domingo, 3 de maio de 2015

Se Não existe Fim

Sou amiga da amiga de mim
Sou eu de mim e só de mim a amiga
A estrada que percorro tem viga
Sobre minhas costas lobriga um fim
Fim? Se não existe fim de mim,
Renovo nascimento e diferente vida início
Aliviadas minhas mágoas, com esperança e avidez
Rumo para o Novo, devagar, serenamente balbucio
Uma mãe quero ter desta vez…

Não, sem antes, despedir-me dum cenotáfio
Erigido no meu coração em memória de minh´avó
Lembrar-me e pensar indizivelmente do frio e medo
Que nas noites invernosas me faziam verter lágrimas a fio
Ela afugentava o mal de mim, acalentava-me em seus braços, credo,
O barulho das árvores que se remexiam lá fora era azedo
E as sombras sobre a cómoda do meu quarto, impertinentes
Atormentavam o meu sossego e minha mente…

Lembrar aquele dia que soube que eu sabia ler, orgulhosa
A sua primeira neta lia para ela… realização gloriosa,
Dizer-lhe mil vezes obrigada com lábios trémulos, inda hoje…
Sofreu o que eu sofri, chorou o que eu chorei, afeição imensa
Repousada no silêncio da morte que é vida menos densa

Sei que ninguém irá perturbar seu descansado sono!
E sei também que a amei como a pujança das estações do ano,
Com a veemência do florescimento na Primavera
E como a intensidade das cores, na  despedida do Outono.

Ofélia Cabaço
2015-05-03









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