segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Manuel Laranjinha, in carta a Teixeira de Pascoais


Atualissimo, este pensamento de Manuel Laranjeira. 
Concordo com: " o que ainda consola é que nem tudo é miséria"



...no Universo não há Perfeição nem Imperfeição; Harmonia nem Desarmonia: há Movimento da Matéria. Eu não digo nem com os pessimistas nem com os optimistas; que este mundo é o pior ou o melhor dos mundos possíveis. Este mundo é este mundo - e temos de o aceitar tal qual está. Note-se: isto não é negar a perfectibilidade humana. Mas a Perfeição do Homem, sob o ponto de vista cósmico, não é perfeita nem imperfeita.
E o meu pessimismo vem do que eu chamarei a fatalidade orgânica. O homem, meu amigo, ainda é um ser em conflito consigo mesmo: ainda é um agregado de vísceras que lutam por devorar-se -  até ao dia da solidariedade, da harmonia final. A natureza humana, em si, ainda é uma coisa tão desarmónica que está dando razão a Voltaire quando dizia: " notre pauvre âme imortelle a besoin d´aller à la garbe-robe pour penser bien". Sob este ponto de vista, Schopenauer e o "Cisne negro de Recanati", esse doentio Leopardi de quem me fala - tinham plena razão. Basta abrir os olhos para as misérias da vida, meu amigo. O que ainda consola é que nem tudo é miséria...

Laranjeira, Manuel, in Cartas, - a Teixeira de Pascoais, 1904, p.48.

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