MARIANA e DINORAH eram duas irmãs que viviam na ilha de S.Jorge - nos Açores, com os pais e mais dois irmãos. A casa onde viviam situava-se na cidade, mesmo junto à muralha que namorava o mar. Todas as tardes após as aulas, iam para a casa da tia Augusta frequentar as aulas de piano. Ambas sabiam bordar, e, nas horas vagas sentadas no alpendre da sua casa ficavam horas a fio entretidas a bordar as suas toalhas com borboletas e margaridas. Mariana era uma rapariga muito alta, inteligente e muito reservada.Dinorah, pelo contrário, tinha um sentido de humor fantastico, tudo lhe servia para uma risada e espalhar alegria por toda a casa. Embora o ambiente lá em casa fosse muito rigido, em termos de educação e regras, as duas irmãs eram muito felizes e fundamentalmente muito amigas. O quarto delas era um espaço que o pai mandou decorar no sotão da casa. Havia uma janela enorme virada para o mar e uma das várias delicias das irmãs era, quando havia tempestade e o mar batia enfurecido no mural gritando mal humorado com as rochas num diálogo fantasmagórico.Naquelas noites de tormenta para os pescadores,as irmãs do seu quarto,apenas vislumbravam pequenas luzinhas no farol onde o Senhor Aniceto vigiava e evitava a entrada de estranhos barcos na ilha. A escuridão era total e não obstante Mariana e Dinorah espreitavam pela janela num mistico de sonho e fantasias.
As criadas, naquela altura já eram de certa idade, contavam muitas histórias de piratas, de amores e desamores, passados em tempos remotos, o que, as impressionava e ajudava a povoar a imaginação de qualquer rapariga naquelas idades. Nas longas noites de Verão na ilha, elas sentavam-se no balcão sob a centenária magnolia a conversar, ali, a familia reunia-se a tomar chá e a contar histórias que tinham acontecido aos seus antepassados. Toda aquela vivência familiar passada na lentidão e limitação daquelas vidas, inevitavelmente contribuia para uma determinada nostalgia e inquietação. É claro que, de quando em vez eram surpreendidas por acontecimentos, como a chegada dos primos que viviam nos Estados Unidos , para férias na ilha, dos tios que vivam em Lisboa e vinham passar temporadas, com os festejos do Senhor Espirito Santo, com a festa do mar, um acontecimento anual e com muitas outras tradições que se festejavam todos os anos.
O Natal era particularmente saboroso e muito generoso em termos de afectos e estados de alma. Nas véspera elas iam para a quinta na Fajã colher japoneiras e muitas laranjas. Enfeitavam os jarrões com imensas verduras e as mesas muito antigas ( tinham vindo do Brasil em barcos no tempo do Bisavô) eram cobertas com as toalhas bordadas de azevinho vermelho com folhas muito verdes, muito natalicias. A casa cheirava a cera, as tabuas compridas do chão eram enceradas e brilhavam festivamente. No ar havia um intenso cheiro a biscoitos quentinhos que a Nélia fazia todos os Natais. A árvora de Natal tocava no tecto, tinha sido apanhada na Fajã pelo Antonino que amanhava as terras e cuidava da casa.
Eram dias de muita festividade, uma mistura intensa de afetos e amizade.
Dinorah eram encarregada de todos os anos no Natal, ir a casa da Baronesa Margarida oferecer um cesto de camélias brancas, alvas como a neve e uma travessa com os diversos doces de Natal que a Nelia confeccionava. A Baronesa era uma Senhora muito bela e divertida, sobretudo afável. Convidava Dinorah a tomar chá com ela e contava histórias muito engraçadas. Numa das vezes que Dinorah lá foi, a Baronesa contou que, quando era mais nova, tinha a mania de vestir os blusões e camisas dos irmãos para assim e deste modo sentir-se mais à vontade. Um dia, sem que o irmão Carlinhos desse por isso, a Baronesa Margarida, vestiu a samarra dele e foi à cidade tirar fotografias para a matricula no colégio. Estavam de férias de Verão na Ribeirinha que ainda ficava longe, não obstante, os ralhos da mãe e das tias para evitar a ira de Carlinhos quando soubesse, ela não desistiu e lá foi. As fotos ficaram muito bem , ela até ficou favorecida na sua beleza,que já era evidente.
Quando se aproximou o Natal, o fotografo mandou lá o empregado perguntar se podia ampliar a foto e colocar na montra. Nas ilhas havia o dia das montras, todos os comerciante enfeitavam as suas montras o melhor possivel e depois havia um prémio para a mais original conforme a opinião do Juri nomeado. Esse dia era 8 de Dezembro, todos os anos. Claro que a foto da Baronesa Margarida foi para a montra. Naquele dia, foi um alvoroço de parabéns e felicitações pela sua beleza tão extarordinária. O desagradável foi,quando o Carlinhos reparou, que ela tinha vestido o seu blusão de camurça verde, sentindo-se traído no seu sentimento de machista ( os homens vestem roupas de homens, as mulheres vestem roupas de mulheres)!!!! e sobretudo sem lhe ter pedido licença. Mas não foi nada que não passasse rapidamente e que não resultasse numa risada saudavel entre eles.
A Dinorah ficava fascinada com as histórias contadas e tinha um apreço muito especial pela Baronesa Margarida.
Já sendo uma mulherzinha, Dinorah, continuava a visitar a Baronesa, por indicação dos pais, nos dias festivos na ilha, com os presentes adequados à época da realização das festas.
Aconteceu na Páscoa, Dinorah, caminhava pelo caminho térreo bordejado por gigantescas mimosas amarelas e brancas, que a levaria ao palacete, quando, reparou num belo rapaz de olhos claros e cabelo negro que arranjava o roseiral num rectangulo de terra vermelha para lá do caminho das mimosas. O rapaz acenou-lhe, sorriu para ela, piscando-lhe um olho.
Ela ruborizada,sentiu o coração saltar-lhe do peito e caminhou mais depressa, um pouco assustada. Estava já a conversar com a Baronesa e a deliciar-se com doce de amoras e chá Porto Formoso, quando entrou o tal rapaz de botas altas, despenteado, com um sorriso maravilhoso, sorriso esse, transbordante de alegria e gosto pela vida e natureza.
Cumprimentou-a, fez questão de se sentar à mesa e partilhar do lanche. A Baronesa apresentou-o, era o seu sobrinho e afilhado Duarte, estava de férias em de S. Jorge uma vez que vivia em S.Miguel. O rapaz falou de Ponta Delgada dos irmãos, dos pais, dos amigos e muito divertido, contou como era viver num ambiente de sete filhos numa zona chamada Povoação à beira-mar. Dinorah ficou extasiada, muito surpreendida consigo mesma, pelo afecto que, de imediato, sentiu pelo sobrinho da Baronesa.
Esta é a primeira parte da historia que estou a escrever sobre as manas Dinorah e Mariana.
ResponderEliminarEspero que gostem. Há muito para escrever e contar.
Ofélia