Sou amiga
da amiga de mim
Sou eu de
mim e só de mim a amiga
A estrada
que percorro tem viga
Sobre minhas
costas lobriga um fim
Fim? Se não
existe fim de mim,
Renovo nascimento
e diferente vida início
Aliviadas minhas
mágoas, com esperança e avidez
Rumo para
o Novo, devagar, serenamente balbucio
Uma mãe quero
ter desta vez…
Não, sem
antes, despedir-me dum cenotáfio
Erigido no
meu coração em memória de minh´avó
Lembrar-me
e pensar indizivelmente do frio e medo
Que nas noites
invernosas me faziam verter lágrimas a fio
Ela afugentava
o mal de mim, acalentava-me em seus braços, credo,
O barulho
das árvores que se remexiam lá fora era azedo
E as
sombras sobre a cómoda do meu quarto, impertinentes
Atormentavam
o meu sossego e minha mente…
Lembrar aquele
dia que soube que eu sabia ler, orgulhosa
A sua
primeira neta lia para ela… realização gloriosa,
Dizer-lhe
mil vezes obrigada com lábios trémulos, inda hoje…
Sofreu o
que eu sofri, chorou o que eu chorei, afeição imensa
Repousada no
silêncio da morte que é vida menos densa
Sei que
ninguém irá perturbar seu descansado sono!
E sei
também que a amei como a pujança das estações do ano,
Com a
veemência do florescimento na Primavera
E como a
intensidade das cores, na despedida do
Outono.
Ofélia Cabaço
2015-05-03
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