quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Taça

Rutilante num assomo de promessa
É Taça de mil cores, enganadora,
Bolas de água se esvaem no ar
Encantamento feito de mil efeitos
No caminho, com frémito prazer, devassa
Fingindo ser mais alta é ela geradora
Dos abismos…

Olhos cheios de porosa névoa e o futuro…
Densas lágrimas, num dia pouco longe,
E todos em procissão espectral, obscuro
Desígnio, face aos presságios dum triste monge,
Em silêncio, aguardo o entreluzir d´aurora
Timidamente, escondida em altas ramagens…
Cabeleiras farfalhudas sobre ocas cabeças
E a Taça persistente, como quem não mente
Num esperado instante, ela
Se desfaz em tons de aguarela…


Ofélia Cabaço
2015-09-12


segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O Mar, a Pedra e Eu,

As Tardes

 

Esquecer-se de si,  

na reminiscência das mimosas,

anunciação, tempo festivo,

andorinhas no ar, vívidas,

constroem ninhos com folhas da romãzeira

frescas, renovadas a seu tempo

bicos de artesãos!

 

E as sestas sob o alpendre

axadrezado de troncos e flores,

Ó como são serenas as tardes!

há uma íntima alegria na renovação

 

das coisas, do que é Ser o Belo!

uma andorinha não é “coisa…”

natureza, exaltação e testemunho etéreo

que nos faz beber o canto nas tardes;

 

Um som ao longe,

Os sinos às Trindades, o murmúrio dos ciprestes

E o caminho solitário…

Ó como são serenas as tardes!

 

Ofélia Cabaço

2023-Janeiro-10

 

 

 

 

 

 

 




Sonhos meus...

Dos sonhos meus,
estendal de renda frágil,
outrora diamantes brocados
d´oiro fulgente, eram os sonhos meus...,
abundantes como as romãs no outono,
ao que o inverno gélido, astuto e ágil
enfatizou em noites de dor,
na tua ausência e no teu perpétuo sono,
não consigo o que um dia senti fervorosamente!
sonhos meus..., trocados pelo vazio das “coisas”
não vislumbro as cores que pintei ardentemente
aos olhos dum amor inquietante,
sonhos meus, filhos órfãos,
levados pelo triste canto das aves
ensombrados por um luar encoberto,
como as areis no deserto
anseio águas e bosques e aves
e, contigo, divagar ao luar desperto.

Ofélia Cabaço
setembro 2019











quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Razão ou Sentimento?

Ao que são emoções
aquando sumida a razão,
entontecido coração,
atormentado corpo que resiste em vão,
quem não ouve fados meus,
não sente males seus…


Se no deserto há uma árvore,
no jardim uma flor,
no beiral da casa uma andorinha, 
no mar uma onda,
se em cada dia o orvalho persiste
nos corações o amor subsiste

aos adornos somenos importância
quanto vazia é a vida,
sentimentos ou razão? árdua escolha!

em razão, cumprir o que é dever,
sentimento..., ponte que enaltece vida
e ao amor se eleva.

Ofélia Cabaço
2019 outubro









terça-feira, 8 de outubro de 2019

Meu Mundo

Fui conversar com o mar…
bandos de gaivotas voavam, voavam em périplo
sobre um azul tonalizado de verde floresta
senti plena liberdade, em duplo
voo com meu pensamento.
a minha vida, que não esta...,

é viver em paga desigual,
a minha capacidade de não ser igual
a todos os que ousam a minha alma macular…
e o mar, como manto enrugado, veio até mim!



Ofélia Cabaço
2019-outubro

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Antigamente

Tanto me enfeitiçou
a imaginação, tocou
a minha mente com alvura,
saboreei figos e mel, perdura
a dança tão leve como uma folha;

ò sonhos! quimeras que ondulam
como feno nos campos,
concertos de outros tempos,
o sussurrar dos pássaros e o sino da igreja,
e a avó tão presente, que me beija
e me afaga e me abraça,
era tão pequenina, em minh´alma 
uma constante luz baça,
e aquele ardor que hoje me embaraça;

o sentir inflamado,
assalta-me enganosamente,
-o Sol brilha e o céu está limpo,
contudo, ao meio-dia não existe claridade-,

mui sofrida coisa,
quão débil está minha alma!


Ofélia Cabaço

2019 - outubro

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

EUCALIPTO

Ao eucalipto que de perfume
Presenteia o ar e a floresta…
Em manhãs brumosas de melancolia funesta,
A tristeza com seu aroma consola…
Estendem-se eucaliptos pelos campos
Coberta intensa, brilhante…
Sobem colinas, e montanhas florescem,
Os eucaliptos…, sua multiplicação em jeito
Absoluto, cama arbórea, tons dispersos
Contentamento, um alvor sem eco  
Um constante fluir em Ser…

Um dia, no meio de outros dias, o homem
Por ali passa, entediado no seu caminho!!!
Maligno, espectro vagabundo, em si, seco menino,
Sem ouvir o eco dos seus passos,
A floresta e campos incendeia…
Destruição em Inexorável cadeia…

Desolação, ante olhares e almas doridas
A terra erma e gente enferma com cheiro
A desgraça e rebuscada esperança…

Ofélia Cabaço
2019-outubro










segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Ego

Linda a macieira…,
Maçãs muitas e outras a desabrochar,
Imensas! Uma há que nos desperta
Mais tanto que todas as outras,
Às vezes contemplada no seu esplendor,
Outras, esquecida no meio de tantas,
Do trejeito é o jeito consumado a eito,
Eufemismos (…)
Que retorna e reforça o mesmo!
Como maçã podre que renega a origem,
Afora tempo passado…
Ah! O Eu, o Ego e o desprendimento do outro, Eu!

Ofélia Cabaço
2019-setembro






Nesta Manhã,

Nesta manhã,
que o sol espreita entre folhagem,
e a memória nos traz recordação, ficamos sós,
nesta, e em outras manhãs e a todo o tempo...,
a tua imagem como folha solta que se balança
em recato e subtileza, lembranças de criança, 
noivado e vestido de organdi,
terna coisa, adejando que volva alegria,
como uma tarde de sol ardente que ao meu peito
aquece  e me embala até ao leito;

o que somos à roda dos vivos?
folha poisada sobre cama verde
que o sol faz parecer joia carmim,
num qualquer canto de jardim.

Ofélia Cabaço
2019-setembro



 

terça-feira, 24 de setembro de 2019

O Poeta e Seu Ardor,

O poeta e seu ardor
Que é da pena sua expressão
Não fere o poeta as palavras,
Nem é o ardor que o desanima
Sua condição, talvez, na dimensão
De sua imaginação…

O poeta tão só, apóstolo, deveras
Condicionado à Voz que habita em sua alma,
Contida no receio que é do outro a opinião,
Do humano, minguada voluptuosidade, acima

De si, mistério…, e no desconhecido
Eterna inquietação p´ro Divino,
O poeta e seu ardor…
E a consumição de inalcançável hino…
Ah! O poeta…

Ofélia Cabaço
2019-Setembro


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Outono

Águas que correm nos rios
Como mulheres perfeitas
Senhoras dum tempo distante
Corpos belos, cabelos brilhantes
Perfis e sorrisos ébrios…

Todo o resto, sombras e pouca alegria,
Impreterível a água fria,
Quando a sede arde no peito
E as águas correm sem jeito,

Ah! O outono,
Pré-existente ao mês nono
Que nos traz farrapos e folhas
Troncos nus e as cores vermelhas…

Que enrubescem sonhos e realidade,
Contemplação, memórias em jazigo
Doirado, e, solitária, a alegria persigo…

E as águas correm nos rios,
Onde irão tão apressadas?
Afugentar, talvez, os demónios (…)



Ofélia Cabaço,
2019-agosto





sábado, 21 de setembro de 2019

A Rosa

Linda a rosa,
Imagem do Criador, mimosa
Em harmonia e beleza…,
Nesta manhã a chuva vistosa,
Mansamente, caída do firmamento,
Cintila como fogo a rosa…,

Em agradecimento,
Atenuados o vento e a sede
A rosa mimosa, resplandece
Em cada um de nós o pensamento.


Ofélia Cabaço
2019-09-21



quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Aos meus amigos. Zé Vieira e Felicíssimo


 Oh! ter um amigo
Sem que olhe seu umbigo
Que arrase o inimigo
Sendo pobre não importa
É riqueza que nos bate à porta;

Oh! ter um amigo,
Entre nós inteira vida
Homem honrado, digo
Nas horas do Tempo antigo
E no presente sempre sigo;

Ofélia Cabaço
2016-09-26




quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Absurdo...

Se, por razão estreita
Indesejado fores,
A um sentimento corajoso,
Emerge de novo, desejoso
Por seres quem és
Na medida que é a tua medida (…)
Não te importes que inventem vozes fora de ti,
Em silêncio fica…, expectável,
Do arremesso agigantado, emergiu um começo,
Há muito tempo desejável…,
Esquece o absurdo da coisa, apenas escuta (…)
A tua consciência e a tua paz permanecerão!

Ofélia Cabaço
Julho de 2019

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Gira Sol

No meio da pedreira uma flor
Brotou à beira duma pequenina pedra
Pequenina, a pedra, deixou fluir
A Beleza que a flor exaltou;
Uma dádiva fora do pensamento,
A pedra…, genuína, É,
Livre de inquietações consente,

Saber que o pensar determina,
Vezes sem conta, o contrário {…}



Ofélia Cabaço
2019 - Agosto




segunda-feira, 1 de abril de 2019

Quem me dera


Quem me dera,
Minha casa sobre musgos e pedras
Receber sonolenta caricias e beijos,
A toda a hora, amor deveras…

A vida e amores sem demora
E uma flor em meu peito…,
Sob olhar atento de alva aurora,
Sobre verdes planícies, o meu leito,

Amar o visível ante meus olhos,
E subir, subir o mais alto ao invisível,
No escuro vácuo, abandonar os abrolhos,
E, sentir o fluir da paz previsível (…)

Ah, quem me dera…



Ofélia Cabaço
2019-03-março






sexta-feira, 29 de março de 2019

Beleza dum Instante


O Sol brilha…,
A Natureza, toalha de linho,
Se estende sobre colinas e montanhas,
Bebo sôfrega aquele instante, ébria,

Abraço a beleza das coisas (…)
Sinto aquela paz que só em criancinha
Era sentida numa liberdade tão minha,
Uma alegria inquietante, uma luz…,

Não sem ternura, não sem nervura,
Alegria que se sumia com minhas travessuras
Por bem ou por mal não sei…,
Efémera foi, eu sei!

Pede a Alegria guarida em minha alma,
E no entanto, foge nas asas dum corvo,
Que proemina para mim, desventura (…)

Ò Alegria vem, e em minha casa perdura,
Não seja Alegria efémera, padecida,
Quiçá, igual à Alegria do suicida…
Ofélia Cabaço
2019 – março -



segunda-feira, 18 de março de 2019

Sou Caminhante!

Caminho em caminho estreito
Alargo o passo, vou de encontro ao pensamento,
Sou levada pelo vento contrário
Ao que desejo, entretanto,

Penso voltar, a dor no meu peito,
É a causa, e os arrumos no armário…
Balança a ténue cortina, sorrateira,
Emerge em minh´alma e acorre como um rio,

Dolorosas incertezas, meu coração suspira,
A cada instante como mal feito,
Aonde o Bem é a direção…
Como em certos dias, estranhamente,

A razão busco, sem emoção,
Não volto…, rejeito qualquer leito
Esqueço recordação e compaixão,
Desprezo ecos e rumores …

Troco por perfumes e amores
Sou caminhante!

Ofélia Cabaço
2019-03-15



quinta-feira, 14 de março de 2019

Cotovia

Cotovia amável,
ouvi teu canto admirável
sob lampejo enfeitiçado,
Ò doce  balada a tua!
que o meu espírito serenou,

dia passado ouvi de longe a catatua,
que em vão te imitou,
um trémito arrepio me assolou
prenúncio que me afligiu, sentei-me

à beira do caminho cansada e triste,
eis que tu e o canto teu, em riste
a minha face roseou,
como à flor formosa que o sol beijou
um abraço oculto me enlaçou, 

escuto a voz que em mim persiste,
" em água viva,  vida segue,
em teu corpo trapos rotos..."

a esperança que medita em nosso rostos
e o cair da tarde pintalgando o horizonte 
o teu canto e o desassombro nas novas
que nos traz o vento ululante.

Ofélia Cabaço
Setembro 2021



terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Intelecto

Ó raiz teimosa,
desesperas o ominoso (…)
demorado o tempo de ti
fruto e dom,  águas e nascentes
em redor d´um desfolhado silêncio,

Raiz esquecida, ergue-te e Sê,
o caminho não percas, prossegue!
inda que as ramificações não tenham rosto,
Ergue-te!

No meio do escarcéu, um sorriso
um olhar ardente, honesto,
vindo de honroso gesto,
e, o céu será sempre azul!

Ergue-te!


Ofelia Cabaço
2022-Maio

 


domingo, 3 de fevereiro de 2019

Poeta


Poeta,
Aperceção tem o Poeta (…)
Sozinho no rodeio de tanta gente

Como a formiga trabalha na sua toca
Alimenta desejos intocáveis,

Desconhecido (…)

Esmagado, o Poeta renasce a toda a hora…
É louco o Poeta,
Familiar das flores e dos campos, agora
Namora a borboleta, o Poeta…,

Desconhecido (…)

Logo, no mais alto rochedo,
Sente o despertar das manhãs, cedo
Se alevanta o Poeta…
Queda constante, sem nome o arremedo

Desconhecido (…)

Noites longas, frias, como um altar caído,
Lá fora, no seu canto, aiam os pássaros
Dançam as árvores ao som mavioso
No paradoxo que é seu canto …;

Desconhecido (…)

Um místico Som…, intensamente
O Poeta se alia, se reconhece, sente
Que é o principal personagem…
Porque a sua alma dorida, não mente!



Ofélia Cabaço
Janeiro de 2019






quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Árvore Velha...

Árvore velha, antigo
Seu nascimento, nova ontem…
Sábia a todo o instante, comigo
Sussurram suas folhas, pensem
No que vos apetece argumentar…

Algo dialeticamente existente
Flui como o astro luminoso…,
Ao romper do botão resplandecente
Sob um teto de cor azul, formoso;

Árvore grande, imensa, brilhante!
Familiar espírito que me abraça
E me eleva nesta vida, sabiamente,
Envolto de Amor e Justiça…


Ofélia Cabaço

Dezembro de 2018