sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Moinho de Papel...

Eram tardes de vento, muito vento,
Nos Invernos da minha ilha…

Naquela tarde santa, debruçada na janela,
Brinquei com um moinho de papel
O vento corria veloz e circundante
Foi na Rua dos Pinheiros…aquela tarde!
Na casa da avó Mariana que me dava abraços,
Cheirava rapé e bebia café…muito café
A rua estava deserta e o dia cinzento…
Eu brincava feliz com o moinho de papel
Não me cansava nunca…
A avó contava histórias e cozia a minha saia,
Que era plissada, com desenhos no peitilho
Encantava-me olhar para o portão vermelho
Em frente da casa da avó, era uma ilusão…
Era fascinante…mesmo ao lado do portão,
Sobre um muro alto e de pedra escura
Debruçavam-se criptomérias e cameleiras,
No ar havia cheiros de buxos e de laranjais
O moinho de papel girava e voltava a girar…
Entraram muitas meninas no portão vermelho
Tinham cabelos lindos, boca vermelha, e,
Vestidos de muitas cores, outros de organdi
As meninas entravam e não saíam (…)

Eu esperava e o moinho de papel girava…
Quase noite, a tia Hermínia chamava-nos
Havia feijão assado e doce de abóbora

A avó fechava a janela
O vento amainava
O moinho de papel adormecia…

Eu disse para a avó:
Gosto da Rua dos Pinheiros,
Não tem pinheiros e se chama assim? Perguntei
A luz do candeeiro era fraca,
Mas eu vi a bondade no rosto da avó Mariana
Que me explicou:
Nesta grande e bela ilha, há muitos anos,
Só cá habitavam pinheiros…
E depois? Insistia eu
-Os piratas fizeram canoas com a madeira
Dos pinheiros e depois, fugiram para longe,
Muito longe…
Quase a dormir perguntei à avó Mariana:
Porque não saem aquelas meninas do portão vermelho?
-Porque não têm casa, nem um colo como este!


Ofélia Cabaço
2014-10-03


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