segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Hei-de um dia partir,

Contemplei o mar
Quis voar ao mistério e aos céus
Caravela com asas armar
Eu quis…
Contigo em alado, subir além do pensamento,
Hei-de um dia partir…
O mar, planície malva, imensa,
Tão vasta de segredos e deuses
Em noites de ausente claridade
Assaltam-me presságios…
Em igual crueldade, naufrágios!
E o mar assiste aos  meus tombos, 
Em uníssono som que me enlouquece,
Me entontece!
Fala-me como se falar fosse barulho,
Nada me diz, nada se me espelha,
Apenas as lágrimas que choro,
Somente sinto a Natureza que adoro
Hei-de um dia partir…
Falou-me há anos muitos o mar,
Esquecida de mim, nada recordo,
Talvez sejam apenas mitos…
Só sei que minh´alma está descrente
De tudo o que fui crente…

Ofélia Cabaço
2015-08-07



terça-feira, 1 de novembro de 2016

Minha avó

Um dia minh´avó me contou,
que em tempos sofrera de estranha moléstia
e só bebendo o orvalho da videira,
que de noite, Nossa Senhora abençoou,
conseguiu cura verdadeira;

Donzela e bela à parte sua modéstia
dali por diante saúde irradiou
Tinha cabelos da cor do trigo, mudou
da noite para o dia a cor para branco
nesse ponto, ficou igual a Petra, sua tia,

Branca e pálida sempre fora a sua tez
mais alvacenta ficara daquela vez
Seus olhos, então, da cor dos prados
tingidos foram sem qualquer brado
castanhos e suaves, iguais ao coração das margaridas
se tornaram, repletos de adoráveis matizes...

Tempos com tragédias idas
Minh´avó pálida e de castanhos olhos
Cabelos da cor do algodão, de grande coração,
Grande, como o mais alto milheiral
altiva e arrebitada, a cada hora conselhos!
Foi à beira d´água um robusto mural.


Ofélia Cabaço
2016-02-06

Obs: Hoje, dia de finados, ofereço à minha avó, aquela que foi meu pai, minha mãe, meus irmãos, minha casa, e, que me amou como ninguém. Paz eterna para sua Alma. Beijo-te em silêncio e com a maior homenagem possível na verdade e no amor.