Dos teus olhos caíram
lágrimas em fio
Naquela triste
madrugada,
Tua boca fremente,
resquício dum prazer
Implorado aos
deuses…
Formaram uma agitada
corrente no rio
Sob uma densa bruma
rosácea se esconderam
Os arautos da buliçosa
Primavera, tu,
Com voz rouca e
inquieta o meu nome
Chamaste…
E minh´alma escutou
a tua, num miserável silêncio
Calei o teu
desgosto fingindo não fingir
O teu desejo
companheiro do meu,
És dono de mim e
grande como a lua no rio
A minha sorte,
aquela que busco incessantemente
É a tua figura de
herói desbotado que desenhei na mente
O jugo do meu
alento, brasão no meu coração,
O passo na minha caminhada…
a água que mata a sede
O estio generoso e
o outono impávido tu és,
O melhor fruto do
meu pomar, o sabor, a cor e a flor,
A minha poesia é a
tua imagem que toco ao de leve
E não toco harpa
porque a melodia é triste no dia
E nas noites
enganadora…
Desejo mal tido,
inexorável e indelével
Que me atormenta e
me afasta de ti a desoras
Para suplícios e
montanhas escarpadas
Ao invés das
planícies onde brotam margaridas
E a terra fecunda
com cheiro a viço me encanta
És o abrigo que
almejo,
Para branquear os meus
e teus cabelos…
Ofélia Cabaço
2015-06-15
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