domingo, 5 de julho de 2015

Jardim Antero de Quental

Lembro-me do banco verde
Junto ao canteiro das azálias
No jardim da minha infância

O jardineiro plantava flores, atento,
Assistia ao florescimento das dálias,
Hortenses e alecrim

Elevado e de encontro ao firmamento
O busto de Antero absorvia os aromas,
Fragrâncias isoladas, ali e só ali…

Semblante altivo enunciando esplendor
Duma vida breve…
Príncipe na Terra que o brotou
Além e para todo o Além Rei e Poeta

Ouvindo a voz que me atiça
E às vezes o coração me despedaça
Olhava sentada naquele banco verde o poeta

O meu olhar exauria admiração
Talvez paixão fosse o altar da minha contemplação
Fazia versos rabiscados no meu caderno
Pensava obscuros…

Aquele seu olhar era terno
Na paz duradoura do silêncio
Enchia minh´alma de júbilo

O velho gritava, enxotava, alguém que não eu,
Pisara as flores…
Assustadas, as aves esvoaçavam à roda do busto,
O jardineiro bracejava indignado
Desmanchando um fantástico circulo, poético e libertador
Instante indesejado percorreu o poema
E, mansamente, o Sol deu lugar à brisa
Não muito longe, o mar saudava a muralha
As árvores dançavam ao som das brancas ondas
No banco verde do jardim, junto ao canteiro das dálias,
Eu meditava o amor e a dor…
Compreendi as estações do ano
O relevo de cada uma eu entendi,
Fingi não perceber o versus
Inocentemente, escolhi e amei o outono…

O tempo era imenso
Como imenso foi o abandono
Uma peregrina luz o dia fortalecia
Mas a noite minh´alma amortecia.


Ofélia Cabaço
2015-06-06



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