quarta-feira, 15 de junho de 2016

Como Viver?

Quando se muda de um País para outro, ou de uma cidade para outra, há tendência para as pessoas tentarem conhecer outras pessoas, e, naturalmente, criarem amizades.
Nem sempre acontece neste ponto de vista resultados positivos, sabendo nós, que existem amizades disfarçadas de interesse, ou talvez, de curiosidade acerca do outro.
Para quem, já de si, é de afetos verdadeiros sem qualquer fim instrumental, não é difícil acreditar na máscara bem retocada. Mas, existe um fator que é decisivo no conhecimento acerca do outro; se pensamos, e fomos habituados a não fazer exclusão de ninguém acerca da convivência no nosso dia a dia, acontece porém, ser um dever nosso, perceber até que ponto a outra pessoa é capaz de nos entender e apreciar as nossas qualidade ou defeitos; se tem capacidade para entender o que é a Amizade em si, e para os que a ela se dedicam com verdade e franqueza.
Claramente, e sem qualquer rodeio, nem sempre assim acontece quando temos o hábito de pensar, influenciados pelo sensível, sem qualquer consulta à razão sob pena de a sensibilidade de cada um se tornar banal e usada.
Sabemos, e aprendemos nas escolas que frequentamos, e nos livros que lemos, e até, nos parcos exemplos dos mais velhos, quando ainda somos de tenra idade, que elitismo entre classes é muito mau nas sociedades. Ora, as pessoas são todas diferentes, cada pessoa é uma pessoa, e, se alguém pertencente a uma classe social débil, e em muitas das suas referências tiver qualidades e bom senso, não podemos nem devemos descurar o objeto do seu intento, em querer integrar-se na aprendizagem e modelar a sua personalidade em termos de um conhecimento viável e pertinente; as apetências de cada um para “coisificar” o que se estuda é sobremaneira prazenteiro e útil ao género. Mas é preciso que o outro tenha essa vontade ou desejo, ao invés de opinar constantemente do que não sabe, ou não quer saber. Opinar erradamente, mas ouvir o “certo”, e fazer alusão ao conhecimento da coisa é evocar a Cultura e é elementar.
Mas, será que podemos conviver com toda a gente? Devemos, como foi exposto neste manuscrito anteriormente? O facto consiste em sentirmos que queremos acompanhar e perceber aquelas coisas que no concreto não são objeto de venda e compra, o que, para muita gente, não tem qualquer valor não se tratando de dinheiro ou largas vantagens; o mais desagradável de tudo isto, é que algumas pessoas rejeitam a conversação de quem
pretende aprender e discutir o que lhe atrai de mais significativo na sua escolha. Já é de si muito complicado ouvir constantemente gente que só fala de si, sobretudo, das suas queixas, sem a mínima preocupação com o outro, colocando de parte e em absoluto que sair do seu conforto para dar a mão ao outro é impensável. Temos o dever e a obrigação de ouvir, embora do outro lado não interesse a nossa apetência, naquele momento, de ouvir queixas banais e sem qualquer fundamento, quando o mundo está a desmoronar-se e pessoas morrem como lixo.
Quando se pensa nestes fenomonozinhos de trazer por casa, mas que são tão perturbadores para quem se esforça, em dar abertura e ouvidos, a todos quantos se acham nesse direito e que em troca oferecem dentadas, relembro OSCAR WILDE numa história que escreveu, cujo título é o seguinte:

A VERDADEIRA HISTÓRIADE ANDRÓCLES E DO LEÃO

“ … Um dia, no limiar de um vasto deserto, Andrócles encontrou um leão que parecia padecer de uma dor intensa. Segundo parecia, o leão tinha sido suficientemente tolo para tentar comer a carne dura de um anglo-saxão que viera colonizar aquela parte de África. Em consequência, o pobre animal selvagem tinha partido todos os dentes. (é sabido que o escravo Andrócles era um dentista notável, naquela época).

Quando Andrócles ouviu os seus gemidos, apiedou-se do leão e decidiu oferecer-lhe um conjunto de dentes de ouro absolutamente grátis.
Quando Andrócles acabou de realizar o seu delicado trabalho, o leão agradeceu-lhe profusamente e correu para o deserto.
Ora, alguns anos mais tarde, durante a época da primeira perseguição, Andrócles, que era bom cristão, foi denunciado e levado para o coliseu de Roma. Aí, juntamente com os seus amigos crentes, foi atirado a um grupo de leões famintos, diante de toda a nobreza de Roma e do seu antigo amo , o imperador. Quando Andrócles alcançou o meio da arena, um leão saiu da sua jaula dourada e dirigiu-se diretamente para ele de boca aberta.
Ora, quando Andrócles olhou para a boca do leão reconheceu os dentes de ouro que ali implantara tantos anos antes, e o grito de medo que começara a sair da sua boca, transformou-se num grito de alegria. E o leão, percebendo que se tratava do seu velho amigo dentista, deitou-se mansamente e começou a lamber-lhe os pés.
Enquanto lambia os pés de Andrócles, o leão ia pensando na melhor forma de mostrar a sua gratidão para com o homem que uma vez o tratara de graça. Então, passado um pouco, o leão pensou numa forma maravilhosa de dar ao dentista uma grande publicidade, na frente do imperador de toda a nobreza romana. E então, erguendo-se nas patas traseiras e soltando um rugido bem alto, devorou Andrócles em poucas dentadas, de forma a demonstrar a excelência dos dentes de ouro que o dentista lhe fizera.”

Eu, aqui no aquém, acredito profusamente no Humano, embora com determinadas experiências pouco alegres e segundo Aristóteles : “ Uma andorinha não faz a primavera”
eis a questão!

Ofélia Cabaço

2016-06-15


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