sábado, 27 de agosto de 2016

Irredutível Dor,

Sinto o que penso
E ao pensar o que sinto
Torna-se irredutível a minha dor
Como posso negar solidão?
Como? Se não sinto solução (…)
Ao Espírito dos espíritos faço evocação
À beira do abismo grito e não oiço eco
O Silêncio que me desespera
Responde-me..., com boca calada!
Balbucia o meu infortúnio, tétrico,
A par d´uma angústia alargada,

O brio do que fui,
Esfuma-se a cada instante,
E nos que se seguem, deixo-me levar
Por cima de mim mesma...
A minha mão segura o impensável
Subo, agarro, a fundo respiro,
E, brandamente suspiro...
Dentre tumultos e desespero tantos
Abomino de quem não se sabe, impropério...
Quem me dera ser planta ou erva
Viver em absoluta liberdade,
Não ter o riso amargo da serva
E sentir que não é vã a minha existência...

Ofélia Cabaço
2016-08-27




segunda-feira, 8 de agosto de 2016

"Dá-te por contente"

Dá-te por contente”

Não me dou por contente
Se contente não estou,
Serei sempre insatisfeita, ente
No meio de mil, descontente;

Dá-te por contente”

Diz o vulgo, ante
Espanto que me desencantou
E a franca retidão é só ilusão,
Em nada satisfaz favorecedores

E porque são estupores,
Massacram razão e coração
Prazer..., só da minha fantasia

Dá-te por contente”

Imaginar é minha teimosia
A vida em si, não é desilusão,
É Dor que gera dores...

Dá-te por contente”

Ofélia Cabaço
2016-08-08





sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Quando o Espírito é Estreito,

O sol disse-me na despedida
que terei um bom dia, ávida,
Respondi:
Se ninguém mo roubar...

Roubam a paciência,
A saúde e a alegria, distraída,
Deixa-se roubar a consciência,
Mas, não é por mal,
Até os astros se confundem
Conforme as noites e os dias,

Quando dizemos que o ar é para todos
Somos tolos,
Desde que se nasce, vive-se em asfixia
Como uma roda que range e chia...

O frio é para ti,
O vento que te leve finalmente
A chuva que te alague,
E a neve? Enterra-te certamente;

Não esquecer:
Com todas as possíveis intempéries
Todos os dias o Sol nasce, e renasce
No coração da melhor intenção (...)

Ofélia Cabaço
2016-08-05


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Às vezes não existe ÁGUA!

Quando caminhamos num deserto sem retorno, é porque a água faltou, e a natureza à míngua de uma gota se aflige, e, dolorosamente, sucumbe à beira dos rochedos que se diz serem robustos na deferência do Tempo. Pensando o mundo, as coisas e as pessoas, subjaz a raiz ancestral, que na era moderna é continuamente desprezada; viver o fragor terreno, atravessando florestas, subindo colinas, sentir a solidão e ouvir os gemidos nas noites é sentimento de cada um de nós, existentes; mesmo que os rios sequem, há sempre um riacho onde a nossa alma se espelha e nos configura formas, sombras e sorrisos (...)
Nos bosques, e no silêncio seu, criptomérias e cedros onde só o céu contempla suas copas, conseguimos encontrar nossos irmãos, e aí, apetece-nos adormecer com a brisa serena que as ramagens, suavemente, como pessoas, numa balada etérea nos contempla.
O universo permanece uno e abstrato; no coração dos homens um cortejo fúnebre dilacera matéria para  desmedida riqueza; e, porque nos bosques existem árvores maiores, com grandes golpes se abatem as pequenas, incredulamente! Impedidas de crescer e ocupar espaço é o mote para não se desenvolverem, e repete-se na visão nossa as grandes árvores, as que têm raízes sejam de que condição, as quais, de nada servem ao rigor moderno, mas, florescem em matéria e riqueza (...)
Percorremos uma aldeia de pessoas simples, pessoas de muito trabalho e alguma rudeza, intempéries marcam seus rostos, mas, quando lhe batemos à  porta ouvimos uma voz a responder, porque as nascentes fulguram em cada canto e à beira do poço, se gritares, ouves o teu  eco! Ser bilha de barro, é manter a água fresca, ao invés da bilha d´oiro que serve a vaidade e aumenta a ganância.
Não julguem o meu sentir, porque de todas as riquezas do mundo a que mais desejo são Pessoas.
Ouvir as águas transparentes a transbordar em abundancia, do alto dos monte à pequena esteva, eu anseio.


Ofélia Cabaço

Por púcaro de barro,
Bebe-se a água mais fria,
Quem tem cuidados, não dorme
Vela para ter alegria.

F. Pessoa

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É estranho ver o ânimo destes indivíduos,
Destas grandes almas, supostamente sábias:

Sendo a natureza de tais almas, o amor
Por lugares que lhe granjeiam eminência,
E julgando-se muito superior a nós
Em intelecto (embora nos procurem),
Eles fantasiam o assombro e a estima
Que sentimos ante as coisas que dizem ou fazem, o que os leva
A procurar dilatar ainda mais o nosso espanto:
Coisa que julgam não poder fazer senão
Comunicando-nos os seus altos pensamento.

Daniel, Tragedy of Philotas,






Não-ser,

O medo que me aperta,
Num susto que me torna incerta,
Momento brumoso, vácuo renovado
De tristeza e lágrimas, choro cansado...

Impiedoso, assim de repente,
Conduz a razão e minha mente
O medo, tenebroso e absurdo e escuro...
Que me obriga encontrar o que não procuro,

Dentre as coisas no tempo e no espaço
Receio, e não quero o teu abraço...
Pensar o quanto desejei abraços!
Mas o teu Não, e, às vezes Sim, e, agora, Talvez...

Porque o que vem de ti não é de vez,
É para Ti glorioso roubar Existência
Tu, que sempre atormentaste minh´essência,

E morri, e vivi, e morro e ressuscito e volto a morrer(...)
Nesta dor, pensando o abismo, contínua luta,
Que me cansa e minha consciência disputa;

Não-ser,
Não quero o teu aceno, viver em pleno,
Ás vezes Sim, e, agora, Talvez,
Meu coração esteja sereno (...)

Ofélia cabaço
2016-08-01