sábado, 23 de abril de 2016

Livro,

Livro que em ti sepulto
Esperança e alegria
De repente um insulto...
Traz alento ao meu culto
Dernier cri: és idolatria!

Giesta, urze e rosmaninho, cheiros
Nas manhãs de Inverno, enrubescem
A vida com ardor...
A chuva lá fora, no regaço livros,
Um altar queimado, a neve e o frio
Oh! quanto fervor!

Em sua volta penetra o sopro uivante
Do vento que corta, ameaça
A palavra e o sentir (…)
E o lobo na floresta amordaça!

Imaginação, asas e mente
Esfera venturosa que a Poesia abraça
O Livro (...)

Ofélia Cabaço
2016-04-23


quinta-feira, 21 de abril de 2016

Redenção,

Quando a luz do Sol, em comiseração
Afastar névoa e lágrimas, redenção
do Ser numa paz duradoira, florescerão
Nos corações, lírios e boninas
Brilharão os riachos nas colinas;

O devir universal do Redentor!

E as águas puras refrescarão as noites,
Do abrasador calor...
O Sol aquecerá o bosque denso,
E pintará de branco e rosa as amendoeiras
Em flor...
Toda a Terra furta-cores, panegírico
Do Belo e o desenrolar de um soneto imenso
Transformará o brilho bélico,
Aos olhos do Homem,em harmonia e amor,
Seria a melhor obra do Criador, ante a tragédia
Dos dias decorrentes, dia a dia,
Não deixar que o Espírito se esvazie...
Seria redenção em absoluto
E as almas inquietas, negarão o luto(...)

Ofélia Cabaço
2016-04-21





quarta-feira, 20 de abril de 2016

Soneto 18

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
W. Shakespeare


Como Está Escuro!

A noite estende-se,longa e implacável
E o dia esmorecido, expectável,
Com a noite se enrola, cobertor
Que se funde na minha dor,

Se ao menos a noite deixasse
Que o amanhecer me falasse
Perceberia a minha tristeza
E para meu alívio, a aurora
Exultaria em misteriosa grandeza;

O peso que me curva as costas
Pudera apiedar-se...
E porque continua a noite, o medo
Obriga-me a contar Anjos, às voltas,
Cada um, recitando em segredo
Os versos que um dia, hei-de escrever...

Ofélia Cabaço
2016-04-21





terça-feira, 19 de abril de 2016

Só Preciso Duma Palavra,

Só preciso duma palavra
Oiço palavras tantas,
e tantos gritos patetas (...)
Sou terra que arde e lavra

Só preciso duma palavra
da boca dum Ser aventurado
Rosto belo, sorriso glamoroso
de si,grandioso,

A palavra,
Que minha alma escuta
Minguada, oiço-a em vão!


Sou terra que arde e lavra
Que sente o cio no verão
Das formigas sou amiga...
E as águas no meu ventre
São raízes que o ar não some
São ramos de arvoredo entre
Florestas e mar...

Sou terra que arde e lavra!

Ofélia Cabaço
2016-04-19







quinta-feira, 14 de abril de 2016

As Casas,

As casas que existem para guardar
Porque viver é criar...
Podem ser de todos, ou até de ninguém,
Por toda a minha vida amarei, assim, as casas!
Simples, com aconchego e palavras, também
Podem situar-se num escolho,
Dentro delas existem mesa, cadeira e Asas
No quintal, uma gloriosa oliveira,
Livros na estante, essência verdadeira...
Aromas a café e torradas, janelas,
De onde se avista a paisagem,
Metamorfoseada no tempo da estação
Inovadora, prólogo e exaltação...
Uma porta que se abre a quem nela bate
Perto ou longe, uma nascente,
Água cristalina na colina ascendente
Lírios e boninas da terra emergem
Candura, e do céu, luz que perdura
Por toda a minha vida, amarei assim, as casas!

Casa
Nela sou pastora
Árvore, planta ou erva,
Não serei serva,
Nem de dia nem de noite...
Ah! a razão redentora!

Ofélia Cabaço
2016-04-14





segunda-feira, 11 de abril de 2016

Abril

Abril figura do Tempo, alagais
Vales e moitas, margaridas dobrais
Chuvas mil e a Terra abençoada
No céu azul voam passarada
E, no beiral da minh´alma
Cicia a cotovia...
Na longa noite e à luz do dia
ai de harpejo,
Que esmaece o desejo...
Oh Abril do tempo alagado
Traz-me o verão,
E o leite e mel que estalam os figos, virão!

Ofélia Cabaço
2016-04-11




sexta-feira, 8 de abril de 2016

Amor Ascendente,

Dominar o Amor por ti
é como a Natureza dominar
Dominar a Natureza não devo,
Não sou capaz!
Amei-te desde rapaz...
Sou, entre muitos um trevo
entre urzes e dedaleiras,
à mingua de frutos e chuvas, abrilhantar
minha sede é enamorar o perfume das flores,
Sentir a madrugada,
e reacender minh´alma deslumbrada;

Dei voltas ao mundo
e não achei porta aonde entrar
Saltei jardins e colhi rosas,
Sangraram minhas mãos
Catos e silvas ardilosas ...
Chorei meus irmãos,
Disse vezes sem conta não
Ao amor que por ti nutri
e foi lento o esquecimento (...)
Sem conta, as vezes foram ilusão,
e o Amor subiu em turbilhão
Minhas preces em vão!
Serás púlpito ascendente
no meu coração fulgente
Eternamente!

Ofélia Cabaço
2016-04-08







quarta-feira, 6 de abril de 2016

Na Sombra da Montanha

Aquela ovelha no teu redil
Que te parece atrevida
Finge nada saber de ti, subtil
Devora trevo, os amargos também (...)
Olha o alto das serras, convencida
Que tu, afinal, és sombra...
Que se esconde na Sombra da montanha
Aonde, e só aí, é demarcada a tua manha;

Oh! sim, és gente assim!
E o gentio se debruça ao som de clarim...

Oiço as nuvens cantando um hino
Esplendor do Verdadeiro...
E aquela Voz suave como a brisa
Às vezes, impávida e serena,
Outras tantas com desgosto derradeiro,

Apela à Luz transcendente o teu destino
A injustiça dos teus atos, coisa
da Coisa em atmosfera terrena

Só quando apetece,
Salvo alguma prece...


Ofélia Cabaço
2016-04-06







segunda-feira, 4 de abril de 2016

Sonhado Dia,

Na primavera de minha memória
Arrumei um colorido armário
Guardei desejos sigilosamente (...)
e fui sonhando um dia, ansiosamente;

Paredes invisíveis, ornamentos
Carmesim, rosas e pensamentos
eu ergui... cheiros de pinho e terra
fôlego da Paz na rudeza da guerra,
eu consegui!

Caminhei o mar num verão,
Rosto impassível, ilusão perfumada
Um passo e outro, a alusão perturbada
Ao dia sonhado...

E o mar segurou-me sem varão
Caminhei, e caminhei até fim do caminhado,

O costumeiro desejo, e eis o outono,
Cores mágicas, feitiço, folhas e ventos
Deméter e o choro das fontes...
As estações pintou aos olhos da minha fronte!

O que escrevi e descrevi, palavras e momentos
Ao dia sonhado...
Abriguei-me no outono e o sonhado dia
Aguarelas são, desvanecidas de cor e magia,
Envelhecidas as folhas...
Os sonhos são o chão da minha vida...



Ofélia Cabaço
2026-04-04