Quase
todos nós nos irritamos com a intolerância do “outro”.
Na
fila de automóveis imensos, enerva-mo-nos com a “esperteza” do
ciclista que se coloca mesmo a jeito de não nos deixar passar; os
pacientes condutores que nos precedem, apitam desesperadamente porque
demoramos o prosseguimento do trânsito.
Sabendo,
que há algo em nós, que também contesta, argumentamos o conceito
“tolerância”, quase sempre apontando o “outro”.
Levamos
a vida a fingir que não somos fingidos...
Ajudamos
o amigo ou amiga que tem uma dificuldade, justificada, para se
movimentar ou
organizar
seja o que for, deixamos a nossa casa, os nossos familiares, os
nosso prazeres e com um Prazer mais alto, vamos contribuir para o
conforto dos ditos, que é como dizer e afirmar, substituí-los nas
ações do quotidiano; fazemos das coisas mais impensáveis para
muitos escorreitos e personalizados , como varrer o chão, despejar
lixos, mudar camas, fazer comidas e tudo o que está por fazer e deve
ser feito; de quando em vez ouve-se a algo que nos apraz e nos motiva
a sermos boas pessoas... (... és única, és a amiga que todos
deviam ter...), e assim por diante, sibilando algumas vezes e
timidamente... “um dia que precises farei o mesmo por ti”...; e
sabendo nós, algumas vezes que a analogia não se identifica em nada
com o seu interlocutor, não obstante, sentimo-nos lisonjeados e a
nossa fé na amizade sobe, senão um, vários degraus.
Insistimos
na ingenuidade!
Não
poucas vezes, pensamos que a ingratidão predomina a atualidade, e,
esquece-mo-nos não menos vezes, que há gente que não percebe o que
isso é “ ah não é por mal”...;
Conforta-mo-nos,
concluindo, que a ingratidão é uma forma que os “fracos”
perfilham porque apenas não são capazes de pensar o versus das
questões...
São
pensamento que temos, que em termos tolerantes não deviam existir;
que em termos de generosidade nem aquele pensamento teria lugar
sequer a um princípio.
Fazemos
uma análise ao nosso modo de ser e persiste a ideia de que fomos
injustiçados. Sabemos que nada podemos reclamar sob pena de à nossa
volta proferirem ridiculamente a célebre frase tão consensual em
que dá jeito a muita espécie, “ deu, e lava a cara”, ou a
grosso modo, “ tem a mania”!. Frases sem o senso que lhe seria
devido, e sobretudo sem ser baseado no respeito e na conduta das
reais ações...
Será
que podemos achar-nos gente com tolerância, generosidade,
afetividade e ou justiça? Será que, quem assim pensa é muito pior
do que aqueles que sofismam o que não sentem? Devemos subestimar o
oportunismo?
Sim,
porque se reagirmos na expressão do nosso descontentamento somos
apelidados de “moralistas”; será discurso moralista ou o relato
de causas reais? - creio que se não argumentarmos e não pensarmos,
então porque não vivermos na selva, a saltitar de galho em galho e
a sorrir perante uma fenomenal banana?
Somos
capazes de ir ao funeral de alguém de quem não gostamos
absolutamente?
E
comummente anuir que o morto era a melhor pessoa do mundo? Esta é a
ética apreciada e elogiada “ e não raro ouvir-se : “é boa
pessoa até disse bem do morto”...
Outra
das facetas que lastimamos:
Estamos
com dores de garganta, é fim de semana e não há nada para
atendimento médico, senão as urgências locais; saímos de casa e
desloca-mo-nos até lá, estamos um pouco febris e com frio. Tiramos
a senha e na triagem dizemos o que verdadeiramente temos: dores de
garganta! Levamos com a fita verde e sentados na sala ficamos desde
as onze do dia até às cinco da tarde; lemos, dormitamos, bebemos um
café e observamos sobretudo a forma como certas pessoas reagem e
utilizam a sua “esperteza”; entraram depois de nós, e saíram
muitíssimo antes; excetuando os casos verdadeiros que merecem, sem
dúvida, pulseira amarela e devem sim, ser atendidos, antes dos casos
menos graves.
Como
fizeram na triagem? Só temos de fazer um sorriso benevolente e
demonstrar uma alegria embrionária. Ah! mas são tão “espertos”
, conseguem sobressair perante a razão e todo o resto...
Mais,
Se
alguém tiver uma boa presença e algo que a caraterize especialmente
em relação às demais pessoas, tais como, haver algo nela que chame
a atenção onde quer que esteja, e que se note ainda, uma
determinada beleza, devemos por isso, sem mais nem menos, criar a
partir daquele instante, um odiozinho de estimação? Porque o
fazemos sem tentarmos perceber quem é quem, e qual é que é a
finalidade de tal criação aberrante?
Detestamos
pessoas com quem nunca falamos; embirramos com o carteiro porque tem
os dentes podres; não suportamos a mulher a dias porque conta cem
vezes a mesma coisa;
Não
podemos com a porteira porque é mexeriqueira e mente; não queremos
ouvir o pivô da TV, porque é tendencioso; não perdoamos o patrão
porque, sabendo da sua insignificância, tentou humilhar-nos de
vários feitios e formas; fingimos não dar importância, à
criatividade do “outro”, porque reconhecer certos valores,
obriga-nos a ter compromissos e pode oferecer oportunidades, ainda
que remotas...
Estamos
a viver um século em que a banalização leva-nos a melancólicos
abandonos...
Todos
somos da mesma matéria, é contentamento geral esta afirmação, mas
o jogo tem personagens diferentes: Deus e Dante...
Ofélia
Cabaço
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