Como chuva de orvalho refrescante
Emocionou corações, despertou mentes
Gente sofrida, bocas amordaçadas,
Emergiram libertas de teias cruéis,
Com a alegria desejada, cantaram
Aplaudiram desabafos, exaltaram heróis
Lisboa com cheiro a cravos, rejubilou
O Tejo saudava sua eterna namorada
Desconfiada, Lisboa amuou e observou
Soldados corajosos, felizes, sem raiva,
Esperou p´la noite, exultou nos Fados
Rossio, turbilhão de ideias agitadas
Liberdade derrubou prisões, matou a dor
Nas varandas, cravos viçosos espreitavam,
Floristas bairristas enfeitavam avenidas
Balões coloridos distribuíam esperança
O país de todos nós, respirava alívio
Heróis, poetas, sábios e outros, filosofaram
A sabedoria anunciava melhores dias
O Homem fora libertado da ferrugem
A fome viajou subtilmente, (…)
Espreitava com manto de bruma cerrada
Voltou triunfante, anos depois, vingativa!
Fustigou o mais fraco, encarcerou os velhos
Repreendeu as crianças, racionou o pão,
Destilou veneno como cobra da morte
Lançou sementes em terra de calcário,
Riu-se descaradamente, brutalmente,
Destruiu lares, martirizou os doentes,
Lisboa tornou-se prisioneira de si mesma
Vagueia lânguida, como uma lesma
Rostos apreensivos passam a correr
Á procura de alimentos, de trabalho,
Num caminho interminável de restolho
Nas igrejas de Lisboa rezam os velhos
À porta gemem os míseros, mão estendida,
Os sinos anseiam rebelião, tocam desespero!
Nos casebres heróis com barriga deserta
Arquitetam uma Liberdade equativa, A FOME!
Nos jardins, rostos enrugados, pensativos,
Jovens não podem entrar, O MURO!
Mães repartem o pão, salpicado de orvalho,
Filhos envergonhados por terem vergonha
A Liberdade transforma-se, tenta despedir-se,
Mas NÂO, NÃO e NÃO, TU FICAS……………
Em breve serás inteira no cenário da vida
Não nos enganes por favor, LIBERDADE!
Não deixes que os abutres façam ninhos
Ninhos de ortigas, enganadores, fracos,
Daqueles que se desfazem com o tempo
Mais cedo ou mais tarde…………………
Não, Não, Não e Não abraça-nos LIBERDADE!
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