Na casa da avó Mariana o quintal
Era castelo de princesas e fadas, soberbia
A minha imaginação de alacridade, vital
Foi o caramanchão vestido de groselhas,
Havia um banco enorme de pedra velha
Desgastada pelos assentos constantes duma soberania
Antiga, lobrigada por incompetente austeridade…
No talhão de barro o maracujazeiro crescia florido
Dava muitas flores de cor rosada e frutos que em tempo ido
Perfumava o castelo, e as princesas cheias de vaidade
Completavam aquele lugar perfeito para se viajar no tempo
Senhora chique, eu era, usando o leque da tia Hermínia
Roto e em desuso, apenas recordação das recordações…
Era um prazer, que ao fazê-lo, me levava ao infausto campo
Espectro dum passado de amor e ações que não foram ilusões…
Beber chá na chávena sem asa, babada,
Que a tia emprestava porque eu amava as rosas pintadas
Minhas amigas, sombras da minha sombra,
Fazíamos três, personificação da desejada obra
O araçareiro, a minha professora, que nunca me respondia
Recebia ninhos, pássaros e borboletas que ali se reuniam todo o dia
O sol fugaz desaparecia e apanhá-lo eu não era capaz
Caíam bátegas de chuva quente, muitas vezes, nas minhas faces,
As ilhas e o tropicalismo, vulcões e sismos, nunca os mesmos!
E a chuva, ela mesma, pouco depois, trazia-me o sol…
No quintal da avó Mariana havia uma biblioteca de histórias contadas
Tão arrumadas como a história de histórias escritas e ouvidas
No quintal da avó Mariana mora a minha identidade e o meu passado…
Não haverá nunca intempérie que apague o sorriso da avó,
Porque a morte não conseguiu…
Ofélia Cabaço
2015-04-27
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