
É um ladrão e tal e tal,
Para a cadeia, vai ele
sem mais fitas
Os filhos têm fome, não
interessa
O casebre está podre,
não importa
Para o intruso não há
pressa
Furioso o patrão
trancou a porta
O morgado, na sua
mansão lê a Bíblia
Matou a cliente, roubou
terras
É doutor, assiste à
homilia
Sensível, chora
lágrimas derradeiras
Tem boas ações,
Gosta de criancinhas
Ofereceu um hospital
Roubou mil cabecinhas
E, agora, é fenomenal!
Na redação tudo é
notícia
O importante é vender
com malícia
Destacam-se crimes de
importantes
Menospreza-se desejos
de protestantes
O ladrão de galinhas é
coitado
O assassino poderoso
tem milhões
Repousa descansado em
mil colchões
O pobre desgraçado é
chicoteado
Ficamos pasmados a
presenciar!
Nós, nada fazemos
senão, reclamar
Estão mortos os que
sabem conferenciar
Aqueles deram bons exemplos
a navegar.
Ofélia Cabaço
- 2013-01-27