Amei, não amei,
Vivi, sem viver,
Fui mãe, não fui filha
Morri muitas vezes,
Caminhei, não andei
Trabalhei, sem voz,
Fui razão, com razão,
Senti o meu sentir,
Rezei mil rosários,
Bebi segredos do rio,
Contei sem contar,
Transmiti dizeres
Pensei no pensar,
Semeei pensamentos
Fui feliz sem risos,
Depois infeliz, chorei!
Amei, não amei!
Saltei sem asas,
Sonhei com grandes asas,
Comi, não engoli!
Dormi acordada,
Acordei a dormir,
Fui anjo branco
Deusa de vestes rotas,
Fui demónio, sem mal,
Vivi, sem viver,
Fui mãe, não fui filha!
Fui fantasma e rouxinol
Assustei e cantei,
Fui marcela nos campos,
Prisioneira eu fui,
Entrei nos jardins proibidos,
Virei costas a portas,
Abri fechaduras ferrugentas,
Acendi velas sem luz,
Corri cortinados desbotados,
Deixei o vento entrar,
E, não entrei!
Caminhei, não andei,
Trabalhei, sem voz,
Vesti-me com sedas,
Fui princesa também,
De chita fiz saia,
Camponesa eu fui,
Criança não fui,
Sou sentimentos, apenas!.
Fui clara tremida,
Sem gema colorida.
Fui razão com razão!
Ofélia Cabaço, 2013-02-18
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