segunda-feira, 25 de julho de 2016

Papel e Tinta

Uma folha vazia de letras

Sem qualquer sentido…
Como quem espera uma disputa
Jaz moribunda de cansaço,
O tinteiro azul de aparência
Secou a sede da sua essência
A escrita viajou, sem piedade
Deixou silêncio e inspiração
Tudo permanece sobre a mesa,
O vento folhas leva, sôfrego!
Gemem as árvores despidas
Uivos de esfomeados lobos
Ecoam da floresta a casa,
Aonde houvera flores e amores
Apenas sombras vagueiam
O vazio, e a folha, e o tinteiro
A solidão, inspiradora, lúcida,
O amor, a poesia e os anseios
Suores, humidade e frio
Os medos (…)
A mesa despida de esperanças
E a vida que dorme, imune,
Aos caminhos da injustiça
Às intempéries dos Invernos
Até que acorde numa manhã
Radiosa com risadas compostas;

 

Ofélia Cabaço,  2013-10-17

 


domingo, 24 de julho de 2016

Desde Que Sou, Amo as Casas...

Porta,
Entro e lá dentro tenho asas
Pão, flores e um alpendre é a minha casa;
A mesa e uma jarra, toalha branca
Cheiro de alfazema, livros no chão,
É d´gente o coração;

Janela,
Contemplo a paisagem
Vislumbro os poentes
Sinto encantamento e Beleza
No que mais gosto na Natureza,

Caminho,
Aquele que me leva aos rios
Calado e sinuoso,
Sem que me veja o rosto
E lamente o meu desgosto...

Pensamento,
Prossigam meus delírios
À descoberta do Majestoso,
Que os leve o vento na asa
D´ave que não tem ninho, casa
Eu tenho e um silêncio miraculoso;

Ofélia Cabaço
2016-06-24


O Universo é um Sério Caso

O céu é azul
A terra é furta cores
Consoante meu coração
Pendendo alegrias e dores

Verde tonalizado é a vegetação
Pululam as formas, rompem os lilases
E os entes vegetativos felizes parecem
Malmequeres emergem (...)
Tantos, à beira dos pinhais

Madressilvas e amoras silvestres, ais
Sob decrépitos muros …
Rosas carmim e prados roxos,
São beleza triunfante nos frios matagais

Manhã radiosa, pomares maduros
Jardins regados e um Sentir regalado
Hortenses e lírios lado a lado...

A varanda,
Um pensamento, uma flor, um só vaso,
O Universo é um sério caso.

Ofélia Cabaço
2016-07-24



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Árvores da Minha Terra

Oh! árvores da minha terra
Digam-me se por aí passou meu amigo
Aquele que um dia de mal comigo
Chorou sozinho a minha despedida

Junto à beira duma escura serra
Numa noite d´agonia, repetida
Em queixumes e desenganos, ida
Minha, dor incrustada em meu peito (...)

Enquanto o vento e o mar alevantaram
Barcas e velas, trémula e sem jeito
De ti me despedi...

Digam-me se por aí passou meu amigo
Oh! árvores de sã raiz, dizei-lhe:
Que todos estamos sós na Terra.


Ofélia Cabaço
2016-07-22


quinta-feira, 21 de julho de 2016

Tarde ( Verão 2016)

Nesta cadente tarde
Em que o poente arde
Com suas cores convergentes
Aos jardins e pomares,

Laranja, ameixa, carmim e flores
São dentre amores o néctar
Que eu sorvo, perfumado alimento
À minha boca e sentimento,

Nesta tarde finda, bucólica,
A mim só me resta
Correr sobre as ervas da pradaria,

E, doida, agarrar o vento
Que traz inquietação ao pensamento,
Sentar-me por fim na pedra megalítica,
deixando-me, ali, até que fique tísica….

Ofélia Cabaço
2016-07-21



quarta-feira, 13 de julho de 2016

Epifania

Já o Sol ia alto
Alegrando o estendal...
Ser feliz é vital
Neste mundo em sobressalto;

Acordei:
O Cosmos contemplei
O céu azul amei
Dançavam as árvores
O vento trazia odores,

Silêncio...

Pássaros e asas quietas,
Flores e ventura, borboletas
Ardentes, efémero instante (…)
Que minha soledade visitou,

Esplendorosa visão que me encantou
E me volveu rosa radiante...

Ofélia Cabaço
2016-07-13

quarta-feira, 6 de julho de 2016

O Teu Olhar

Não sei onde encontrar o teu olhar
Se até teus olhos perdi, sinto
A mágoa nos meus, pressinto
Que os deuses não me deixam cansar;

Nos dias vivo a pensar
A vida minha delirante,
A Terra imensa, Universo distante
Eu penso,

Tu e eu, sepultados, dormindo e desdormidos
Enlaçados num etéreo abraço, instantes
Em que ouvimos o suave pio das aves, pendentes
À beira do sepulcro, acácias e roxos lírios, assumido
Noivado em homenagem ao nosso leito d´amor...

Penso ainda,
Fui feliz pensando e pensar que penso
Torna-me grata Àquele que tudo pode,
Pensar em ti foi dissipar mágoa e torná-la Ode...


Ofélia Cabaço

2016-07-06

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Em Terra Vermelha Crescem Estevas,

Às vezes,
Sinto um temeroso desnorte, análogo
Ao caudal de um rio flutuoso (...)
Suas trepidas águas em dispersão,
Nos meus sentidos, amiúde, uma ilusão;

Perceciono,
Consolo e uma luz duradoura, formoso
Sonho que me embala em doce diálogo
E a Forma delineada da Esperança
Garante-me presença viva do Universo;

Às vezes,
Criança eu sou para alívio d´agonia, malogro
Efémero no seio do meu peito magro,
Sob a luz crepuscular tateio, cismada...

Visiono,
Sombras e as “coisas” fugitivas...
Alargar o estreito caminho eu tento,
Cultivar searas almejo, ondulantes estevas
E rubras papoulas para meu contentamento (...)

Pensamento,
Que me assiste fixo e lento...
Busco poesia e música, ária
De um só poeta esquecido na Pátria.

Ofélia Cabaço
2016-07-05






domingo, 3 de julho de 2016

Liberdade

I.
Eram muitas as folhas
Desde antes do Tempo
Árvores ancestrais, campo
Coberto de mistério, desamparo
Da folha e sua haste que não sofreu aparo (…)
Caíram as folhas, cativas e velhas;

II
Árvore intensa em volúpia vernal
Em si floresciam botões, perfume
E jasmim isolados por densa bruma,
Encanto que incendiava as flores uma a uma,
No fim do fim prometido, afinal...

III
Borboletas dançavam em plenitude
Verbalização mística e um bater d´asas
Ali morava a Voz, profunda solicitude
Ao Amor e à Verdade...

IV
O Mundo e sobre rochas suas casas
Cárceres de gente que ouve gentes
Nem uma só flor,
Horizontes sem cor...

V
Sonhei ser uma flor
Num belo jardim cativa
No meio de tantas outras, altiva,
Saltei e corri, corri e saltei,
Canteiros e grades enfrentei
Às minhas irmãs convidei
Saltamos e corremos, corremos e saltamos
De mãos dadas,
Liberdade prometemos...

Ofélia Cabaço
2016-07-04