sábado, 19 de dezembro de 2015

Observações

Quase todos nós nos irritamos com a intolerância do “outro”.
Na fila de automóveis imensos, enerva-mo-nos com a “esperteza” do ciclista que se coloca mesmo a jeito de não nos deixar passar; os pacientes condutores que nos precedem, apitam desesperadamente porque demoramos o prosseguimento do trânsito.
Sabendo, que há algo em nós, que também contesta, argumentamos o conceito “tolerância”, quase sempre apontando o “outro”.
Levamos a vida a fingir que não somos fingidos...
Ajudamos o amigo ou amiga que tem uma dificuldade, justificada, para se movimentar ou
organizar seja o que for, deixamos a nossa casa, os nossos familiares, os nosso prazeres e com um Prazer mais alto, vamos contribuir para o conforto dos ditos, que é como dizer e afirmar, substituí-los nas ações do quotidiano; fazemos das coisas mais impensáveis para muitos escorreitos e personalizados , como varrer o chão, despejar lixos, mudar camas, fazer comidas e tudo o que está por fazer e deve ser feito; de quando em vez ouve-se a algo que nos apraz e nos motiva a sermos boas pessoas... (... és única, és a amiga que todos deviam ter...), e assim por diante, sibilando algumas vezes e timidamente... “um dia que precises farei o mesmo por ti”...; e sabendo nós, algumas vezes que a analogia não se identifica em nada com o seu interlocutor, não obstante, sentimo-nos lisonjeados e a nossa fé na amizade sobe, senão um, vários degraus.
Insistimos na ingenuidade!
Não poucas vezes, pensamos que a ingratidão predomina a atualidade, e, esquece-mo-nos não menos vezes, que há gente que não percebe o que isso é “ ah não é por mal”...;
Conforta-mo-nos, concluindo, que a ingratidão é uma forma que os “fracos” perfilham porque apenas não são capazes de pensar o versus das questões...
São pensamento que temos, que em termos tolerantes não deviam existir; que em termos de generosidade nem aquele pensamento teria lugar sequer a um princípio.
Fazemos uma análise ao nosso modo de ser e persiste a ideia de que fomos injustiçados. Sabemos que nada podemos reclamar sob pena de à nossa volta proferirem ridiculamente a célebre frase tão consensual em que dá jeito a muita espécie, “ deu, e lava a cara”, ou a grosso modo, “ tem a mania”!. Frases sem o senso que lhe seria devido, e sobretudo sem ser baseado no respeito e na conduta das reais ações...
Será que podemos achar-nos gente com tolerância, generosidade, afetividade e ou justiça? Será que, quem assim pensa é muito pior do que aqueles que sofismam o que não sentem? Devemos subestimar o oportunismo?
Sim, porque se reagirmos na expressão do nosso descontentamento somos apelidados de “moralistas”; será discurso moralista ou o relato de causas reais? - creio que se não argumentarmos e não pensarmos, então porque não vivermos na selva, a saltitar de galho em galho e a sorrir perante uma fenomenal banana?
Somos capazes de ir ao funeral de alguém de quem não gostamos absolutamente?
E comummente anuir que o morto era a melhor pessoa do mundo? Esta é a ética apreciada e elogiada “ e não raro ouvir-se : “é boa pessoa até disse bem do morto”...

Outra das facetas que lastimamos:
Estamos com dores de garganta, é fim de semana e não há nada para atendimento médico, senão as urgências locais; saímos de casa e desloca-mo-nos até lá, estamos um pouco febris e com frio. Tiramos a senha e na triagem dizemos o que verdadeiramente temos: dores de garganta! Levamos com a fita verde e sentados na sala ficamos desde as onze do dia até às cinco da tarde; lemos, dormitamos, bebemos um café e observamos sobretudo a forma como certas pessoas reagem e utilizam a sua “esperteza”; entraram depois de nós, e saíram muitíssimo antes; excetuando os casos verdadeiros que merecem, sem dúvida, pulseira amarela e devem sim, ser atendidos, antes dos casos menos graves.
Como fizeram na triagem? Só temos de fazer um sorriso benevolente e demonstrar uma alegria embrionária. Ah! mas são tão “espertos” , conseguem sobressair perante a razão e todo o resto...
Mais,
Se alguém tiver uma boa presença e algo que a caraterize especialmente em relação às demais pessoas, tais como, haver algo nela que chame a atenção onde quer que esteja, e que se note ainda, uma determinada beleza, devemos por isso, sem mais nem menos, criar a partir daquele instante, um odiozinho de estimação? Porque o fazemos sem tentarmos perceber quem é quem, e qual é que é a finalidade de tal criação aberrante?
Detestamos pessoas com quem nunca falamos; embirramos com o carteiro porque tem os dentes podres; não suportamos a mulher a dias porque conta cem vezes a mesma coisa;
Não podemos com a porteira porque é mexeriqueira e mente; não queremos ouvir o pivô da TV, porque é tendencioso; não perdoamos o patrão porque, sabendo da sua insignificância, tentou humilhar-nos de vários feitios e formas; fingimos não dar importância, à criatividade do “outro”, porque reconhecer certos valores, obriga-nos a ter compromissos e pode oferecer oportunidades, ainda que remotas...

Estamos a viver um século em que a banalização leva-nos a melancólicos abandonos...
Todos somos da mesma matéria, é contentamento geral esta afirmação, mas o jogo tem personagens diferentes: Deus e Dante...



Ofélia Cabaço




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