domingo, 14 de julho de 2013

Cesário

Verde foi o poeta Cesário
Levou-o a morte tão cedo
Ávida de vidas e credos
Saltou para além do casario
Pradarias de flores e poesia
Lisboa magra de fantasias

 Sob os olhares de Marias
Ajoelhou terra e capelas
No campo e na cidade, tudo queria
Nos roseirais contou pétalas

Temperou esperanças de Lisboa a Queijas
Sorveu poesia, escreveu realidades
Observou ruralidades, para que vejas,
Campos de trigo doirados, frémitos braços
Pregões de favas, vendedeiras p´la cidade

Bebeu Primaveras, abraçou Verões
Folhas caídas, nos passeios da cidade
Nos campos, o restolho monótono
Outonos vermelhos com liberdade
Finalmente o Inverno e os serões

Lisboa envolvida de fumos cinzentos
Castanhas assadas, frio e argumentos
Janelas fechadas com vidros quebrados
Rostos com sorrisos enfezados,

Cesário escreveu e observou
Campo e cidade amou,
Não fora a pressa da morte
E escritos teria a Corte

 
Ofélia Cabaço   2013-07-14

CINZAS

Mulheres com alma mansa
Existem!
Descem os degraus
Aqueles que subiram
E odeiam
E amam
E escutam
E esperam………….
Não são ervas, são gente!
O tempo avassalador
Sepultura de grandezas
Sentimentos, desapontamentos
À beira dos jardins pisados
Silêncio (..)
Dedos nos lábios, silenciando
Os pios,
Alma apagada varrida d´alegrias
E os ventos percorrem colinas
Montanhas e bosques,
No tempo vertiginoso,
Ironizam grisalhos,
O tempo com asas invisíveis
Transforma idades em areias movediças
Depois o deserto…….
Um dia foi árvore resistente
Ao rigor das estações,
Pronta a abraçar primaveras
Ouvindo o canto das aves, outras eras,
Recebendo inebriada o alvor,
Em cada manhã de um novo dia
E o vento que não chega
“Oh vento estremece as almas
Leva as cinzas para longe e,
Traz, oh vento, ramos da oliveira”

Ofélia Cabaço
2013-07-13

Noite

Não há amiga maior que a noite serena,
Entrega-se transpirando aconchego
Espero-a, sentada sob o plátano da arena
Inquieta, despedi-me do sol há que tempo,
Já os grilos entoavam música e ecos
E a noite quente, liberta de ralhos
Vem até mim, acolhedora, complacente
Que beleza e paz duradoira
Em silêncio, ouvimos o restolhar das folhas
Pirilampos iluminam as estevas engomadas
Numa despedida ambígua, condescendente
De choros compulsivos dos parentes
Arrastam-se lentos bichinhos-de-contas
Junto aos meus pés sem mais fitas
E ela, a noite, placidamente sensual
Aconchega-me num cálido instante
Fecho os olhos e deixo-me embalar por tal,
Momentos e desejos dos livros da minha estante
O mundo onde sou feliz e amada!
Natureza minha mãe sagrada
Alberga-me até que venha a geada.

 Ofélia Cabaço


2013-07-13

sábado, 6 de julho de 2013

Ofélia, Seculo XXI

Sou apenas um ser
Que nada é, a haver
Apenas sente (…)
E ama, num repente
Deseja justiça e anseia
Sou um ser que pensa
Que transmite ideias
Espirito de benigna ofensa
Sou irreverente, justiceira
Angustia-me quem não tem beira
Abomino a arrogância, a fome
Sou aquela que se consome!
Sou talvez, a indesejável
A que fala e grita, contestável

Ofélia Cabaço  2013-07-06



Sem ti

A tua vida é uma folha inconstante
Equinócio dum passado recente
Em cada linha a poesia marca hora
As lembranças vivem e vão embora

Marcam anos, no dia desgostoso
Exaltam beijos, no tempo maravilhoso
Brincam com o vento até ti
Recordam paixão e gestos que cometi

A tua e minha vida são fôlego
Respirar ansioso dos egos
Sem ti nada sou,
Sem ti não vou

A minha alma já não chorou
A magnólia do jardim, secou!
As noites são mansas
O meu coração descansa!
O Mundo parou no hemisfério
Num retumbante de mistérios.

 

Ofélia Cabaço 2013-07-06

terça-feira, 2 de julho de 2013

Parabéns Maria João

 Querida tia Dinorah,

Escrevo através do computador porque tenho letra de boticário e assim evito terem de se esforçar para descobrirem as minhas palavras.

Estou muito, mas muito agradecida p´los livros que recebi e fiquei orgulhosa da Maria João que foi para mim sempre uma menina muito especial. Vocês foram uns pais maravilhosos e o resultado foi a satisfação no acompanhamento da evolução cultural das vossas filhas. É realmente um orgulho, quando percebemos que criamos seres fantásticos, creio que é uma bênção de Deus, independentemente dos defeitos que possam ter, uma vez que somos seres humanos, e, todos os dias das nossas vidas, erramos nesta ou naquela atitude que eventualmente, tomamos. Falo por mim e p´lo meu filho, que admiramo-nos mutuamente, orgulhamo-nos um do outro, e no entanto, temos algumas desavenças relativamente às questões do quotidiano.
Tia Dinorah, muitos parabéns e ao Sr. João Vieira também pela conduta de suas filhas nesta vida. A avó Gilda, claro que teve grande influência, ainda bem que as pequenas ouviram os seus conselhos e como bem sabemos o tempo é o testemunho da realidade benfazeja de quem nos rodeou e aconselhou. Da minha parte nunca tive ninguém visível que me aconselhasse, mas Deus e a Virgem Maria têm sido os melhores pais do mundo. Daí eu perceber que quando partilhava as minhas alegrias com certas pessoas o feedback era silencioso, invasivo, para não dizer mudo. Até nisso, nós apendemos como lidar com as pessoas. Nunca devemos endeusar ninguém muito especialmente quem não nos merece! Mas as vossas filhas sempre vos tiveram como proteção infinita, bem-haja por tudo isso, são uns grandes pais! Daí os frutos do vosso pomar! Deus vos abençoe.
Tia Dinorah, existem pessoas tão ridiculamente pobres de espirito, que não sentem nem orgulho, nem satisfação por ninguém, e nisso vocês são um exemplo de partilha e admiração por quem merece. O exemplo disso é a amizade que sempre dedicaram à Glória que é considerada e muito bem, um membro da vossa família e fundamentalmente a preocupação da tia Dinorah, em pensar no futuro dela, quando um dia lhe faltar. Isso é de uma grandeza sem limites. Admiro-a muito e não digo com ânimo leve, porque já a conheço o suficiente para afirmar o que digo, e o que é justo.
Acrescento, que não conhecia quase nada desta personalidade José Silvestre Ribeiro e estou encantada por ler mais uma vivência frondosa de um ser que deixou a Portugal raízes que se estenderam para lá do Atlântico. A Maria João é uma artista com alma e coração, Deus a proteja, assim como a todas as outras.
Fiquei tão comovida que, recebendo ainda há pouco os livros, já estou a responder para vos transmitir tudo o que me vai na alma neste momento. Gosto muito de vós. Deus deu-me o dom de poder perceber e diferenciar o trigo do joio. Muitas vezes na minha vida, tentei enaltecer pessoas que eu amo, mesmo percebendo “o avesso” das mesmas, mas chega uma altura em que não mais, vale a pena continuar e isso, tia Dinorah é de um desgosto profundo, quem me manda a mim ser lírica?
Tudo para especificar que as vossas filhas sempre vos tiveram e sempre se orientaram pela sua família, ou seja, os seus pais e avós. Como eu as admiro! Como eu vos considero! Como eu gostaria de ter encontrado na vida, pessoas que gostassem de mim, VERDADEIRAMENTE!
Se chegar um dia a ser velhinha, contarei aos meus netos, estórias de exemplos de pessoas que mais admiro, aí sim, ensiná-los-ei a serem cautelosos, porque não o fiz com o meu filho, apenas porque tinha 17 anos quando ele nasceu e, eu, nem sequer com aquela idade, me tinha encontrado a mim própria. Mesmo assim foi criado com a minha força e todo o amor que um ser pode albergar. Fui, tia Dinorah, uma sobrevivente lutadora, mas não é por isso, que não admiro e venero a inteligência no ser humano. No meu coração não mora, nem nunca morou a inveja, penso que Deus me ajuda a não ter sentimentos destruidores e incapazes de diferenciar a verdade da mentira, a razão e o razoável dos assuntos, a moral e a dimensão das suas vertentes. Passei na minha prova escrita de filosofia com 14, fui a segunda nota mais alta e tenho já 60 anos. Não recebi parabéns de quase ninguém. Por isso a veracidade desta minha escrita em relação a vocês é imensurável! OBRIGADA!
Mais uma vez muito obrigada, fiquei muito feliz.
Um abraço para Sr. João, Glória e para si um apertado abraço de amizade profunda!


 



Ofélia Cabaço

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Grande Poeta

Camões com fome morreu
Gáudio dos bobos, fome compacta
Foi Grande o Poeta, mundos percorreu
Nação às costas, Povo e Língua
Honrou Portugal em terras e águas
E Gigantes, e, ondas promissoras
Castigo dos deuses, sem olho ficou
Pobre morreu com fome e febres
Exultou a voz ao som dos mares
Deixou poesia, salvou saberes
Cadáver homenageado com louros
Faces acabrunhadas esconderam os ouros
Nação de bravos famintos
Outrora pobretanas, mitos!
Os sabichões inventaram moradia
Á mesa redonda opinião morgadia
Mentiras e soberbas, arquétipos
Poeta imortal, deixou herança e Tempos!

 

Ofélia Cabaço  2013-07-01