Três pedrinhas muito juntas, Na beira dum penhasco viviam Havia um caminho vão, vinham e iam As três uma união, forças muitas,
Arrastada por intempéries Juntou-se outra pedra, negra e barbárie Fortes vendavais, Tumultos que levais
Conflitos e tormentas, Gerou a pedra com suas ventas, Alterou bonança para discórdia Junto ao penhasco a alegria não medrara Os pássaros roucos pararam a melodia Rebolou-se atrevida nas pedras, a pedra
Com um olhar sem cor, fitava Observava e desafiava, na beira do penhasco! Silêncio, pedras mil, naquele ermo sem fim Um rebanho, no silêncio, fazia tlim-tlim Apanhou a pedra o pastor atirou-a para
longe Não fora sequer carrasco, antes, distraído A pedra à beira do mar, ânimo traído O mar imenso com branco babete Vomitou espuma com ginete Levou a pedra para o fundo, muito fundo, Daquele mar com ondas p´ra contar!
Planície perdida,
quem sóis? Em ti moram
girassóis Chorosos, olhos
negros e coração Cabeleira
doirada, um condão Suas pétalas
sedentas, o calor! Ao sereno, caem preguiçosamente, Uma a uma,
discretamente, Quietude, sossego
da alma Como água serena
das fontes Ouvem-se de muito
longe, as vozes Todas as noites,
e de dia, às vezes, Uma quietude
embaraçosa, fugidia, Trémula, esquecida
da luz do dia A planície,
vestida de viúva Ébria de húmidos aromas Agoniza, sensual
como as damas Chamas que se somem
na ardura Dum sonho incerto
que perdura Quem és planície? Sou enfim, o
abraço d´agonia, Responde o poeta
ressuscitado!
A joaninha vermelha Aquela que não tinha pinta Resoluta, saiu da telha Trabalhou na horta verdejante Cuidou plantas, evitou pragas Floresceram nabos, cravos e bagas Vigiou, acarinhou, a lealdade Não a tornou uma beldade E, a horta?
-tão abundante! Pujança e riqueza de Dante Dedicada foi a joaninha, Confraternizou com formiguinhas Reflexo de imagem briosa Acordava nas manhãsmanhosas Num despertar mansinho O Sol, brilhava no caminho Lá ia a joaninha sonhadora Passo aqui, ajuda ali, a hora Premiada foi p´la natureza Não fora coroa nem louro, A dedicação com certeza, Envolta de Paz, eterno ouro!
Na minha porta ouvi bater Breve alegria, escutei! Senti alvoroço no meu coração, Pois sorte havia de ter Instantes demorados, estranhei Quem é? Perguntei curiosa Respondeu-ma uma voz penosa Sou eu, - a tua alma! Quão viajada esta minha alma P´la vida tão austera Abri a porta, balbuciei Alma minha, sê Primavera! Planta alegrias no meu jardim Malmequeres brancos, desfolhei A meus pés, pétalas e jasmim Serenatas ao luar, escutei.
Deixou-me aqui o vento Esquecida neste canto, vislumbro Montanhas e florestas, entretanto, Falo-te de afetos com assombro Neste silêncio a tua voz é calma Vagueia como destino nevoento Oiço expectante o meu pensamento Que me aconselha sossegar a alma És um judeu errante, peregrino, Aquele que sabe e não tem tino Sei que o vento te sussurra Que o meu sorriso é teu, sou terra, Dela nasci, e o nosso amor também, Sinto que nesta colina, sou ouvida À noite as nuvens descansam, amém, P´la madrugada, clareiam a minha vida Tu que és impassível e me estimas Não saltas, não sorris, não me animas Eu, muda, soturna, desejo-te! Meus cabelos branqueiam, Tu és as minha rugas, Nossas vidas húmidas de calor Lagos a fluir águas e ardor Chamas que amansam nossas brigas.
Uma folha vazia de letras Sem qualquer sentido…. Como quem espera uma disputa Jaz moribunda de cansaço, O tinteiro azul de aparência Secou a sede da sua essência A escrita viajou, sem piedade Deixou silêncio e inspiração Tudo permanece sobre a mesa, O vento folhas leva, sôfrego! Gemem as árvores despidas Uivos de esfomeados lobos Ecoam da floresta a casa, Aonde houvera flores e amores Apenas sombras vagueiam O vazio, e a folha, e o tinteiro A solidão, inspiradora, lúcida, O amor, a poesia e os anseios Suores, humidade e frio Os medos (…) A mesa despida de esperanças E a vida que dorme, imune, Aos caminhos da injustiça Às intempéries dos Invernos Até que acorde numa manhã Radiosa com risadas compostas;
Denso foi o nevoeiro que fez das montanhas
catedrais Lá longe, muito longe, timidamente, espreita
a claridade Poisa palidamente,
transforma as vidraças em cristais, Surge a esperança,
lastimosa, já sem idade, Respingou gotas
de orvalho na minha triste saudade A esperança, que não
se cansa de me enganar (..) Um dia conversei
com a vida, despedi-me com desolação Mas a vida deu-me
abraços de fingida consolação Sentei-me à beira
do caminho e refleti impossíveis, O vento deu-me
beijos, afagos, e amizades aprazíveis A Lua
presenteou-me com sonhos e quimeras, Acordei na
calçada, e nada tinha do que eras!
Entre as ramagens da magnólia Espreita o Sol à despedida, Todo santo dia aqueceu à medida Com generosidade iluminou à revelia Devagar, devagarinho, ele vai Com promessa de voltar, é honrado! Vou dizer um segredo, escutai: Quem dera que o Sol fosse namorado, Que se despedisse e voltasse, Que voltasse e se despedisse! Com a certeza que me amava Eu esperaria enquanto dava Oh! Sol, majestoso e encantador Traz-nos novas dos teus deuses, Vem doirar a Terra com ardor Abandonar-nos não ouses, Sol, mistério doutras eras Pintor de amendoeiras, Adormece papoilas nas searas Alegra os ninhos nas eiras.
Procurei no mar um diamante Buscas profundas eu fiz, Encontrei estrelas trementes Ao lado do que eu desfiz, Abracei algas, bebi magia Em cálices que se partiram Flutuei como quem fugia, Duma ilusão entorpecida.