sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Abraço Matinal

Um bom dia, entre sorrisos, um sorriso
ante um rosto magro, sofredor
um abraço envolto de ternura e dor
silêncio, falar não é preciso...
Segue-se um pequeno almoço
algumas lembranças de quando era moço,

...correr alegremente pela serra
assobiar às ovelhas nas encostas,
em Maio coroa com flores de giestas
fui pastor, rei, menino e homem;
Das nascentes, serpentear longos regos para a terra
espreitar ninhos, sentir amor e o rumorejar das folhas;
Estender-se sobre ramagens de heras e fetos
naquele inabitável silêncio...
olhar as nuvens e inventar heróicos feitos
cavalos numa corrida estranha, suas crinas ao vento
raparigas no lá do lado da serra, suas melosas cantigas
desejos, pró-criação, puberdade de lá e do aquém...
E o Sol doirando a terra, enquanto
os dias passavam entre duas metades de limão
ora melancolicamente, ora alegremente, urtigas
e açafrão compondo retalhos da vida e o coração...

Comovida oiço, e com voz trémula pergunto:
Foste feliz? Como se a lágrima no seu rosto bastasse
a resposta, replico: tinhas os teus pais (…),
eu tive quase tudo e não tive pais!
Encosto minha cabeça ao seu ombro e cicio:
Foste a minha água, és a minha giesta em flor!
E o abraço continuou sob a ténue claridade
deste dia chuvoso e frio entre cumplicidade e dor...

Ofélia Cabaço

2016-01-22






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