terça-feira, 30 de abril de 2013

Andorinha

No azul do imenso firmamento
Voa grande uma andorinha
Leva para longe meu pensamento
Que abandona numa igrejinha

No seu gigante voo
Depara com minha cabrinha
Que, nas encostas da montanha
Rumina tojo e malvinha

Altas horas da noite cálida
Recolhe-se no beiral de minha casa
Respira madrugada gélida
Canta o enlevo, alevanta suas asas!

 
Ofélia Cabaço 2013-04-30

O HOMEM!

O Homem em silêncio grita
Chora de indignação, o Homem
Sente um restolho desesperante,
O Deserto tórrido, transpiração
Vácuo faccioso, inspiração! amem
O Homem tem sede, a fome irrita
O vento transporta prenúncios,
O Homem chora (..)
Sob salgueiros débeis, a desilusão
Pedaços de cascas no chão, Carvalhos,
Pisados sistematicamente,
Angústia soberana, manhosa!
Abrigada no grito dos medos
Assim, quieta, maldita!
E, chora o Homem!
O Deserto sem réstia, o escuro!
O silêncio, a sede demolidora,
Lábios crispados, fronte pálida,
Num turbilhão de areias movediças
O Homem sonha e chora e grita e AMA!
Acaricia uma boca, desliza seus dedos
SONHA!
Amacia o âmago de Alma irrequieta
Reza até!
Tem cio e prazer, rebusca VIDA,
O Homem chora!
Coração sofredor sensorialmente  calmo
Lívido, mas corajoso o Homem ergue-se!
Acorda as clausuras da vontade
Caminha, rejeita contradições
Arquiteta proezas, sente emoções
Porque o Homem Sente!
Ao longe, escuta as ondas do mar, chega-se!
O mar leva-o entre procelas errantes,
Sonhos transparentes, venturosos
Esperança num novo dia a raiar!
E, chora o Homem!

 Ofélia Cabaço  2013-04-30

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Alegria sem Paz

Num caminho ermo, encontrei a Alegria,
Estava triste, cogitava a vida
Incrédula, evoquei admiração
Como poderia a Alegria ficar assim?
Descalça, desalinhada, estava fria
Ela magicava tortuosos pensamentos
Pálida, a Alegria dispersou tormentos
Procurava a Paz numa razão consinta,
Convidou-a regressar aonde pertencia
Teimosa, a Paz volveu desanimo,
Fugidia, desiludida e baça, cedeu,
Numa trama de teias metediças
Recolheu-se nas asas ensanguentadas
Caídas por uma avalanche ignominiosa
Foi timidamente lutar em terras áridas
Como vela de barquinho na noite escura
Então, a Alegria com olhar vácuo
Pasmava na esperança do impossível
Com gestos que interrogam, parou,
Sentou-se à beira do caminho e chorou!

 
Ofélia Cabaço 2013-04-29

sábado, 27 de abril de 2013

Anjo

Colhi malmequeres e marcela
Numa planície, algures,
Coroei uma cabecinha linda
Dona de um rostinho de anjo,
Fugi para longe com ela
À procura dum Arcanjo

Olhos azuis transparentes eram seus
Boquinha igual à cereja madura
Tranças negras ao vento, ai jesus!
Plantei no meu coração flor púrpura

Fiz pomar com peras sumarentas
Jardim com flores e borboletas
Alpendre de glicínias para sombra
Inventei para ela, uma obra
Na colina,  declamei os poetas!

 
Ofélia Cabaço 2013-04-27
 

Enseada

Aquela pedra grande
Tão pequena para o mar
Rodeada de conchas e pedraria
Confidente de tormentos e choros
Quieta, esbofeteada p´las ondas
Com muito para contar, segredos!
Sentei-me a seu lado, ouvi!
Uma gaivota a troçar, liberta,
Sobrevoava o imenso azul
A pedra murmurava o abandono
Desejava pertença de um dono
De todos, era ninguém
Disse-lhe não saber a quem pertenço
Esqueci-me de onde vim,
Sei apenas para onde fui,
Fui longe, longe, estou cansada
Não alcancei amor, morri no caminho
Deixei para lá um rio de lágrimas
A sede bebeu-o, morreram os nenúfares!
Ninfas desoladas,
Vou envolver-me numa lágrima, apenas!
Oiço o mar, saboreio o sal da vida,
Deixo-me pentear p´lo vento, carícias,
Encho minha alma com som de sereias
A pedra almofada no meu leito, ajeito-me!
Juntas homenageamos a Poesia,
Ao ritmo de baladas sonoras, as ondas
Abafadas sob longo abraço do mar
A pedra e eu, que nada sei de mim!

 
Ofélia Cabaço   2013-04.26

No alpendre

Imagino aquele dia, os dois,
Sentados no alpendre de nossa casa
Sob firmamento de luzidias estrelas
Sorvendo bagos da romã que foi amor
Tu com o teu jornal, ouvindo Handel!
Eu, bebendo  Camões, Wilde ou Florbela
A noite com luar prateado, a nossa paz!
O lebré sentado a teus pés, atento,
Pirilampos no ar, cheiro a rosas,
Ao longe som de carroças, rolando rodas
Restolho de centeio, trigo nas eiras,
Como nós, giramos a roda das nossas vidas!
Adormeces, deixas cair o jornal, calo Handel
Sorrio, afago o cão, serena conto carneiros
Adormeço finalmente no teu abraço a desoras!

 

Ofélia Cabaço  2013-04-26

Carolina

De linho fiz um lençol
Com barra campestre bordada
No topo um sonolento Sol
Junto a uma casinha caiada

Joaninhas e caracóis no quintal
Bichos de seda e mil folhas,
Menina num baloiço fenomenal
Carolina a brincar com maravilhas

De linho fiz cortina
Bordada com antúrios
Recebi com honras Carolina
Para deliciar meus delírios

 
Ofélia Cabaço  2013-04-26

terça-feira, 23 de abril de 2013

Aniversário do Rafael

Aniversário do Rafael
Hoje, dia lindo de aniversário
Dum rapazinho meigo, traquinas,
Que se diverte com flores em ruínas
Feliz por ter um amigo assim
Desejo-lhe saúde e sons de clarim
Beijinhos muitos, abracinhos,
Cestinha com gelados de morangos
Embrulhados de fresquidão e carinhos
Desenhos coloridos de orangotangos
No meio de flores destruídas, um ralho,
E, por fim um abracinho saboroso.

 
Ofélia Cabaço para Rafael Lourenço – 23-04-2013

 
Obs.: Ai as minhas flores!!!!!

 

Para onde foi a Onda?


Para onde foi a Onda?
Já não a oiço da minha cama
Apenas oiço o mar enfurecido
Numa longa conversa de agouro,
Cubro os ouvidos inquietos
Para onde foi a Onda?
As crateras falam fogo
O vento com náuseas patéticas
Asas dispersas na praia
Choros e vagas flagradas
Para onde foi a Onda?
Em vez do farol, piratas
Mascarados de bananas
Cavaleiros à procura de ciúme
Mais donzelas no negrume
Para onde foi a Onda?
O mar, vozeirão de adamastor
Sereias padecidas, tormentos
Sob  o mar com espuma
Medos de navegadores sem rota
Corações povoados de saudade
Arrepios e assobios a pairar
À roda das sofridas ilhas.
Para onde foi a Onda?

 
Ofélia Cabaço  2013-04-23

 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Liberdade

Surgiu numa manhã de claridade tímida
Como chuva de orvalho refrescante
Emocionou corações, despertou mentes
Gente sofrida, bocas amordaçadas,
Emergiram libertas de teias cruéis,
Com a alegria desejada, cantaram
Aplaudiram desabafos, exaltaram heróis
Lisboa com cheiro a cravos, rejubilou
O Tejo saudava sua eterna namorada
Desconfiada, Lisboa amuou e observou
Soldados corajosos, felizes, sem raiva,
Esperou p´la  noite, exultou nos Fados
Rossio, turbilhão de ideias agitadas
Liberdade derrubou prisões, matou a dor
Nas varandas, cravos viçosos espreitavam,
Floristas bairristas enfeitavam avenidas
Balões coloridos distribuíam esperança
O país de todos nós, respirava alívio
Heróis, poetas, sábios e outros, filosofaram
A sabedoria anunciava melhores dias
O Homem fora libertado da ferrugem
A fome viajou subtilmente, (…)
Espreitava com manto de bruma cerrada
Voltou triunfante, anos depois, vingativa!
Fustigou o mais fraco, encarcerou os velhos
Repreendeu as crianças, racionou o pão,
Destilou veneno como cobra da morte
Lançou sementes em terra de calcário,
Riu-se descaradamente, brutalmente,
Destruiu lares, martirizou os doentes,
Lisboa tornou-se prisioneira de si mesma
Vagueia lânguida, como uma lesma
Rostos apreensivos passam a correr
Á procura de alimentos, de trabalho,
Num caminho interminável de restolho
Nas igrejas de Lisboa rezam os velhos
À porta gemem os míseros, mão estendida,
Os sinos anseiam rebelião, tocam desespero!
Nos casebres heróis com barriga deserta
Arquitetam uma Liberdade equativa, A FOME!
Nos jardins, rostos enrugados, pensativos,
Jovens não podem entrar, O MURO!
Mães repartem o pão, salpicado de orvalho,
Filhos envergonhados por terem vergonha
A Liberdade transforma-se, tenta despedir-se,
Mas  NÂO, NÃO e NÃO, TU FICAS……………
Em breve serás inteira no cenário da vida
Não nos enganes por favor, LIBERDADE!
Não deixes que os abutres façam ninhos
Ninhos de ortigas, enganadores, fracos,
Daqueles que se desfazem com o tempo
Mais cedo ou mais tarde…………………
Não, Não, Não e Não abraça-nos LIBERDADE!

 Ofélia Cabaço   2013-04-21

 

 

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pinhal da Paz

Sonho com saudade e emoção
Caminho no alegreto dos ciprestes
Vou encontrar o Pinhal da ilusão
Vou beijar azálias e jogar confetes

Trocar danças, redopiar com o vento
Declamar poesia no caminhar da hora
O público serão azálias e o catavento
Ao longe,
Som de tambores até que nasça aurora

Junto ao mágico pinhal um cemitério
Dormem gentes dum passado rigoroso
Na sua derradeira paz, brotam mistério
Saudosa, converso com silêncio ansioso  

Não sei se acordo, deixem-me sonhar!
Sentir os cheiros da ilha, morar no Pinhal,
Vibrar novamente com histórias, cantar,
Escrever poemas com energia vital

 
Ofélia Cabaço 2013-04-11

 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fim de Tarde

Oh! Sol doirado, porque me torturas?
Não despedaces minha alma à despedida
Nesta tarde sensual e duradoura
Não me deixes de  amor despida

Pede à Lua que me traga noite cálida
P´ra receber inspiração e poetas
Não quero ser uma infeliz crisálida
Antes, vestir-me do escuro das violetas

Ah! Sol, em cada manhã que apareces
Emerges da terra profundos lírios
Submetes os corações às preces
No desejo de aventuras e mistérios

Fico quieta recebendo tuas carícias
Imagino uma casinha na floresta
Janelinha e vasos plantados com zínias
Dela vislumbro prados com giestas

No meu coração enternecido, tu, Élio
Vibras meus sentidos desmaiados,
Na eloquência forte de periélio
Magoas meus olhos entristecidos

 
Ofélia Cabaço   2013-04-15

 

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Preconceito

De si para si manhoso
mora em mentes inseguras
preceito enraizado de censuras
agoiro acerbado,  vaidoso!

superstições  malignas, desconfiadas
povoadas de falsas crenças
derrubes de mentes avançadas
invejas subtis, afugentando esperanças

preconceito visita fracas alminhas
desvanecido, quando as notas são mil
elevado substancialmente aos lingrinhas
escondido de má fé, quando verossímil;

esconderijos feitos de plástico,
cercaduras de teias falhadas
bocas com rugas disfarçadas
acompanhadas de som acústico

Preconceitos são barreiras intrínsecas!

 Ofélia Cabaço   2013-04-09

 

domingo, 7 de abril de 2013

Viagem

A manhã era radiosa de festa e luz
Subi até às nuvens
Toquei-lhes,
Subi longa escada de açucenas
Conversei com homens de sabedoria
Sábios do universo, guias no infinito
Perguntei p´los deuses,
Estavam em conferência com Minerva,
Numa brecha espreitei o Sol, esperei,
Anoiteceu!
Escondi-me no silvado da Lua,
Estrelas marotas iluminaram as bagas
Sorriram para mim em silêncio
A Lua velhinha penteava seus cabelos de prata
Ralhou com as estrelas e chamou-as para si
Fiquei sozinha, tive receio e desci a escada,
Voltei p´las  nuvens, saciei a sede
Encontrei no caminho, aves a grasnar
Sentei-me numa ravina, apreciei o alvor
Ouvi o lamento das pedras,
Ao longe o mar espreguiçava-se sonolento
Resplandecente, embalava as ondas
Uma madrugada de luz generosa
O Sol admirava a sua imagem no mar
Junto a mim, por entre as rochas, um cato,
Feliz, adormeci à porta de casa.

 
Ofélia Cabaço 2013 04-05

 

sábado, 6 de abril de 2013

Abraço

Vou inventar um abraço
Um aconchego carinhoso
Dum ser humano bondoso
Longo, forte como o aço

Fico quieta, de olhos fechados
Finjo ser novamente criança
Palmilho as memórias do passado
Visualizo romeiros com crença

Pinto um quadro com seara amarela
Sonho viver na paisagem da pintura
A pastora guarda seu rebanho de aguarela
Veste saiote rodado e blusa de alvura

Continuo no piedoso aconchego
Invento uma cesta de amores-perfeitos
Caminho pelas canadas do desenho, chego!
Todos dormem, palhaços de palha feitos

Receosa, refugio-me no abraço
Melhor imaginar guloseimas
Rebuçados e bolo de melaço
Inventar momentos sem teimas

 
Ofélia Cabaço  - 2013-04-05

 

 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Bebé

Bebé de doce rostinho
Fisionomia de anjo,
Faces como cerejinhas serôdias
Riso dobrado no meu colinho,
Suas mãozinhas a tocar alegrias
Criança inocente, toda pureza
Quisera assim, tê-la segura
Sob o meu abraço de boa moura
Quem dera ser mãe de muitas,
Protegê-las, ser leoa nas florestas
Brigar com os lobos e ficar atenta
Vigiar seu sono numa paz sedenta,
Ah! como eu desejo crianças felizes!
Extinguir guerras cruéis,
Sossegar minha alma sem deslizes
Caminhar no desencontro de cascavéis
Rodeada de mil e uma crianças,
Erguer paraísos, escolas e alianças.
Contar estórias de fadas e neblinas
Vestir-me de palhaço, fazer rir as sinas
Inventar algodão doce, pipocas e framboesas
Carroceis girando as nuvens com surpresas
Parar enfim, na felicidade de príncipes e princesas.

 
Ofélia Cabaço 2013-03-31