quarta-feira, 23 de julho de 2014

Virgem Maria

Pedi à Virgem Maria para me proteger,
Ajoelhei-me, rezei e desejei sua filha ser,
De rosto resplandecente Ela sorriu!
Sussurrou-me que o seu amor era imenso,
Trazia no peito uma cruz de madeira,
Túnica alva vestia, na cabeça coroa de incenso,
Em suas mãos, flores de amendoeira!
Não usava meias de seda,
Nem sequer sapatos calçava
Era linda, oferecia perdão, luz e dádiva,
Seu coração de amor transbordava
Aquele olhar doce… a Virgem possuía,


Sua voz caridade!
Pecadora, eu balbuciava Amém
Maria, minha Mãe, acenava-me,
Deixou-me  confiança,
Envolta num coro de Anjos subiu aos Céus
Sob um sublime som de Ave-Marias!

Ofélia cabaço 21-12-2012

 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Raízes

Semente de lírios espalhei,
Roxos e brancos,
Entre dois rochedos brotaram,
Uma alegria imensa senti,
Efémera alegria!

Raízes não criaram os lírios…
Ontem ébrios de sol,
Hoje jazem sob chuva de prantos
Os rochedos, indiferentes ao vazio
E na deferência dos deuses (...)


 Raízes não tinham os lírios…
Os sinos dobraram hinos
Vindos de muito longe, harmoniosos,
Consolaram minh´alma chorosa
Vestidos de folhas mortas os rochedos
Tecem silêncio na penumbra da noite,
Observam terra inculta, imperfeita
Matéria sem forma…


Raízes não criaram os liros….
Sonhei…
Sob os meus pés nasceram rosas
Pisei os picos e colhi pétalas…
Fiquei peregrina à beira do mundo
Bebi mel, abracei a vida, pictoricamente
Acordei nos braços de  Eros!


Raízes não criaram os lírios...


Ofélia Cabaço


2014-07-21


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Sonho

Sempre que o Sol aquece
Vem até mim e me beija
Abrasador, toca-me com ardor
Minha mente ansiosa
Sonho e Ela de mãos dadas
Percorrem montes e vales,
Numa procura incessante
Da tua sombra fumada…
Mãos trémulas, maceradas
Afagam suavemente tuas rugas
Tocam teus cabelos grisalhos (...)
No ar os cheiros a rosmaninho,

Hortelã e sensualidade
Juntos…

Ouvimos as cascatas a chorar
Refrescantes águas à hora das Trindades
Tu e Eu

No silêncio do nosso mundo
As Almas no firmamento,
E nós, aqui na Terra.


Ofélia Cabaço

09 de Julho de 2014



O Mar

O mar, safira e esmeralda

Bordejado de franjas de alabastro,

Horizonte laranja, com reflexos de sangue

Aves e florestas brancas, flocos alvorados

Jardins de oiro e o silêncio com beijos:

 
Ao entardecer,

Nostálgico, reconciliador e amante

O mar…

Sonhos a pairar sobre mamas ondulantes

Braço abertos e olhos postos ao Amor,

Desejos do que teve, sem ter…

Cores exóticas, filtros do Sol

Brilhos ruivos com risos e cores

Anseios fulgores…

 

E, na aurora, o sonho renasce!

Sob névoa de saudade, enfim!

Sobe escada íngreme, tentado,

Por algas tontas com cheiro a mortos

De há mil anos sepultados, e,

Pés nus, e bocas desfloridas, jazem

Num passado com retorno ao Amor!?

 

O mar imenso, misterioso e belo

Raptor de vidas e sonhos!

O mar que eu amo,

Respinga minha Alma de Sonhos

Leva e traz os mais belos sons!

 

Ofélia Cabaço

 2014.07.18

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Fui, Não Sou!

Amei, não amei,
Vivi, sem viver,
Fui mãe, não fui filha
Morri muitas vezes,
Caminhei, não andei
Trabalhei, sem voz,
Fui razão, com razão,
Senti o meu sentir,
Rezei mil rosários,
Bebi segredos do rio,
Contei sem contar,
Transmiti dizeres
Pensei no pensar,
Semeei pensamentos
Fui feliz sem risos,
Depois infeliz, chorei!

Amei, não amei!

Saltei sem asas,
Sonhei com grandes asas,
Comi, não engoli!
Dormi acordada,
Acordei a dormir,
Fui anjo branco
Deusa de vestes rotas,
Fui demónio, sem mal,

Vivi, sem viver,
Fui mãe, não fui filha!

Fui fantasma e rouxinol
Assustei e cantei,
Fui marcela nos campos,
Prisioneira eu fui,
Entrei nos jardins proibidos,
Virei costas a portas,
Abri fechaduras ferrugentas,
Acendi velas sem luz,
Corri cortinados desbotados,
Deixei o vento entrar,
E, não entrei!

Caminhei, não andei,
Trabalhei, sem voz,

Vesti-me com sedas,
Fui princesa também,
De chita fiz saia,
Camponesa eu fui,
Criança não fui,
Sou sentimentos, apenas!.
Fui clara tremida,
Sem gema colorida.

Fui razão com razão!

Ofélia Cabaço, 2013-02-18