sábado, 28 de fevereiro de 2015

Primavera Sempre


Na porta do quintal bateu a primavera
Era tempo de serenidade e ordem absoluta
Ventos de anarquia intempestiva fora o inverno
Destituídos de propósito impuseram lutas   
Forças com braços austeros… o inferno,
A Natureza por leis supremas é governada
E a primavera ressurge porque é,
E os demais são Nada (…)
Abri a porta e vi o Sol anunciando a madrugada
Radiosa, alva, mítica e tão abençoada
O dia despontara para além dos ciprestes
Andorinhas aos bandos saltitam nos beirais
Sacodem suas asas, ciciam alegremente, ensaiam
A alegria para a Vida (…)
As árvores sacodem suas lágrimas, o orvalho
Abraçou-as noite adentro com frio e ais
Ninhos envelhecidos caem sobre chão humedecido
Símbolo do amor e ternura, tempo ido
A primavera…
Exótica nas suas cores, voluptuosa e amante
Arquétipo de jardins exuberantes,
Licenciadora de loucuras flamejantes
Inspiradora de entusiasmo e avidez do novo,
Do desconhecido (…)
Primavera idílio dos sonhos, exímia pianista
Que nos oferece sons e sombras…
Compõe vida e vislumbres de alegria
Para quem desce a montanha e lembra a mocidade,
Auras dum passado recente, saudosamente,
A primavera rejuvenesce aquela existência
Bondosa, gala estival que a terra veste,
Lábio quente que exclama e toca essências
Não te esqueças nunca de me bater à porta.

Ofélia Cabaço 2015-02-28








sábado, 14 de fevereiro de 2015

Namorados e Amantes

Fulgurante a magnólia imensa
Sua sombra de magia intensa
Embriaga os amantes numa envoltura
De cheiros e promessas auras
Brisa de amores transcendentais
Experiências imperecíveis, brilho de metais
Reluzentes naturalmente antes de mais,
Gritos ou censuras tanto faz, irreais
E, sussurros prazenteiros de ais
Ais…convulsão de cataclismo profundo
Elevação em flecha num sentido fundo,
O Amor!
A verdade duma Verdade soberana
Proibida nos caminhos térreos, às vezes
Escondida na arte da subtil mentira
Se não fora a quimera e os sonhos
O seu sentido não teria sentidos…
As fontes calam os ais e os amantes
Sob flores de magnólias amam ébrios
De amor e viço, desejos e sensações
Regozijo ao som do canto das aves
Suspiros, e ao Amor reais celebrações
O gozo do Amor intenso…


Ofélia Cabaço

2015-02-14



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Flor

No jardim natural duma abundante natureza
Muitas flores com essência e perfume com certeza
Gozam dos mesmos viços e vícios, Singeleza,
 Uma delas, diferente mas com idêntica natureza
Singular num canto do jardim são de si fineza e justeza
 Impõe-se como flor que é não sendo o que é só de si
Ilumina os espíritos do Espírito justo com aromas
E perfumes de açucenas,
Diferente, com sopros de franqueza que não fraqueza
Indaga a formiga e o sapo espreita na lagoa estreita
Repreende o pirilampo abusador de luz e cor, brincalhão (…)
Porque sem que ele queira mas porque dá jeito
Aconchega a toupeira e tapa-lhe o buraco, cenas
E muitas concordadas de mãos dadas, está certo
Quando o certo não é certo e imenso é o deserto
 Jardim florido de cor e harmonia abstratamente sinfonia
Às naturezas que não são naturais da Natureza,
Vénias…
A flor diferente na roda do Sol fita o firmamento
E naquela infinidade do cosmos a Natureza diz:
Vénias Não, tu és natural na tua natureza
E a flor fica só porque não é certo ser natural!

 Ofélia Cabaço
  2015-02-09









domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Frio Mata

Foram dias de ventos gelados
Traziam gritos e ecos magoados
Vinham de naturezas glaciares
Envoltos em mortalha de farrapos sofridos
Um acre cheiro transformou os ares (…)
Engolindo duma só vez a liberdade
Voltavam o frio e a afronta de tempos idos
E o mar debatia os ventos gélidos
Libertando um acumulado aquecimento,
Inocência de infantis inocências…

Bosques de gigantescas rochas a seu lado
Observavam o horizonte…
Denunciando uma pueril identidade
Abstruso pleonasmo e força de bisonte
 E o frio cada vez mais de si
Atormentando crianças e velhos, o frio
Correndo como águas revoltas dum rio
À beira das pedras…
Uma sucessiva espera dum sol equatorial
Instrumento apaziguador de vindas e idas…
Olhos cerrados e um descanso sepulcral,
Uma obrigação remocada com ordem e freio
Aonde a inocência apenas verve…
Como um poeta louco.

Ofélia Cabaço
2015-02-08