segunda-feira, 30 de março de 2015

Contemplação

As árvores dançam voluptuosas
Cantam com o suave vento primaveril,
Estação despida e não menos formosa
Descontente ela anseia o Sol viril,
Magnificente …
Paragens verdes com vinhas a florir
Prados onde papoilas vermelhas ondulam
E viçosos milheirais se erguem ao firmamento,
Planícies e montanhas exultantes à luz dos astros
Até que a aurora acorde serena, apaziguadora
Na frescura e envolvência da cor pérola
Como é imenso o movimento no Universo
 Regulamento do Sentido para os sentidos…
Comove corações que escrevem versos
Compleição poética e a beleza exuberante
Com adoráveis matizes e jardins plácidos
Como deuses vestidos de pureza, Natureza
Florescimento de sementeiras, terras e templos;
Montanhas cobertas com mantos cor d´ameixa
Sob um auricerúleo evolutivo ao entardecer…
Contemplação pujante de cores e cantos
Poesia que embala meus dias e não me deixa
Declamando a minha sina a cada canto
Sinfonia harmoniosa de aves aos bandos
E onde não existe voz que perturbe a minh´alma…
Apenas a primavera e o vento no silêncio costumeiro

Ofélia Cabaço
2015-03-30
  








Virgem Maria


Pedi à Virgem Maria para me proteger,
Ajoelhei-me, rezei e desejei sua filha ser,
De rosto resplandecente Ela sorriu!
Sussurrou-me que o seu amor era imenso,
Trazia no peito uma cruz de madeira,
Túnica alva vestia e na cabeça coroa de incenso,
Em suas mãos poisavam flores de amendoeira
Não usava meias de seda…
Nem sequer sapatos calçava,
Era linda, oferecia perdão, luz e dádiva,
Seu coração de amor transbordava
Aquele olhar doce… a Virgem possuía,
Sua voz caridade!
Pecadora eu balbuciava Amém
Maria, minha Mãe, acenava-me,
Deixou-me  confiança,
Envolta num coro de Anjos subiu aos Céus
Sob um sublime som de Ave-Marias!

Ofélia cabaço 21-12-2012










sexta-feira, 27 de março de 2015

www.mundoacoriano.com



Abraço ao mar
As diferenças aquando da minha chegada ao Continente foram inúmeras. Vitorino dizia: “ aonde quer que vá, o açoriano carrega a sua ilha às costas”.

Embora tenha ido viver a 50 kms de Lisboa, numa terra chamada Olelas, perto de Almargem do Bispo, senti diferença em quase tudo o que diz respeito às nossas origens e hábitos. Era uma zona rural, com tudo o que eu via de natural nos desenhos e nas pinturas de então, mais ainda, do que na realidade rural de S. Miguel.

Aquelas pessoas viviam fundamentalmente da agricultura, gente com coração de ouro (todas aquelas que não tinham qualquer vínculo à família de meu marido) foram extraordinariamente gentis comigo. Era um local que não tinha água canalizada nem eletricidade.

Até ali nunca tinha feito nada de especial no que diz respeito à lavagem da roupa e tampouco ao passar a ferro; tinha dezoito anos, estava grávida, vinha duma cidade onde todos nos conhecíamos e não me lembro de ter alguém que não gostasse de mim e me não estimasse. Senti uma saudade que quase me derrubou no ser e forma espiritual. Tínhamos em Ponta Delgada, desde que me lembro existir, água canalizada e eletricidade, apesar de nos anos sessenta a vida ter sido muito difícil, pois tínhamos carências de quase tudo no plano económico e político; as nossas tradições e a afetividade eram sobremaneira cultivadas e sentidas. Sempre soube ser uma menina muito amada pelos meus tios, tias, primos e avó, pois não tinha os meus pais. Foram eles que me criaram, amaram e me deram tudo quanto lhes foi possível numa época tão difícil para se viver.

Por conseguinte, a primeira diferença e a mais penosa, foi a de ter de lavar a roupa num tanque que se situava junto a um poço, e que para isso, tinha de tirar baldes de água para encher o tanque. Depois, para passar a ferro a roupa, tinha de ser com um ferro de carvão; eu desconhecia totalmente como fazê-lo, não fora as pessoas tão gentis e amigas, naturais daquela aldeia, que me ensinaram experientemente como
utilizar um ferro a carvão, seria muito complicado para mim.

Em relação à falta de luz devo dizer que não senti ser assunto tão problemático, quanto a falta de água, na medida em que, deliciava-me jantar com o meu marido e fazer serão à luz do candeeiro. Inspirei-me de tal forma na época, que reli os clássicos, Aquilino, Torga, Camilo, Eça, Júlio Dinis, Garret, Herculano, Antero e outros.

Olelas, era um lugar campesino, com prados atapetados de malmequeres e marcelas, especialmente no tempo primaveril. Havia uma vacaria onde as vacas, nada tinham em comum com as que eu estava habituada a ver nos pastos verdejantes da minha ilha, e os campos com hortas eram imensos. Lembro-me, agora com saudade, que havia um campo de trigo juntinho à minha casa; passei algumas horas a admirar aquela seara doirada, deliciava-me com o cheiro a terra, o deambular das espigas e os cheiros da natureza. Mas, e o mar? -, não via nem ouvia o mar, lembro-me muitas vezes de sonhar que estava no Clube Naval de então, em Ponta Delgada, junto ao paredão da avenida, com os meus amigos “Rebelo” e com o Capitão Bulhão Pato e seus filhos, a ensinar-nos a nadar nas manhãs fresca da cidade, como tinha sido habitual. E o tempo? Aqui um frio indómito, as minhas mãos cheias de frieiras, a chuva intensa e sistemática, a minha angústia, as saudades… foi mesmo muito difícil deixar a minha ilha. Nas tarde mornas de primaveras calorosas, tudo o que me animava, eram longos passeios pelo campo, poetizando numa sucessiva briga com a saudade.

Nos arredores daquele povoado, havia várias fábricas, muito recentes, pois ali a mão-de-obra seria muito mais barata, e para além disso, era conveniente para os administradores edificar novas sedes na periferia de Lisboa. Com esta “moda” reparei que as pessoas que lá trabalhavam, apesar de baixos salários, tinham beneficiado com novos hábitos de sustentabilidade, e assim sendo, as suas vidas melhoraram proficuamente.

Na semana seguinte à da minha chegada, fui inscrever-me numa fábrica; mandaram-me ir trabalhar no dia seguinte. Trabalhei lá durante vinte anos. Comecei pela oficina, uma vez que naquela altura havia só aquela vaga; oito meses mais tarde fui para os serviços administrativos, começando pela secção de Métodos e Tempos; passados uns meses, fui para a contabilidade, onde estive durante nove anos; mais tarde fui convidada a secretariar o Diretor Financeiro, e assim sendo, até à falência da Fábrica aí trabalhei. Foram anos de muita convivência e muita afetividade. Conheci muitas pessoas e tenho um imenso carinho por todos quanto lá trabalharam comigo. Durante este ingresso tirei alguns cursos, muito especialmente na área de Informática, Organização Industrial e Novas Tecnologias. Após a falência da Fábrica em 1988, respondi a um anúncio para secretariar Advogados com escritório em Lisboa; fui chamada e fiz durante uma manhã os respetivos testes para a ingressão no escritório, e, naquela tarde disseram-me para ficar.

Trabalhei até há pouco tempo com advogados; neste momento estou dedicada ao meu curso de Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa e à minha escrita.

À medida que a minha idade avança, cresce o desejo para ir viver numa das ilhas dos Açores. Tenho paixão pela ilha de S. Jorge, não a conheço, mas a minha avó paterna era de lá, e quando li “Mau Tempo no Canal” do nosso Vitorino, acalentei este desejo até hoje. Sei que os tempos estão mudados, mas creio que ali, ainda haverá muito de genuíno.

Um abraço para todos os açorianos, onde quer que estejam, sejam felizes.

Ao mar da minha terra: 

Aquela pedra grande
Tão pequena para o mar
Rodeada de conchas e pedraria
Confidente de tormentos e choros
Quieta, esbofeteada pelas ondas
Com muito para contar, segredos!
Sentei-me a seu lado, ouvi!
Uma gaivota a troçar, liberta,
Sobrevoava o imenso azul
A pedra murmurava o abandono
Desejava pertença de um dono
De todos, era ninguém
Disse-lhe não saber a quem pertenço
Esqueci-me de onde vim,
Sei apenas para onde fui,
Longe, longe estou cansada
Não alcancei amor, morri no caminho
Deixei para lá um rio de lágrimas
A sede bebeu-o, morreram os nenúfares!
Ninfas desoladas,
Vou envolver-me numa lágrima, apenas!
Oiço o mar, saboreio o sal da vida,
Deixo-me pentear pelo vento, carícias,
Encho minha alma com som de sereias
A pedra almofada no meu leito, ajeito-me!
Juntas homenageamos a Poesia,
Ao ritmo de baladas sonoras, as ondas
Abafadas sob longo abraço do mar
A pedra e eu, que nada sei de mim!
OFÉLIA CABAÇO
Aposentada, estudante de Filosofia
Natural de Ponta Delgada, residente em Sintra
26-03-2015

segunda-feira, 23 de março de 2015

Abril

Abril sacode os dias com chuvas mil
E as tardes timidamente quentes
Se misturam na doçura revigorante
Duma névoa de lágrimas..., uma subtil
Natureza que oferece pombas e Sol
Minh´alma e o sabor efémero da Paz
Trazem-me as mais belas recordações…
Íntimo sentimento cor-de-rosa com poesia
E flor de amendoeira, e eu, prisioneira
Das coisas que lembro… anestesia
Compacta que envolve o ar com cheiros
De alfazema e alvas japoneiras…

Os pomares que conheço, mealheiros
De insaciada natureza, inconformada,
Cemitério de vergel e o canto passageiro
Duma felicidade calada, desenganada…
Abril, a serenidade dos dias, levitação
Do real ao irreal,
O alimento dos meus sonhos, grãos
De trigo em mar de searas, o meu coração
Rejubila e papoilas ondulantes ao rubro
Das minhas ilusões, inclinam-se e se ajoelham,
Colorindo de vermelho exangue a minha seara…
E a verve tece preces que se ouvem na solidão
Do fim, aonde apenas UM  me escuta…

Ofélia Cabaço
2015-03-23



sexta-feira, 20 de março de 2015

Anjo

Colhi malmequeres e marcela
Numa planície algures,
Coroei uma cabecinha linda
Dona de um rostinho de anjo,
Fugi para longe com ela
À procura dum Arcanjo
Olhos azuis transparentes eram seus
Boquinha cor de cereja madura
Tranças negras ao vento, ai jesus!

Colete turquesa possuía, pura
 Era sua alma de criança,
Fiz pomar com pêras sumarentas
Jardim com flores e borboletas
Alpendre de glicínias para sombra
Estufa espiritual, tal e qual nuvem luminosa
Verdes campos com papoilas enganosas
Para lá do muito longe, jazem
Tombadas como círios derretidos
Em fim de procissão, assim dizem,
 Respiramos oração e harmonia
Ouvindo som de clarim em agonia
Clamando a aurora de um novo dia
Como tocha que aos corações alumia


Ofélia Cabaço




2015-03-21




quinta-feira, 19 de março de 2015

Nossa Senhora e o Rouxinol

Certa noite quente de Maio, passou Nossa Senhora por um caminho estreito que levava a uma esplêndida vinha. Estava luar e  a noite era de uma plena serenidade; de repente, a Virgem Maria ouviu no silêncio o piar aflito de uma ave; era como se fosse uma queixa apelativa.
Com pena, Nossa Senhora correu para o sítio de onde vinha o choro, e deparou com um rouxinol preso pela gavinha da videira.
Então, Nossa Senhora com as suas mãos hábeis, desenrolou as patas do rouxinol livrando-o do enleamento das pontinhas da videira, e suavemente, recomendou-lhe que não mais se deixasse adormecer enquanto crescessem os fios esguios da videira. Feliz, o rouxinol voou até ao mais alto, num agradecimento à Virgem, finalmente estava livre e podia voar...
Desde então, o rouxinol canta sempre de noite para não adormecer, e em forma de gratidão, os seus gorjeios são assim:
Nossa Senhora disse… disse… disse…
Que, enquanto o gavião da videira subisse, que não dormisse, que não dormisse… que não dormisse…
Nas noites, quando ouvires o rouxinol cantar, tenta escutar:
Nossa Senhora disse… disse… disse…

Ofélia Cabaço

2015-03-19


Foice aos Sonhos

Dois vultos olham-se…
Perdidos num reino sem Vida
Olhares profundos, mãos sem lida
Saudade da Saudade que viria…

Ninfas entorpecidas
Vida tortuosa
Amores platónicos
Poetas adormecidos
Sorrisos…
De pobres palhaços,

Dois vultos olham-se…

Sonhos e piruetas
Saltos e pés
Voos e asas
Flores e pétalas
Pintores e telas,

Dois vultos olham-se…

Operários sem máquinas
Lojas sem portas
Polícias sem armas
Palácios sem reis
Oficinas sem som
Povos sem casas
Crianças sem amor

Dois vultos olham-se…

Amor e silêncio
Afagos e mágoas
Caminhos e pedras
Mares e horizontes

Dois vultos olham-se…

Lábios trémulos
Rostos ansiosos
Uma só flor…
Roxa de sua cor
Como um mancha no sonho



Ofélia Cabaço
 2013-02-27




quarta-feira, 18 de março de 2015

Ensinem-me

Ensinem-me a viver em sociedade

A lição seria sorrir à impiedade

Deixar de usar a franqueza, num faz de conta

Dar, dar e voltar a dar e não corar,

Rir muito, manter poses e não narrar

Ajudem a esquecer as afrontas

 Viver e não ouvir o meu sentido

Ao invés, concordar com o absurdo

Abanar a cabeça como louca e surda

Esquecer valores e ideais mantidos

 Ouvir conselhos tísicos e vivas de idiotas

Enredar-me na ganância dos agiotas

Parecer bem sem bem-querer, ensinem-me!

Ser fachada no meio da confusão

Ser gente sem qualquer estimação,

 Os meus ideais manchados de tintas

Com pinceladas de vassouras sujas

Na verdade ser uma finta

Ceder a morte à minha alma

Ensinem-me!

 Ser fantasma no mundo e vivalma

Beber em chávenas que não têm chá (..)

O chá!

Ensinem-me tudo quando eu for muda

Orientem a minha mente para o que há

 Não apaguem nunca, a minha poesia!

Deixem-me escrever a minha essência

Fazer de conta é não ter azia

Meu coração não aguenta mais paciência!

 

Ofélia Cabaço


 2013-08-07



sexta-feira, 13 de março de 2015

Não Sei para Onde Fui,

Não sei para onde fui
Porque não sei onde estou
Minh´alma estouvada frui
Num lugar que a encantou

Quem sou, não sei…
Ontem fui rosa encarnada
Hoje marcela alienada
Num campo desflorido, eu sei
Que amanhã será espectro
A nudez que ao meu corpo cobre
Com vestidos de cetim
Esquecendo-se de mim
Me entontece e me deixa pobre

Quem és? Pergunta a Voz
Aquela que me atormenta ao desespero

Então balbucio:
Se quisesse seria uma doce borboleta
Se soubesse queria ser pateta
Porque os patetas são felizes
E o meu coração nunca estaria de luto
Daria frutos e boas raízes…
Andar com pernas trémulas e olhar de cera
Eu não desejo,
Quero antes ser árvore ou poejo
Do que nada me dizerem do que eu era;

Só uma vez contemplei:
Fui cadáver em campo de guerra
Guerreira nascida de salubre terra
Terra fertilizada com o bem-querer
Depois…
Ave com ninho numa nuvem, envolta
De ardentes prazeres, florestas e montanhas
Catedrais de Afrodite…, as estrelas
Que se miram em noites de lua cheia
Nas águas reluzentes dos rios, candeia
Que separa dos amores-perfeitos, os imperfeitos,
Uma flor, e outra flor unidas no júbilo de se Ser
O vento fustigou o ninho num sopro feito
E, uma mão grande e quente me levou.

Ofélia Cabaço
2015-03-13





quinta-feira, 12 de março de 2015

Governo grego

Há por aí uma grande preocupação com a dívida dos gregos. Ontem na  RTP, durante a entrevista ao Dr. António Costa foi realçado por alguém, perentoriamente, que os gregos tinham de pagar a sua dívida.
É de pasmar a preocupação constante numa determinada faixa etária, no que diz respeito ao procedimento do atual governo grego.
Desde remotos tempos, todos aqueles que se destacam pela sua coragem e determinação são caraterizados de “rebeldia” e habitualmente por “irresponsáveis” no ponto de vista de quem não é capaz para tanto, nem tampouco e não, em nada…
Primo Levi disse: “ Aconteceu contra todas as previsões; aconteceu na Europa, incrivelmente, aconteceu que um povo inteiro civilizado, acabado de sair do fervilhante florescimento cultural de Weimar, seguisse um histrião cuja figura hoje provoca riso; e no entanto Adolf Hitler foi OBEDECIDO e GABADO até à catástrofe. Aconteceu, portanto pode acontecer de novo; é este o âmago do que temos para dizer”.
O Povo tem memória curta.
Enquanto na Península tudo se resolvia à cajadada e se vestia tanga, já os Gregos PENSAVAM.
Portugal que é o meu país, ao qual dedico carinho e orgulho, tem sido governado pela arrogância das elites sociais, onde é exercida a lógica do poder e não a lógica ao serviço do povo. O conservadorismo da igreja (com medo que o poder enfraquecesse) sempre foi um aliado ao poder fascista e nesse ponto de vista, o mais importante para o poder é manter o povo ignorante.
Quando nascemos todos temos um gene, (alguns mais especiais que outros), mas, precisamos imprescindivelmente de cultivar aquele gene, a fim de entendermos as coisas e podermos colaborar no crescimento do mundo em que vivemos; sim, porque o mundo é de todos, até dos maus também; para isso, temos que cultivar a criatividade, ter ideias, NÃO TER MEDO, porque nada pior que o medo para dificultar a nossa VONTADE e por consequência a prosperidade nas sociedades.
Quando o homem descobriu que a pedra poderia ser uma boa ferramenta para partir fruta de casca dura, mais propriamente frutos secos, começou a pensar, e desde então as descobertas têm sido imensas; porque o homem pensa, a cultura expande-se e as descobertas sucedem-se…
Mas, atualmente o Homem pensa em acabar com a guerra? Depois de tantas descobertas, esta seria sem dúvida, a grande oportunidade para os povos serem felizes; alguém terá essa capacidade? – Não, enquanto o poder de cada país for acima de tudo GANANCIOSO; à ganância sucede a tirania.
O medo e a ignorância do povo têm sido desde sempre a prioridade dos nossos governantes; dos fracos não reza a história, mas é a história que nos ensina a perceber que a natureza humana não mudou, especialmente quando se entrega o poder aos demagogos aonde a ambição maior, é tão só, PODER.
Rob Riemen disse:  “…a frustração leva ao ressentimento, o ressentimento à violência, e a violência a mais violência”.
Está a acontecer em toda a parte, na Europa e não só.
Valorizar o que está certo é inteligência e é disso que temos carência.
Homenageio o governo grego pela VONTADE que tem em ajudar o seu povo.
Ofélia Cabaço
2015-03-12



terça-feira, 10 de março de 2015

O Mar


Fui ver o mar imenso, tão azul
Brilhante de luzes e cores
Ouvi um rumorejar sensual
Com pasmo, alegria e calma
Molhei meus pés e elevei a alma
 O mar que me conhece!
Ciciou-me queixumes de menino,
Docemente foi e veio, veio e foi…
No horizonte um trigal doirado,
O Sol ruborizado pintava traços
Dum esguio corpo de mulher
Com irisados cabelos doirados
Estendidos na planície ondulante
O mar,
Que se baba a cada instante, vaidoso…
Porque compõe versos com palavras belas;
 O mar que me conhece!
Conta-me histórias de amores, credo
E dor, enquanto as ondas dormem
E minha boca quase roxa sente
Os beijos mudos…
Branca como a alva, triste e calada
Como o rouxinol no inverno,
Despeço-me até que nasça a madrugada
E os dias a correr, sempre os mesmos
Indiferentes à fragilidade dos tempos.

Ofélia Cabaço
2015-03-10



 








segunda-feira, 9 de março de 2015

Memórias

Desde tenra idade,
Sabia que a meu lado estava Deus
Era o Deus desconhecido, poderosa Entidade
Que fazia milagres e me dizia adeus,
Que morava para além do infinito…
Desconhecido, porque o infinito nunca seria finito
E, Ele não aparecia para transformar o degrau maior
Numa casinha com roupas e bonecas;
Na quintinha da bisavó eu colhia malvas
Para o chá do nosso lanche com pão
E araçais… p´ra Ele e p´ra mim,
Flores muitas… eu colhia no jardim,
Com elas fazia uma colorida coroa
Esperava-O com desejo e sonhos
Quimera que se alongava dia adentro
Imutável…e eu, calada e sonhadora
Como eu sabia querer,
Para depois aprender a crer, quando
Um dia me disseram que os Poetas são loucos!
(imaginação não é, não se realiza… diziam),
Hoje, eu sei que a minh´alma Dele provém
Porque eu sou poeta e não me importo de ser louca!
Quando entardecia, recolhia o maior banquete
Arrumava a mantilha nova da avó que fora saia
E enfeitava o degrau maior,
Com a minha boneca sentada, à Sua espera…

Ofélia Cabaço
2015-03-09










quinta-feira, 5 de março de 2015

Duas Rosas

Sobre se era mais formosa
A vermelha ou branca rosa,
Ardeu séculos a guerra
Em Inglaterra.

Paz entre as duas, jamais!
Reinar ambas as rivais,
Também não; e uma ceder
Como há-de ser?

Faltei eu lá na Inglaterra
Para acabar com a guerra.
Ei-las aqui bem iguais,
Mas não rivais.

Atei-as em laço estreito:
Que artista fui, com que jeito!
E oh!, que lindas são, que amores
As minhas flores!

Dirão que é cópia - bem sei:
Que todo inteiro o roubei
Meu pensamento brilhante
Do teu semblante...

Será. Mas se é tão belo
Que lhe dêem esse modelo,
Do meu quadro, na verdade,
Tenho vaidade.

Almeida Garret, in Folhas Caídas




Abnegação

Chovam lírios e rosas no teu colo! 
Chovam hinos de glória na tua alma! 
Hinos de glória e adoração e calma, 
Meu amor, minha pomba e meu consolo! 

Dê-te estrelas o céu, flores o solo, 
Cantos e aroma o ar e sombra a palmar. 
E quando surge a lua e o mar se acalma, 
Sonhos sem fim seu preguiçoso rolo! 

E nem sequer te lembres de que eu choro... 
Esquece até, esquece, que te adoro... 
E ao passares por mim, sem que me olhes, 

Possam das minhas lágrimas cruéis 
Nascer sob os teus pés flores fiéis, 
Que pises distraída ou rindo esfolhes! 

Antero de Quental, in "Sonetos" 


quarta-feira, 4 de março de 2015

Narciso

Sonhar é cheiro de narciso
Na primavera radiosa…

É o canto das aves,
Pura melancolia dum amor a florir…
São as cores que buscam vibrações
É narciso e flor de laranjeira
É aventura feliz num repente….
Abrigo de mel num parapente

É viver e não morrer
É seguir e não parar
É dizer não
E… dizer sim (…)
É desejo d´amor
É ouvir andorinhas a cantar
É sentir a luz do pirilampo
É colher margaridas no campo
É viver e não morrer….
É ser-se suave como as manhãs
É absorver a fragrância das rosas
É ter alma buliçosa
É olhar as lucilantes estrelas
É viver e não morrer
É ter o riso de Voltaire
É não desdenhar da poesia
É ter olhar translúcido…
É viver e não morrer.

Ofélia Cabaço,

2015-0304


segunda-feira, 2 de março de 2015

Festa


No limoeiro as flores são noivas com viço
Estendem-se sobre toalha verde extensiva,
Aroma sublime que eleva os poetas, noviça
A primavera espreita com júbilo, penetrável
Da montanha desce a primavera formidável
Pássaros entoam concertos madrugadores
Não há vento que derrube o seu voo, o seu canto
No esplendor de cada árvore existe um doce pranto
Tambores e alegria despertam os amores - perfeitos
Que nos campos florescem abarcados de lírios
Nas noites, pétalas roxas devaneiam nos rios;

Envoltos de névoa com lágrimas furta- cores,
Emergem frutos, aromas e cores, refeitos
Os pomares etéreos…
Roseirais rubros e doirados laranjais
Emanam ostensivos perfumes ébrios de ardores
Os Poetas entregam suas almas ao alvor, as dores
Anseiam a pureza das coisas…
O limão é feto em flor …a primavera é parteira
Perfeita de todo o imperfeito…
A primavera poetiza o encantamento dos poetas.


Ofélia Cabaço
2013-02-27





Dolorosamente


Caia melancólica a tarde
O sol despedia-se carente de ti,
No teu lugar a sombra de mim
Perguntava-me de onde vim
Havia cheiro a feno, papoilas ondulantes
Lembravam teus lábios…
Mas, e tu? Onde estás?
O milheiral sedento e débil se curvava,
Saudoso de ti,
A pradaria escutava o teu silêncio
As fontes calavam as aves e o rumorejar
Das folhas … a cerejeira quieta exalava de ti
E o cheiro a feno teimava,
Cruel doideira… de oiro a recordação
Do teu e meu coração…
Ah quem me dera ter asas
Procurar-te para além do fim
Doida das doidas de amor
Encontrar-te no tempo findo
Esperar na gélida madrugada
Chamar-te à beira do poço
Ouvir o eco doce da tua voz
Sentir o teu abraço quente e amar-te,
Amar-te intensamente, dolorosamente
Ao cair da tarde…

Ofélia Cabaço 
2014-03-19