sábado, 5 de março de 2016

Diferente

Voa mais alto o pássaro
Diferente porque não tem uma asa
Com uma apenas, poisa no píncaro
sobrevoa serras e penhascos, sua casa
são as nuvens, entra e sai e volta
uma liberdade que a toda a hora se solta

Diferente,
Escárnio do mortal, insulto que morre...
Diferente, “o coitado”, que vai morrer
e não morre...
Diferente, fala o silêncio do seu grito
indiferente ao assobio, à punição da Torre...
Sobrevoa lagos e rios, com engenho, afasta atrito
Usa palavra na contemplação das coisas, e dos atos
Pensa tréguas, Paz, Verdade...

Eis o Diferente...
O inoportuno, o vergastado pelas intempéries, o absurdo!
Aquele que desperta risos nos tronos da denominação,
Corajoso, assiste e resiste ao palco da desconsideração
Diferente no indiferente d´um teatro obsoleto e surdo...

Diferente,
Voa quanto pode na busca do que não sabe,
E na noite recolhe-se nos brincos das árvores,
Desperto ao barulho e à mutilação dos abutres...

Ofélia Cabaço
2016-03-05




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