domingo, 29 de janeiro de 2017

Saudade de Ti

A saudade ordenou que dançasse
Subi a mais alta montanha,
Pedi a uma nuvem que te chamasse
Tu, ausente e eu sozinha...

Dancei em espaço ilusório
Muito perto, e numa paz profunda
Senti a tua mão..., o teu sono como um rio
Leve e melancólico em dolorosa onda

Dancei até que que o dia adormecesse
Veio a noite como um choro negro, nauseabunda
como mortas estações...
Trazer pesadas recordações;

Apertei o teu pião nas minhas mãos
Comparo-o ao teu silêncio
Agora, sem ti e sem irmãos
O meu Amor por ti, balbucio...

Ofélia Cabaço
2017-01-29





quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Chuva e Lágrimas...

Surgiu a noite chorosa
que a madrugada abraçou,
sobre a forma maravilhosa
do Universo...
e o dia molhado alcançou
brumas e cinzentos,
escondendo astros e sóis
e foi marco de encontros melancólicos
no silêncio das florestas,
catedrais, igrejas, altares e girassóis
tão tristes como triste é a prece
que em mim permanece...
É a voz titubeante que escuto
e me ordena o que a razão descontente
não consente,
A noite volta, sossegada,
traçando no ar rios e pontes
e minh´alma balbucia, cansada...
O choro das águas antes e depois de mim!

Ofélia Cabaço
2015-12-16








sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Meu Menino,

Olhei a tarde de tons laranja
Horizontes com intensos arvoredos
Embalavam seus ramos cor de fogo,
Vinha até mim imensa saudade;

Já não existem laranjais, nem jogo
De ninhos escondidos, e os segredos,
Que em tempos escondemos, são brumas
Impenetráveis, involucro de lágrimas!

Bateram na nossa janela ao amanhecer
Talvez fosse ninguém...
Não sei como te chamas no além
Só sei que morte não é nome, padecer

Sem ti é como ser terra de ninguém
É dar voltas e reviravoltas em todo o mundo
E não achar por onde entrar,
Qual é o teu nome agora meu menino?

O meu, sem ti, é Orvalho
E o teu, sem mim, será Hino...

Ofélia Cabaço
2017-01-10


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

DO DESEJO

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
HILDA HILST

1930-2004

Ana Arendt


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Partiste...

Despedimo-nos meigamente,
Recebi de ti uma carícia, naquela hora...
Com esperança no coração e força na mente
Beijei tua face quente...

Sem prever tão próximo o desgosto
Contemplei o sorriso em teu rosto
Lutamos... e, tanto adiamos a tua partida
Dolorosa ida...

Depois,
A tua cadeira vazia no jardim
Sinto-te ali, sentado...
As flores com sede, o jasmim
Amareleceu e a lavanda floresceu (…)

As tua fiéis amigas
Pululam em busca de migas
Todas as tardes o lamento das rolas
E, esta minha dor...

A Morte deu-te a mão
E apagou a última estrela no meu coração...
Só agora sei o quanto te amei!


Ofélia Cabaço
2017-01-02