segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Perdi Quase Tudo,

Perdi o acreditar
no que as gentes idolatram,
Perdi pai, pedi mãe,
Perdi a alegria do que seria
a minha vida e vida teria,
Perdi afagos, perdi instantes,
Perdi a imagem em que os vi, ininteligível...
Não era de papel, era terna e aprazível
em memória jaz, indissolúvel;

Sei quando a manhã por mim passa
trespassou montanhas, bosques e ravinas,
São longas as estações, muito mais que as minhas!
Perdi quase tudo e do perder nada perdi...
Conservo comigo, e só, a profundidade do Belo,
O encanto da beleza dos campos, elo
Silencioso da tristeza e dor, com uma só flor...

O contemplar a Lua e as insólitas madrugadas
Buscando no infinito um sorriso e uma fada
A flor que desabrocha na rudeza das rochas,
Contemplo...
As cascatas e suas águas em estreitos berços, queixa
minha que o ar traz e não me deixa...

Perdi o desaparecido sem aparecer, pereceu
e eu não sei de nada, entre a Terra e o Céu
Perdi espaço irremediável, perdi divindades,
Perdi a canção que me embalou, o canto das aves
Ficou, e o verso do poema de mim pendente,
Aquele que me cobre e cujas sementes
levam os pássaros...

Ofélia Cabaço
2016-02-15









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