domingo, 31 de março de 2013

ESCREVER!

Escrever é um dom
 
Onde não existe qualquer imitação
A Alma dá voz à inspiração
O pensamento rebusca egos,
                            solidão, condição!
O lápis não para, corre como rio,
                             à procura do mar,
As emoções, sucedem-se como flores,
            numa  Primavera abundante,

 Escrever é um dom!

A tristeza por vezes,
Alegria nem tanto,
Cisma por enquanto
Num instante cenas felizes,
Natureza enternecedora,
Idílio, imagem duradoura
Poesia vestida de cambraia
Choros com mimos de aia
Sentires inexoráveis,
Ansias e inclinações indeléveis
Amores de intenso ardor
Florestas densas, verdes de sua cor,

Escrever é um dom!

Desejos turbulentos de esperança
Voos de pássaros, quimeras e bonança,
Poesia genuína, clara, formosa
Como gigantes tílias, frondosas!
Deram sombra no Verão, foram abrigo,
O vento regressa timidamente monótono,
Rouba suas folhas para além de Vigo,
Despidas, as tílias recebem o Outono.

Escrever é um dom!

Orgulhosa a escrita com patrono,
Rejeita facilmente a genuina, de mansinho,
Como quem é cego e nada vê,
Nem um ai se ouve, fingidamente!
A escrita é rival,(.....) não tem mérito!
Para daltónicos, simplesmente preta,
E, ainda, para quem não tem dom,
                                  não dá rebentos,
Escrita rica de magia e poesia, tão empobrecida,
                                 p´los espíritos da ganância!

Escrever é um dom!

 

Ofélia Cabaço    2013-04-04




quinta-feira, 28 de março de 2013

Era uma Vez,

Sentimentos férteis, suaves colheitas,
Paixões envolventes em manto de flores
Sob árvores gigantes, vénias e promessas,
Teu rosto de mel espelhado na minha alma
Tuas faces rosáceas vibrantes de ternura
Semeador de amores foragidos
Tua voz, melodia angelical,
Devaneios como aves em ciclo,
Tua boca, quimera tentadora,
Insólita alegria!
Antes houvera amores como pétalas esvoaçantes,
Boninas e margaridas de casto aroma,
Leitos com lençóis de águas,
Quisera amar num instante!
Outrora jovem, bela, com perfume de magnólia
Sorrisos de primaveras infinitas
Cheiros de terra fecunda,
Apetites com sabor a melão, salivas,
Como salinas de neves temperadas,
Beijos com xailes de ternuras,
Idílios campestres na loucura da paixão,
Amor em campos de papoilas ondulantes;
Balbuciei teu nome vezes sem conta,
Morri e renasci em teus braços,
Balbuciei, amar-te até às nuvens!
Morri velhinha,
Voltarei um dia, serei azália rubra
Como rubro foi o meu amor por ti,
Protegidas pela tua sombra,
As papoilas contarão o nosso amor!

 

Ofélia Cabaço 2013-03-27

 

 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Despedida

Pai distante,
Culto de sonhos infantis
Herói do nada, vulto de mármore
Inspiração da criança,
Sombra a vaguear no passado
Razão sem tormentos
Mar de oceanos, mistérios!
Saudades dos baloiços,
Naquele lugar mágico,
Jardim António Borges
Árvores centenárias, garras de fúria,
Testemunhas de ternuras,
Récitas no paraíso dos funchos
Uivos de lobisomens amargurados,
Procuras nas cidades,
Tua casa, pai, na Rua dos Pinheiros,
Rodeada de solidão,
Borboletas intrusas, mesquinhas!
Passeios de moribundos,
Onde estavas?
Chegaste um dia, tão tarde,
A neve caía, fantástica, como uma noiva,
Conversamos, pegaste na minha mão,
Em silêncio, fitaste-me, sério, comovido!
As lágrimas dançaram rumo aos corações
Preencheste o vazio das nossas vidas,
Num instante vivemos, isso, ninguém nos rouba!
Despedimo-nos Pai, desta vez com todo o amor,
Morreste dias depois……………………………….
Deus foi justo proporcionando aquele instante,
Obrigada!

 
Ofélia Cabaço - 2013-03-22

 

 

Reencontro

Nos jardins do  Éden
Sob abóboda de cristal,
Conversaram  Wild, Dickens, Rajás,
Princesas prisioneiras, ciciaram poesia
Com o nosso  Quental, príncipe da nostalgia,
Wilde contou aos presentes a história de Narciso,
Dickens, socorreu miseráveis e  esfomeados
Insinuaram-se Rajás das províncias de além
Donos de belas mulheres no harém
Símbolos de fantasias sofridas, dormentes,
Refugiados na Torre sem portas,
Quental amargurado, bebia ansiedade,
Juntos visitaram fósseis de poetas esquecidos,
Assistiram a concertos fabulosos,
Aplaudiram  Mozart, silenciaram Wagner!
Voaram até Louvre, pela calada da noite,
Visitaram óleos de espantar, vénias a:
Ticiano, Goya, Rubens, Miguel Ângelo,
Ao luar, na noite sensual poetizaram,
Sob teto  de  constelações invulneráveis,
Amaram em Moulin Rouge,
Homenagearam o cientista Pasteur,
Encontraram numa praça Eça a divagar,
Perdera o óculo e com ele a visão;
Fugiram de Balzac, das conversas  escabrosas,
Quental com traços de príncipe florentino
Reclamou sua identidade açoriana,
Refugiou-se no silêncio da Sorbonne,
Admirou com veemência, Marie Curie
Sofredor, de todos era o de melhor tino,
Mais um voo, estavam na Regaleira
Na capela, conferenciaram com os anjos,
Wilde, encantou nobres com suas histórias,
Senhoras fascinadas, abanavam seus leques,
Por fim, na mesa de jantar do Palácio da Pena
Récitas de donzelas  com desgosto foram mote,
Nos salões arrefecidos pelas intempéries,
Aplaudiram génios e cabeçudos,
Ao piano, Chopin ficou esquecido!
Ao som da marcha fúnebre, Schuman
Assoprou personalidades de volta às sepulturas!
Saltaram ansiosos, cidades, arcos e monumentos,
Então, recolheram –se na santa paz eterna!

 
Ofélia Cabaço, 2013-02-24

 

Má Língua

A minha poesia é pobre,
Apraz-me dizer o que penso
Não tem língua maligna,
Respira natureza com defeitos
Alberga lugares de fantasias
Sonhos impossíveis em mundos de mal dizer
Na minha alma balbuciam crianças,  Amor!
Com sorrisos de Arlequim
Ninfas dançam à volta de mim,
Há um albergue na minha alma
Que protege velhinhos descontentes,
Na minha alma o fogo derrete gelo,
Sonhos de jovens pintam a óleo,
Vagueiam mulheres libertas de correntes,
Há aromas de rosmaninho,
Cores de urzes corajosas
A minha alma não tem malicia,
E, pobrezinha!?!
Multiplica a dignidade,
Presenteia a Liberdade!

 
Ofélia Cabaço 2013-02-25

REBENTOS

Mãe que concebe o Ser
Alegria transbordante,
Nove meses insondáveis
Surpresas inesgotáveis
Invasão do coração
Com sensações indeléveis
Diferentes nascimentos a despertam
Ouve deleitosamente a Mãe  Natureza
Repara com doçura nos rebentos,
Escuta o rumorejar das folhas,
Ali, uma ervinha nasce sossegadamente,
Acolá, um ninho de pássaros ergue-se
Existe Amor no ar!
A Mãe come limões azedos,
Mas não! São delicias de desejos,
No silêncio perscruta reviravoltas,
O pequeno Ser dá resposta às emoções,
Ouve Mozart, Vivaldi, lê Pessoa e,
Ele gosta, aconchega-se junto ao umbigo
A Mãe embevecida, emociona-se!
Toca-lhe através da sua barriga
Imagina-o a sorrir,
Penteia seus caracóis de olhos fechados,
Veste-lhe o bibe guardado no baú,
Ensina-lhe a tocar na terra,
Corre com ele no parque,
Adormece-o ao som de baladas
Pensa; Se for menina rosada,
Chamar-se-á Flor, terá laços,
No casaquinho uma joaninha bordada
Deus, Milagre das coisas,
Mãe, o centro da sua vida,
Sou Mãe, amo ser amiga!
Mãe! Talvez tenha tido, em algum lugar,
Avó sim, na maravilha dos afetos,
Vou ser como tu minha Avó!
Muito baixinho te digo: Vou ser Avó!
O mistério do encantamento!

 
Ofélia Cabaço 2013-03-222

 

sábado, 16 de março de 2013

A Nossa Ilha

Num cantinho em S. Miguel
Nasceu o grande poeta Quental
A joia da poesia com cabelos cor de mel
Olhar profundo como o mar, neura fatal!

 Ilha, mãe de génios
Canto, Teófilo, Natália e demais
Com valentia afugentaram demónios
Alargaram horizontes e pintaram vitrais

Quental deixou-nos delícias
Poesia e amores sem malícias
Teófilo, honras de presidente
Canto, voluntarioso, plantou semente

Quental foi doce amigo, mente divina
Sobre sua alma passeava a neurose
Arrumou no coração a sua bela Rose
Cultivou sofrimento na dor materna

 Nesta ilha de estranha voz muda,
Escondem-se piratas perdidos
Em moradia de saudade aguda
Jazem glórias de anseios límpidos

Canto e Borges nos jardins adormeceram
Ao som de nascentes, colhem açucenas
Assopros de sementes caídas
Sonhos desfeitos, filhos nasceram,
Surgiram palcos com outras cenas

 lha de mística beleza
Albergue de velha franqueza
Enfrentou mares com tempestades
Aquietou vulcões e recebeu majestades

Enxotou piratas duvidosos
Salvou barcas abandonadas
Agasalhou frades piedosos
Desbravou rochas desprezadas

Todas as noites a nossa ilha
Envolvida num manto de bruma
Descansa numa paz maravilha
Soberba por ser uma dama.

Ofélia Cabaço 2013-02-08

 

PROCISSÃO DA FAJÃ

Ao som da banda segue a procissão,
Nossa Senhora da Oliveira de mãos postas
Com olhar triste, manto azul
Implora clemência para todos nós,
O povo em silêncio ouve o sermão
Os sinos da igreja dançam com o sacristão
Redobram ecos em redor da freguesia,
Raparigas com ramos de violetas
Caminham lentamente atrás do andor
Ouvem-se orações, batidas  no tambor,
Nas janelas, esvoaçam colchas de muitas cores
Hortenses e açucenas, tornam as varandas vaidosas,
Ramos de criptomérias misturados com camélias,
Atapetam com aromas a rua direita……………..
A música mistura-se com o cheiro dos incensos,
O Senhor Espirito Santos permanece nos corações
Grupos de estudantes marcam o seu passo,
Com vestes negras, as viúvas sentem emoções
Escondem seus rostos nas mantilhas de rendas,
Choram, maldizem alegria efusiva,
Desejam paz aos seus entes queridos;
No arraial, o povo passeia suas vestes,
As velhas rezam junto ao coreto
Desdenham em sussurro,

                      A pobre porque é miserável,
Bajulam a rica com sorrisos contrafeitos,

                      Têm receios, nada há a dizer!
As crianças levam puxões de orelhas,
São muito riquinhas, a travessura é demais,
Aquela ali, vai de branco, virgem já não é,
Foguetes disparam lágrimas de fogo,
Rostos embevecidos, sobem nas nuvens,
A Senhora da Oliveira vestida de sécias
Resplandecente, na Fajã é padroeira,
Sempre acompanhada por anjinhos,
Protege as crianças de todo o mundo.
No final em uníssono dizem as velhas:
 Ei mulhé,  louvado seja  Dês!

 
Ofélia Cabaço- 2013-02-23

 

Amnésia

Custa-me perceber o abandono
Das coisas, das pessoas, do amor,
Umas vezes corajoso, outras cobarde,
O abandono….
Como era alegre olhar-te,
Cabeça altiva, sorriso de mel,
Porte de cavaleiro andante………
Razoabilidade, certezas, incertezas,
Embevecida, adormecia imaginando
Príncipe dos meus sonhos em favos
Num corpo de uma gentil velhinha,
Acordava metamorfoseando palavras,
Ingénua, enganei meu coração,
Briguei com a razão, e chorei!
Zanguei-me naquele reino sem rei,
Fiquei a olhar o vazio, o além………..
Uma luz no horizonte piscava,
Sosseguei borboletas em meu peito,
Sentei-me no beiral dum moinho sem velas,
Dependurei minha alma ao vento,
Esperei, por nada, acorrentei meu voo….
Na nascente barulhenta, molhei meus lábios
Saciei minha sede, refresquei minhas mágoas
Vi um lenhador, colocou ripas na minha dor,
Estavam verdes, não acenderam…………….
Como as uvas da raposa, não prestavam!
O abandono do nada, de ninguém,
Esqueci-me de mim!
Não sei quem sou;

 
Ofélia Cabaço 2013-02-25

 

 

Prefácio do meu livro de poesia

A poesia é a essência que nos ajuda a respirar. Consigo amar, porque na minha Alma mora a poesia, e, mesmo ao lado, o Amor. A minha Alma tem telhas de humanidade, por isso sofro, por isso sou, e serei sempre irreverente. Na mesa da minha alma há lugar para todos, há partilha e amizade. A minha Alma tem um portão que não é de ferro, apenas, vestido de jasmim para a amizade e, envolto de heras para a ingratidão. Na minha Alma vivem sorrisos de crianças e balões de muitas cores. A minha Alma tem pensamentos que pensam no pensar dos idosos, dos que nada têm, e muito trabalharam. Na minha Alma não mora o ódio mas por lá vagueia a mágoa.
 
Ofélia Cabaço - 2013

 

Foice aos Sonhos

Dois vultos olham-se
Perdidos num reinado sem folhas
Olhares profundos
Ninfas entorpecidas
Vidas sem rumo
Amores platónicos
Sorrisos de palhaço pobre
Sonhos às piruetas
Saltos sem pés
Voos sem asas
Flores sem pétalas
Pintores sem telas
Poetas adormecidos
Operários sem máquinas
Lojas sem portas
Polícias sem armas
Palácios sem reis
Povos amedrontados
Crianças com fome
Nascentes murmurantes
Oficinas sem som
Corações dilacerados

Dois vultos olham-se

 Amor em silêncio
Afagos proibidos
Caminhos sem fim
Lábios trémulos
Rostos com lágrimas
Jardins sem flores
Pássaros assustados
Ambições desfeitas

 Dois vultos olham-se…..

 
Ofélia Cabaço 2013-02-27

 

 

 

Beija- Flor

Beija- Flor espreita a Primavera
Idades floridas houvera,
Brincos de princesas de cor escarlate
Vestem muros de pedra e abacate
As asinhas de beija- flor efusivas e frenéticas
Depenicam aqui e acolá, com desejo apressado,
O Sol incide doirado em seus longos bicos
As flores incomodadas murmuram,
Beija- flor saltita da begónia aos brincos,
Uma cantoria primaveril com sabor a mel,
A natureza acorda, flamejante de aventuras,       
Desperta montes e vales
Vestida de verde, assiste aos bailes,
Groselhas ruborizadas babam-se
Nas latadas das quintas soalheiras
Matam a sede com sumos cor-de-rosa;
As formigas saem das tocas,
Borboletas bebem pólen das amendoeiras
Abelhas deliciam-se com flor de alecrim
Melros aos pares, repoisam nos beirais
Uma pedrinha redonda dança no ribeiro
Joaninhas apaixonadas, dormem nos roseirais
A primavera generosa traz alegria e beleza
Toca na terra com semente e leveza
Engradece o sorriso das crianças,
Colmata saudades com boas lembranças
Beija- flor, dança num redopio estonteante
Adormece num galho aqui e além, radiante!

 
Ofélia Cabaço 2013-03.

 

 

 

  

Para Além do Azul!

Vivi momentos inexistentes,
Formas com existência de alma
Percebi a natureza das coisas
Não havia corpo resistente
Apenas abandono metafisico
Toquei-te sem testemunho
Converti-me em crisálida
Senti-me unanimemente aceite
A voz sem ordenação do além,
Disse ser uma boa amiga
Sucederam-se diálogos,
Constituímos um singular segredo
Aceitei sua simpatia humana
Quem és tu? De mim para mim,
Pensei seres apenas forma,
Amei o infinito, parei na porta,
Não sei o que sou,
Existência do facto!
Ou talvez a Alma das coisas!

 
Ofélia Cabaço 2013-03-16

segunda-feira, 11 de março de 2013

MULHERES

Um dia acordas cansada, as vozes acutilantes
Vidas embaladas por colossais maremotos,
Invasões  cruéis por mãos de cascavéis,
Algo nos diz que fomos traídas, injustiçadas,
Até há pouco, vivíamos com relativo sossego,
Respirávamos, pensávamos, imaginávamos,
Não falávamos, não tínhamos voz,
E, tudo corria, com lentidão é certo!
Sem darmos um passo, algo nos invade,
Que fiz eu de mal? Perguntamos;
As águas furiosas arrasam expetativas,
As árvores tombam,
Os telhados voam,
A água que era branca, cristalina……………
É negra, mudou de cor, não percebemos!
Esfomeada, engole tudo em redor,
Demora a cansar-se de fazer tragédia
De repente retrocede, devolve destroços,
Arrependida volta para o seu leito azul
Fica escutando os choros de adultos órfãos,
Sentamo-nos no alto da vida,
Observamos pântanos lamacentos,
Destruição da instrução,
Comboios que não param,
Mulheres que acenam a nada, sem nada!
Campos hostis,
Terras magras;

Stop………………………………………………

Saltamos do topo da angustia,
Serenamos espíritos,
Gritamos: Vivas,
Caminhamos em cordão
Gesticulamos com anseios,
Juntas, batemos às portas,
Abrem-se janelas,
Trabalhamos, construímos,
Semeamos, plantamos,
Sorrimos com mágoa,
Abraçamos Esperança,
O Sol brilha,
As flores rebentam,
Os telhados voltam,
As árvores juram ficar de pé,
As crianças correm,
Os sinos badalam,
Prosseguimos até tocar as nuvens,
Choramos para regar os campos,
Erguemos tudo o que é preciso,
No fim, serenas as mulheres amam,
Entrelaçam trigo sem joio!
Respiramos Liberdade,
Abraçamos Dignidade,
Cultivamos Igualdade,

 Aprisionamos crueldade!

SOMOS MULHERES!
Força, finalmente!

Ofélia Cabaço 2013-03-10