quarta-feira, 25 de maio de 2011

A CERVEJA

estava eu, como habitualmente, a tomar um café pelas onze da manhã, quando do outro lado do balcão reparei que um sujeito,  mal vestido e sujo, pedia qualquer coisa que, de longe não consegui discernir, mas apressada, como quase sempre, no meu raciocinio, julguei que era comida. E, reparando que a funcionária fazia um gesto negativo com a cabeça, fiz sinal e propus-me  pagar o que o  mendigo estava a pedir. Cada vez mais, sinto uma enorme arrelia misturada de tristeza, quando sinto que alguém tem fome. Depois disseram-me, que ele queria uma cerveja, obviamente, que não estou de acordo que se alimentem vicios, mas não fui capaz de negar tal pedido, uma vez que no rosto do mendigo havia uma ansiedade, uma insegurança que me fez lembrar uma criança separada do seu brinquedo mais querido.
Aquela expressão quixotesca, sem o seu sancho pança, e sem vislumbre da sua dulcineia, fez-me pensar que não havia mal nenhum em satisfazer aquele desejo, que por si só, não ia, nem aumentar nem diminuir o seu companheiro vicio. Afinal, penso que, por momentos, o mendigo ficou mais calmo, mais feliz a viver o seu mundo, para ele cor-de-rosa.
Reconhecidamente disse-me : é uma santa ! e,  eu disse-lhe : olhe que não, sou muito má e acho que se está doente não deveria beber cerveja!!! não obstante, ele estendeu-me a mão para cumprimentar-me, e, eu ao de leve toquei-lhe, porque a mão estava muito suja e, eu ainda não tinha acabado o meu café.
Afinal, às vezes apregoo que não devemos ser elitistas, eu creio que não sou, mas não deixei de recusar o cumprimento, que possivelmente, seria importante para o mendigo.
O cheiro também me incomodava, pensei na Madre Teresa e noutras personalidades que independentemente dos cheiros, dos vicios, das misérias, crenças e marginalidades, fizeram e fazem, o bem p´lo ser humano, especialmente escutando-os e ajudando-os sem se preocuparem com os tais cheiros, com as tais sujidades. Nós nunca somos totalmente o que pensamos que somos, p´lo menos no que respeita à partilha, ao sacrificio e até ao amor!
Vivemos numa selva, é o que penso muitas vezes, mas, de repente eu sou uma das personagens activas nesse teatro e quase nem dou por isso.
Quando vejo aqueles grupos de refugiados, (libia, tunisia etc), fico chocadissima e impotente. Penso: mas será que qualquer um de nós não pode fazer mesmo nada? A comunidade europeia de ajuda é de uma hipocrisia danada, nem sequer reparam nos Países que com problemas internos, têm ajudado no que podem aos ditos refugiados. E, porque não ajudar aqueles países com mais afinco e organização?  eles fogem dos seus países, porque têm medos, receios, perderam entes queridos nas guerras, porque são rejeitados e ainda sonham com melhor situação de vida e trabalho. O receio à entrada de criminosos na europa é uma demagogia, porque a comunidade internacional pode e deve fazer um trabalho, onde estas situações sejam resolvidas sem sacrificio dos que apenas e somente querem viver!!!
Ficamos na história dos colonos em africa, no congo e até nos paises da américa latina, os conquistadores  ( portugueses, espanhois, ingleses, franceses etc etc etc...).achavam que iam civilizar a raça negra, quando eles próprios não eram civilizados e foram autores das maiores atrocidades. Viviam embebidos da ganância, do poder e do chicote.......
Tudo isso para dizer que em pleno seculo XXI  ainda se vivem tempos turbulentos e até quando, o mundo vai ser governado por pessoas que, pouco ou nada fazem, para colmatar essas rixas , utilizando conceitos objectivos, justos, razoáveis e humanos.
Não creio que isso seja lirismo, mas sim um desejo justo e humanamente reconhecido.

Ofélia Cabaço - 25 de Maio de 2011

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