Quando, em menina, pensava
Cismava e não cantava
Desenhava e não ocultava
Aquelas variantes que eu trabalhava
E o gentio ouvia e espancava
Desejava ser D.Quixote, cavalgava
Colinas e serras, dormir ao relento desejava
Não sonhava ter castelo, a mim bastava
Um cavalo preto que balançava
Ter o Sancho que nas más horas me salvava
Andar por terras e moinhos achava
Esconder-me com o cavalo que açoitava
Com berros duma velha que ralhava,
Ao longe, uma bela horta vislumbrava
Sorrateiramente colhia e comia fava
Nas noites sob manto de estrelas dormitava
Nas áureas madrugadas rumava
Em barquinho que no mar flutuava
Dos moinhos nem sombra nem nova
O vento, meu companheiro, assobiava
Com Dulcineia conversava e
acariciava
No sótão de minha casa vivenciava
Aquelas lides de menina que sonhava,
E assim minha vida continuava
Como uma lenda que prenunciava
Um pensamento que me elevava
E para sempre me acompanhava.
Ofélia Cabaço
2015-04-24
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