Chove copiosamente,
o telhado da casa amarela
sussurra e grita simultaneamente,
a paisagem é uma aguarela
desfeita num choro angustiante;
ao longe, na pradaria o vento
corre, veloz tombando os lírios,
da minha janela vislumbro o Bento,
que me acena receoso e com delírios;
na laranjeira há um ninho de pardais
que dança incessantemente, mal jeitoso,
as laranjas amargas, olham os beirais,
na sua cor ainda carregada e ditosa;
a buganvília solta as suas pétalas
como bailarinas esvoaçantes, libertinas!
muito lindas, uma a uma no ar fazendo alas;
o vento e a chuva continuam desatinados,
a destruição está cada vez mais vincada;
os vasos do parapeito cospem os nardos
no chão junto ao rio caiu a jangada;
os gatos no barracão estão amotinados,
muito quietos à escuta, à espera....
as nuvens de olhar cinzento narcisam-se
tentando encontrar uma polar esfera,
acotovelam-se sedentas de sossego,
com a clara certeza que precisam-se
anoitece! o vento acalma,
a chuva sossega,
as estrelas timidas, espreitam,
está escuro, não existe alma;
o silêncio e a noite respeitam
as gentes da aldeia no seu sono;
o lume na lareira crepita,
os gatos ronronam .....
o cão deita-se orgulhoso e catita,
a porta range num alivio sussurro!
ofelia cabaço, 2011-06-23
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