terça-feira, 27 de setembro de 2016

Amigo

Aos meus amigos. Zé Vieira e Felicíssimo com um forte abraço


Oh! ter um amigo
Sem que olhe seu umbigo
Que arrase o inimigo
Sendo pobre não importa
É  riqueza que nos bate à porta;

Oh! ter um amigo,
Entre nós inteira vida
Homem honradiço, digo
Nas horas do Tempo antigo
E no presente sempre sigo;

Ofélia Cabaço

2016-09-26



A Pastorinha,

O vale enriquecido naquele dia
Manta verde pintalgada, rosmaninho,
Amoras e abrunhos, misto com deslumbre visto
A pastorinha e sua melodia...
Que o vento trazia para aquém de mansinho;

Nas margens do rio cantava a pastorinha
Ternura e esperança sobre aquele azuláceo manto
Era um pequenino queixume, inibido pranto
D´alguém que procura ventura na idade;

O oiro que dura e não aquele que é vaidade
A pastorinha canta e chama
O fulgor e a nobreza da Humanidade,
Assim, devagar, para que não se extinga a chama;

Em vales e colinas é a pastorinha alcaide
E mais o seu rebanho vive em abastança
Sua vida é a nevoenta realidade;

Canta a pastorinha seus ais...
Vive em harmonia com o que não conhece
Não conhecendo, vive em jubilosa paz;


Ofélia Cabaço
2016-09-27





sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A Tristeza Cansa...

Ser feliz cansa,
A tristeza ainda mais,
Alcançar alegrias é não ter descanso
Os cuidados são demais...
E não ter cuidados é não velar;

Tristeza
Prenúncio que nos obriga a devorar desilusões
Retém-nos as lágrimas, alaga nossos corações
É não querer, é não ter nada a não ser dor...
Que nos esconde, só olhamos p´lo postigo,
Lá fora é sempre escuro, constelações
Desmaiam num infinito obscuro, antigo
É o meu desejo de amor...,
Com a naturalidade e a ternura duma flor.

Ofélia Cabaço

2016-09-24


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

De Tudo Harmonia...

Quero plantar em meu coração uma flor
Que tenha Forma e seja Amor
Olhar à minha volta e viver jardim
Dentre flores e arbustos, o ser de mim
Violeta;

Ser Vento,
Correr mundo e vedações saltar
Pintar bosques e roubar pomares
Searas em revolto e papoilas caídas,
É ser vento e não ter medo...

Ser Nuvem
Enfeitar-me com diadema e brincos,
Colar de pérolas e sapatos brancos,
E no azul do céu sorrir contentamento,

Ser Brisa eu quero,
Afago ser e bocas beijar
Serenar contendas e afetos soprar
Sorver as noites e os rios namorar


Ofélia Cabaço
2016-09-21


sábado, 17 de setembro de 2016

Poema Sensitivo

Com as mãos
remexi a terra
e nela semeei,
Com as mãos
erva daninha afugentei
Com as mãos
colhi flores na serra

Com os olhos
O Universo contemplei
Aprendi com os olhos 
coisas aos molhos...
Com o coração amei,

O meu coração sentido,
chora e canta,
Surdos são meus ouvidos
ao trivial mundano, enquanto
os meus olhos minha face molham,
Guardei num abraço belos sonhos,
desejei ser eu a abraçada…,
Rubras são as rosas, análogas
ao sorriso dos meus amores,
Quando meu coração chora o adeus!

Sou ente animado, ás vezes desanimado,
Vislumbro a luz que ao meio dia
doira serras e colinas,
Sinto o correr das águas nos regatos
e o pio das aves pequeninas;
Oiço as cigarras e o seu canto ao meio dia,
mágico altar, atapetado
de  folhas e pequenos troncos,
Odores da brisa fresca,
ao nascer das madrugadas,
eu bebo, fascinada...

Ofélia Cabaço
2016-09-17



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Bendita Chuva

E o fogo escaldante
secou rostos e rosas,
No ar paira a fuligem, grotescamente!

O mal dissolve-se, coisa que não perdura,
a rodos cai chuva e brotam águas de cura,
viçosas, florescem as videiras,
despontam sobre pérgulas passíveis
em abraços entrelaçados por fios sensíveis, 

Contemplação e fascínio, encanto aos olhos,
dos telhados caem com gracejo véus de avenca,
reconciliando as primaveras com os invernos,
porque o  mal que não perdura,
se esconde a encoberto por nuvens
alvas com braços de algodão,
cabeleira matizada, olhos e ilusão,
a chuva bendita refresca emoções,
atenua o cinzento, bate com leveza,
e os botões se abrem às rosas.


Ofélia Cabaço
2016-09-15









quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Mudança

Mudaram as cores,
O Sol emudeceu...
Foge a manhã doirada e os ardores
Somem-se no suave azul do céu,
Oh! Luz suprema, esperança minha
Não me deixe aqui sozinha...

Como a água corrente
Não volta à nascente,
E a flor que da árvore se liberta
Não torna a seu berço...
Não consigo encontrar abrigo
Nem pedúnculo que me acolha, 

Ficarei aqui com rosto dalgum, velha,
Esperando a viagem, adiaforismo
Eu sinto,mas renego o abismo...
Ilumina minha vida, oh! Luz radiosa!

Ofélia Cabaço
2016-09-14






domingo, 11 de setembro de 2016

Não Sei porque Odeio, mas Odeio...

Percebemos o que leva determinadas pessoas a terem emoções que produzem sentimentos de ódio, sem que tenham a mínima apetência para racionalizar atitudes e pensar soluções; não pode dar, aquele que não recebeu, i.e., amor, fraternidade, partilha ou o que quer que seja daquilo que nos ensinaram acerca destes conceitos, daí percebermos numa análise singular o porquê, muitas vezes de tanta revolta; o povo na sua genuína sabedoria diz que até para se nascer é preciso sorte. Tudo isso compreendemos, e, aqui, a emoção é de compaixão.

Todos nós, sem exceção, temos vivências, que podem proporcionar um odiozinho de estimação, mas, pensamos a causa, e sabemos o que causou a celeuma. Na memória persiste uma narrativa, uma espécie de filme, que, de quando em vez, se desenrola e apresenta algumas emoções prestativas ao desenvolvimento, quiçá, da violência, da tristeza, da angústia, da dor, da humilhação, e, só por pequenos instantes pensamos harmonia; na nossa mente, algo nos diz que situações como estas, são para eliminar, deixando todos aqueles lugares vazios e expectáveis a valores maiores, mas, sabemos o que, na realidade, suscitou esta angustiante inquietação, pois não passa de um caso, entre tantos casos por este mundo afora, sem que se chegue a vias de má-fé. É assim que deve ser, sem qualquer facciosidade.

Mas, o que é de intrigar e abismar, é quando se odeia sem se saber porquê; ouvimos sucessivamente que sem tolerância não existe paz, sabemos isso muito bem, e sabendo também, que nem sempre correspondemos ao conceito, mas, não é novidade nenhuma que também sabemos, que somos seres imperfeitos, por mais que ajustemos condições para agir em conformidade. O que pensarão mentes que odeiam sem justificação? Se tudo tem uma causa, qual a coisa tão absurda, que insiste numa condição sem causa?

As falhas de caráter podem produzir muitas veleidades, mas, tem de haver conjuminância entre uma coisa e outra, i.e., por exemplo, entre verdade e mentira, para a consumação de justiça ou injustiça..., mas, odiar sem causa, deixa-me em ESPANTO...

Espinosa: Um afecto não pode ser controlado ou neutralizado excepto por um afecto contrário mais forte do que o afecto que necessita de ser controlado”.

Mesmo usando emoções positivas, sobre as negativas, com raciocínio e esforço intelectual, como pensava Espinosa, não resulta em quem odeia por odiar...

Ofélia Cabaço

2016-09-12




quarta-feira, 7 de setembro de 2016

"FLORENCE"

Fui ver o filme “Florence”; belo filme no ponto de vista do amor, e da forma, nem sempre veemente em fazer-se alguém feliz. Atualíssimo, nas amizades interesseiras, desde um conceituado professor de música até ao vendedor de jornais. Fez-me pensar, esta história, em uma opinião, que eu própria tive acerca de um acontecimento, no que diz respeito à terceira idade, segue:

-Vi na televisão, um pequeno documentário, em que num centro de idosos do país,orientados por alguém responsável, foram personagens dum pequeno festival, representado com certa euforia pelos personagens. A ideia, para mim, naquela altura, foi a de que estavam a expor os velhinhos ao ridículo coisificado; nem sequer pensei, que porventura, eles, provavelmente estariam muito felizes. Arrepiou-me, os sorrisos, numa exposição de desdentados e alguns com dentes visivelmente estragados. Achei que a narrativa televisiva não era honrosa e as cenas péssimas. Não me alegrou em nada, e fiquei melancólica em relação à velhice e a toda a sua trajetória. Pareceu-me que alguém para se identificar na sua profissão, de forma especulativa, tinha proporcionado toda aquela representação. Hoje, coloco dúvidas e penso: estariam felizes os velhinhos? Se sim, oh! Então valeu a pena.

Em “Florence”, a hipocrisia é uma constante. O interesse da roda do mundo, a globalização violenta na ofensa e no escárnio pelo outro, é coisa que tem piorado e com toda a tristeza que sentimos, vai crescer avassaladoramente. Do cidadão comum, há uma corista que apesar da sua rebeldia, é humana e tem sentimentos, o que nos leva a acreditar que no meio de tanto interesse existe gente boa. Do filme, consolou-me um amor enorme, e uma dignidade imensa, o marido. Condenado e/ou suspeito por deixar sua mulher expor-se ao ridículo. Ninguém tinha mais respeito por Florence que o seu marido, embora algumas perspetivas fossem perturbadoras para ele que a amava. Ela, de uma bondade enorme e uma mulher de fortes afetos, em especial, pela música.

Durante o decorrer da sessão pensei numa história, que li em tempos, de Óscar Wilde: A Tia Jane, não foi parecida, mas tratou-se de algo que muito a faria feliz, e, aqui, não se concretizou...

Belo filme, fez-me pensar que fazer as pessoas felizes é um dom, e não nos cabe julgar.
Aprendi, e como todos os dias aprendo, fiquei muito contente.

Ofélia Cabaço

2016-09-07