Eram tardes de vento,
muito vento,
Nos Invernos da minha
ilha…
Naquela tarde santa,
debruçada na janela,
Brinquei com um moinho
de papel
O vento corria veloz e
circundante
Foi na Rua dos
Pinheiros…aquela tarde!
Na casa da avó Mariana
que me dava abraços,
Cheirava rapé e bebia
café…muito café
A rua estava deserta e
o dia cinzento…
Eu brincava feliz com
o moinho de papel
Não me cansava nunca…
A avó contava
histórias e cozia a minha saia,
Que era plissada, com
desenhos no peitilho
Encantava-me olhar
para o portão vermelho
Em frente da casa da
avó, era uma ilusão…
Era fascinante…mesmo
ao lado do portão,
Sobre um muro alto e
de pedra escura
Debruçavam-se criptomérias
e cameleiras,
O moinho de papel
girava e voltava a girar…
Entraram muitas
meninas no portão vermelho
Tinham cabelos lindos,
boca vermelha, e,
Vestidos de muitas
cores, outros de organdi
As meninas entravam e
não saíam (…)
Eu esperava e o moinho
de papel girava…
Quase noite, a tia
Hermínia chamava-nos
Havia feijão assado e
doce de abóbora
A avó fechava a janela
O vento amainava
O moinho de papel
adormecia…
Eu disse para a avó:
Gosto da Rua dos Pinheiros,
Não tem pinheiros e se
chama assim? Perguntei
A luz do candeeiro era
fraca,
Mas eu vi a bondade no
rosto da avó Mariana
Que me explicou:
Nesta grande e bela
ilha, há muitos anos,
Só cá habitavam
pinheiros…
E depois? Insistia eu
-Os piratas fizeram
canoas com a madeira
Dos pinheiros e depois,
fugiram para longe,
Muito longe…
Quase a dormir
perguntei à avó Mariana:
Porque não saem
aquelas meninas do portão vermelho?
-Porque não têm casa,
nem um colo como este!
Ofélia Cabaço
2014-10-03
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