terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cansada

Que canseira de pensar
No passado sem retorno
Bailam as origens com pesar
Beijar a mão da tia, não torno

O sabor do feijão à mesa, tão longe!
As gargalhadas das amigas, saudade,
Os sinos da igreja, o convento e o monge
O véu branquinho sobre os cabelos sem idade

Pinheiro de Natal, aroma da criptoméria
O presépio e os pastores vigilantes
Na gruta de pedra, Jesus, José e Maria
Azáfama de limpezas e bolos, dantes!

Pensamentos e saudade, unidos
O sótão com janelinha, a minha cama
Claridade da Lua abençoando quem ama
Um abraço apertado, ternura, tempos idos,

O horizonte tentador, para além do mar
A avenida  e o mar na manhã sossegada
Meus passos somente, liberdade desejada
O desassossego de quem deseja amar

Desenhos líricos no traço do destino
Cores vibrantes pintadas a óleo cristalino
Lagos, flores e uma casinha na serra
Uma camponesa e searas ao vento
Caminhos sem fim na procura da Terra.

 

Ofélia Cabaço
2013-08-06

Domingo

Uma reunião de amigos que percebem o que pensamos, o que fazemos e o que gostamos na realidade. Hoje aconteceu durante um magnífico aconchego com troca de opiniões, receios passados, medos do hoje, desesperança no futuro, recordações de regras e ensinamentos que nos fizeram ser as pessoas que somos. Para mim foi um sucedâneo de emoções e recordações que em tempos foram de um rigor exagerado, mas, que contribuíram para um ponto mais ou menos pérola.
Senti que a minha Pátria é o meu berço temporário aqui na Terra, sei que se chama Portugal uma vez que, a Pátria que me espera existe na eternidade. Tento fazer coisas que tenham alguma utilidade para o “outro”, começando obviamente por mim, p´la minha mente, por deveres que, não são razão, mas sim essência.
Não gosto de imposições e certamente não é por ser arrogante, é somente porque não tenho a mínima paciência para fazer o que a maioria “acha bem”, quando esta mesma maioria, não concebe o “acha” e o “bem”. Muitas pessoas não precisam sequer falar para que eu perceba que o meu sentir e a minha retórica, não lhes interessa para nada. Não obstante, eu, que sou uma “chata”, tenho que ouvir as mais banais e repetidas conversas acerca do “esperto” que resolve tudo com uma indiferença tão calculista e fria que chega a arrepiar. Por tudo isto tenho a boa disposição de partilhar a minha satisfação no convívio desta tarde com gente que fala, escuta e avalia.
Tal como o moinho do milho que torna os grãos em farinha, muitas vezes a minha alma mói pertinazmente o que a faz ensombrar manifestamente para a infelicidade.
Esta tarde, a minha mente foi arejada de coisas boas, de conselhos, algumas reprimendas, e ainda de doses suaves de reconhecimento. Que bom!
No começo da noite percebi que os manjericos do meu jardim orgulhavam a mão que os trata e mima, fizeram as hortenses azuis chorarem confetes, que se espalharam coloridamente em torno de nós. Encheram o ar de cheiros e contentamentos. As estrelas piscavam na abóboda elevada ao povoado, numa envolvência luminosa de harmonia e paz espiritual. Agradeci a Deus a capacidade que me deu para apreciar as várias metamorfoses que a natureza produz imutavelmente, assim como o sentimento de me deixar conduzir pela beleza das pequenas coisas.
Pensei em África, falamos sobre o feitiço que África proporciona com as suas cores e sons a cada Ser que lá nasce.
Depois, no que poderíamos fazer para ajudar aqueles povos a viverem e usufruírem, p´lo menos, com a riqueza que aquelas terras oferecem a nível natural e não só.
Foi uma tarde enriquecedora. Amei.
Vou ler o meu livro “ Os Dabney”, estou encantada por entrar no século dezanove e perceber o que acontecia nas ilhas naquela época. Descobri que Mark Twain na sua grande viagem p´lo mundo, parou na ilha do Faial, e como sabemos ele escreveu muito durante toda aquela viagem; A sua descrição foi a de que, os ilhéus eram moles, preguiçosos e pouco ambiciosos para além de desconfiados. Mark Twain escreveu a pior opinião que alguém pode ter acerca dum povo. Não gostei muito, sinceramente, mas, mais adiante, percebi que aquele pensamento não era muito credível na medida em que outros personagens com craveira intelectual, politica e médica disseram exatamente o contrário. Durante a guerra Liberal/Absolutista as ilhas foram de uma força e capacidade de querer e resolver do mais épico possível.
Vou continuar a ler e babar-me com toda aquela azáfama de uma família americana a viver na pequenina, verdejante e sossegada ilha do Faial pespontada com um mar por vezes enfurecido ao ponto de os barcos ficarem ao largo da baía durante vários dias à espera que o temporal amainasse. Não me importaria nada de ser um farol naquelas paragens.

Ofélia Cabaço 2013-08-05