quinta-feira, 15 de setembro de 2011

OBSERVAÇÕES

Um dia, vinha eu no comboio Rossio- Algueirão, a conversar com uma amiga, acerca da falta de civismo que os portuguese têm em relação à higiene e aos cuidados de limpeza nas ruas dos nossos bairros, das nossas cidades e afins. Comentei que, hoje em dia, existe tanta informação que não chego a perceber como a geração mais nova   vendo televisão em quantidade muitas vezes exagerada,  sendo observadora no que  lhe convém, não consegue evoluir nesse sentido. Falei que a minha casa situa-se numa rua interior, onde não passam automóveis, essa  rua (que é a minha, onde moro) tem  flores e canteiros que eu, pessoalmente rego e trato na maior parte das vezes. Não obstante, agora que há uma escola secundária muito perto, os jovens nos intervalos das aulas ( creio que é isso) vão ao supermercado que também fica próximo e passando pela minha rua vão deixando os saquinhos das batatas fritas, as embalagens dos sumos, as latas de coca-cola e todo o lixo colorido de porcaria pelo chão........ será que são cegos?......será que são anormais?...... será que não sabem que o lixo não é para deitar no chão?. Todos os dias na televisão se fala disso, na escola fala-se disso, em muitas casas creio que se fala nisso........... o que pretendem esses jovens? Mesmo que tenham pais que  não estão preparados  para tal assunto, há a informação, há a aprendizagem do dever civico, há a escola, os professores etc,............ bom, a conversa era sobre este tema e a minha amiga vinha a comer um gelado e a partilhar o problema com algumas sugestões. Para meu espanto, quando a minha amiga acabou de comer o gelado, abriu a janela do comboio, ( naquela altura ainda se  abriam as janelas) e mandou o papel do gelado fora!!!!!!! Eu, não queria acreditar no que estava a ver!!!!!!!! depois....tenho mau feitio?
Ofélia cabaço - 2011-09-15

O Malmequer Roxo

No Domingo passado, observei uma cena comovedora na igreja. Foi celebrada a festa da Nossa Senhora da Boa Viagem, organizada pela comunidade negra, foi muito bonita e realizada durante a missa. Quando começaram a entrar as pessoas com os seus trajes de festa e com ar de muita satisfação, reparei numa senhora que trazia o seu menino pela mão, creio que deveria ter uns 5/6 anos sensivelmente.
Entraram em cortejo e de repente oiço uma voz infantil a chamar o tal menino, não percebi bem o nome, mas voltei-me e vi um quadro verdadeiramente cristalino de partilha e amizade, o menino que não era negro, ofereceu um malmequer roxo ao menino negro e disse-lhe: toma é para  a tua mãe! Senti o meu lábio inferior tremer,comovida! Agradeci a Deus ter-me ajudado a perceber que no coração daqueles meninos havia uma amizade e uma partilha que, se a sociedade onde estão inseridos os ajudasse, assim como as pessoas que os rodeiam, creio que, o futuro destes pequeninos seria bem mais risonho, envolto de camaradagem, de amor, de esperança. Assim se deveria construir novas sociedades onde as pessoas fossem extensivamente cumplices e edificadoras do bem para um mundo melhor, abolindo   para sempre com sociedades extemporaneamente evoluidas, partilhadas de demagogia e hipocrisia.

Ofélia Cabaço - 15 de Setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O BOLO DE ARROZ

Numa manhã cinzenta de Outono depois de dar o pequeno almoço á sua neta a Senhora Amélia conversou com a sua filha mais nova dizendo: Tenho de comprar o livro de francês para  a pequena " mon ami pierrot" mas não sei como arranjar dinheiro para tantas coisas.
A matricula, agora a consulta de oftalmologia, vou tentar comprar-lhe o óleo de fígado de bacalhau, pois ela é tão alta, tão magrinha, não gosta nada de comer......... estou muito apoquentada, só não queria morrer e deixar esta menina ao desamparo já que os pais nem se lembram que ela existe.......
A Senhora Amélia de seguida chamou  a neta para acompanhá-la até á praça, local onde fazia as compras quase todos os dias,  barafustava com os vendedores para lhe venderem a fruta e as hortaliças  mais baratas.... ( sempre tudo tão caro, vocês pensam que andamos a roubar)....... eram momentos de confusão para a sua neta que detestava aquelas conversas ofensivas entre vendedores e a sua avó. Ás vezes até lhe apetecia esconder-se dentro do cesto grande de vime onde um dos vendedores arrumava as pimentas malaguetas.
Mas ,naqueles dias, a avó sempre lhe comprava na padaria da  Rua da Arquinha um bolo de arroz, quentinho e com sabor a limão, muito saboroso. A neta adorava, se bem que, nunca lhe pedia  nada. Naquela manhã, depois de ter ouvido toda a conversa com a tia Joana acerca do livro, da carestia da vida e das preocupações da avó, decidiu tomar uma atitude relativamente ao bolo de arroz quando chegasse o momento daquele prazer tão assíduo.
De regresso a casa passaram na rua da Padaria, a avó entrou e pediu o bolo de arroz e a neta disse: Mamã, ( porque lhe chamava mamã) hoje não me apetece o bolo de arroz, não tenho vontade! A avó comprou o pão habitual e nada disse. Na subida da Rua da Arquinha encontraram uma amiga da avó, que pertencia à familia Rebelo, e a Senhora achou a neta muito alta, muito bonita, elogiou muitissimo os seus olhos e achou-a parecida com o pai que por sinal, disse, que  já não o via há muito muito tempo.  E, a avó no meio da conversa contou:
Sabe, esta menina é observadora e preocupada, imagine que antes de sair, estive a conversar com a minha filha Joana acerca das dificuldades que tenho tido em relação ás despesas e, possivelmente, ela ouviu tudo, então, é habitual eu comprar-lhe um bolo de arroz  e hoje ela disse-me que não tinha vontade, uma coisa que ela adora é o bolo de arroz, mas certamente não quis que eu  gastasse dinheiro. Veja só como ela é preocupada e assim faz-me sentir muito triste, minha rica filha......
Afinal, a avó percebeu o sentir da menina, mas nem sequer conversou com ela, depois contou o caso á Senhora Rebelo, como se ela ali não estivesse. Aquela avó era uma mulher muito esperta e muito especial, era o mundo daquela neta!
Os tempos eram assim, as pessoas tinham a capacidade de se perceberem sem grandes conversas.

Ofélia Cabaço - 2011-09-09

Aquelas coisas...............

Terminaram as férias,o trabalho recomeça em força. Sentimos que temos mais vontade de resolver coisas, especialmente aquelas coisas que ficaram penduradas no estendal de curiosidades sem formas e  certezas. Todos os anseios e conversas ficaram sem explicação.
Nesta nossa vida atribulada, onde a luta e a capacidade de fazermos muitas coisas nos assalta e nos faz  girar sem reflexão, sem sentido, só de quando em vez, uma luz nos faz clic e meigamente, serenamente, nos aquece a alma..............ficamos parados a olhar o vazio e a lamentar o que queríamos fazer e não fizemos, o que queríamos dizer e não dissemos...........
Somos cada vez mais, individuos/as calculistas, medrosos, desconfiados e estes adjectivos tomam conta de nós sem darmos por isso, porque o mundo, a vida, as pessoas surpreendem-nos em cada dia que passa. Não é isso que  queremos! Também, não vale a pena sermos liricos, mas é nossa obrigação olhar para quem gosta de nós e desfazer o tal estendal,   deixar  em seu lugar, mesmo que seja no ar, suspenso como um balão colorido e frágil, o tal diálogo simpático acompanhado de um lindo sorriso, sentados, momentaneamente felizes, num cadeirão com braços possantes e seguros! E, depois, á noitinha, quando o mundo sossega para adormecer , quando as pessoas param um pouco, rebuscam com mais serenidade os seus ânseios, espreitam com mais clareza as suas almas, escutam os seus corações, saboreiam com água na boca aqueles momentos! Aí há paz, há envolvência, há amor, há humanidade, há tudo!!!!

Ofélia Cabaço- 2011-Setembro-09