quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

As manhãs no Rossio



As manhãs no Rossio são claras, apaziguadoras, metamorfoseando com o seu cheiro as nossas ideias e atitudes.
O sol beija o Rossio em cada manhã de Verão, timidamente, envolvendo a cidade de uma luz clara e poética.

Ao longe, entrando pela rua do ouro, o rio Tejo espreita curioso cada momento, cada alegria, cada tristeza, cada história que passa pelo largo do Rossio;

Passa o mendigo, passam as vendedoras de flores, voam as pombas, entrecruzam-se numa velocidade estonteante, zangadas, porque os seus pequenos haveres depositados no ombro de D. Pedro IV, durante a noite, desapareceram!

A um canto mais isolado dorme outro mendigo de idade avançada e, no seu rosto de barbas prateadas, há um sorriso de fingido alívio.

O sol brinca aparecendo de vez em quando, mimando quem passa ligeiro, de sobrolho carregado, como se nunca mais chegasse a casa!

O ar oferece-nos aqueles cheiros de bolos e leite quente!

Nas livrarias, os livros saúdam-nos convidativamente; o cheiro lá dentro consola a alma de quem por lá vagueia. Vive-se e imaginam-se histórias, por momentos!

Cheira a flores, junto ao lago onde todos os dias D. Pedro IV se mira, depois de saudar com uma orgulhosa cortesia a casa ao lado, onde nasceu o nosso Eça.

Ouvem-se os pregões de carteiras, canivetes, pentes, chapéus -  de -  chuva; no verão não há castanhas assadas, elas pertencem ao cinzento do outono, não ficariam bem naquela moldura tão doirada!

É o começo de um novo dia, vamos acordar, vamos sair daquela manhã quase mística que nos enternece a alma e nos ajuda a enfrentar mais um dia de trabalho.

No bosque as manhãs são diferentes, são etéreas, saboreiam-se sempre, a todos os instantes.

Esta é a nossa cidade, a cidade de Lisboa

Ofélia Cabaço.

 

 

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